A descoberta do saque aos cofres do BANC

A descoberta do saque aos cofres do BANC

No decorrer da actividade, em que participava na qualidade de governador provincial do Cunene, disse que foi interpelado pelo governador do BNA, José de Lima Massano, a respeito do que se estava a passar do BANC.

“Disse-me que quem estava a levar todo dinheiro do banco era um polaco chamado Tomaz [Dowbor]”.

Kundi Paihama não acreditou de imediato que estava a ser traído por José Aires e, contrariamente ao que aconteceu das outras vezes, decidiu investigar sem confrontar o parceiro, tendo optado por fazer algumas diligências para obter mais informações sobre o que se estava realmente a passar.

“Fiquei a saber que um dos condomínios encontrava-se implantado no terreno do senhor [José] Aires”, frisou, sublinhando, por conseguinte, que este era amigo do polaco Tomas. De acordo com a fonte de OPAÍS, o general disse que descobriu que todos os administradores estavam mancomunados.

“Todos eles tinham adquirido casas e os trabalhadores também sem que, no entanto, na qualidade de presidente da Mesa da Assembleia Geral tivesse conhecimento. As casas nos condóminos foram adquiridas com o dinheiro do banco que depois pagariam com os descontos nos seus salários, que foram sobrefacturados”, explicou na altura.

Contudo, o general afirmou que desconhecia quanto custavam as casas nos condomínios. Quanto aos empréstimos, afirmou que não sabe quantas vezes nem a que entidades públicas e privadas foram cedidos créditos. Por outro lado, afirmou que não sabia que o BNA alguma vez ajudou o seu o banco e que a administração recorreu por três vezes a empréstimos do banco central angolano.

Ao descobrir que o BANC estava falido, Kundi Paihama diz que tentou arranjar outros investidores, mas não foi possível por ter sido informado por José de Lima Massano que não tinham dinheiro.

“Tenho informações que o José Aires, [Agostinho Rocha] Rochinha e o [Henrique] Doroteia estão ricos, com muito dinheiro fora do país”, frisou.

20 por cento a Tulumba para tentar salvar o banco

Na esperança de ter maior controlo do banco e ajudá-lo a sair da situação em que se encontrava, tentou introduzir o seu neto Silvestre Tulumba, empresário com créditos firmados, na administração, vendendo-lhe 20 por cento das suas acções.

Esta seria a forma de pagamento de uma dívida que existia entre ambos. Na época, já tinha alguns familiares a trabalharem no banco, mas alegadamente sem acesso à informação sobre o seu funcionamento, designadamente, Elizabete Paihama, Carlota Paihama e Rubem Carvalho.

Disse que algum tempo depois foi surpreendido pelo seu advogado na altura, Rui Machado, com um documento que lhe deu a assinar, alegando esquecimento. Confiante de que não seria traído assinou o documento.

Disse que o aludido documento o veicula, actualmente, a uma divida de 20 milhões de dólares, quando na época visava apenas justificar, caso recebesse alguma auditoria.

Outra revelação feita por Kundi Paihama, que surpreendeu os magistrados do Ministério Público e Judicial, tem a ver com o facto de ele ter declarado que jamais tomou conhecimento do plano de construção da sede do BANC em Talatona. Porém, sabe que o valor da mesma foi sobrefacturado porque custou o triplo do preço.

Oferta de apartamento em Portugal

Para a sua surpresa, depois da construção da sede, José Aires ofereceulhe um apartamento em Portugal. “Pedi então a Elizabete Paihama que fosse a Lisboa ver o apartamento, em uma ocasião que vinha dos EUA.

Assim aconteceu. Nesta altura, apercebi-me que o apartamento foi comprado pelo José Aires”, contou. No entanto, na altura da construção do balcão do BANC no Soyo, no Zaire, foi-lhe dito que o construtor lhe havia oferecido um apartamento. Kundi Paihama afirmou que não conhecia quem era o construtor e não fez muita fé. “Isto não passou de mais uma manobra de diversão de José Aires”, explicou, na época, o malogrado.

Por outro lado, o general referiu na ocasião que a irmã, Carlota Paihama, havia sido assaltada, tendo-lhe sido furtado o computador portátil. Mais tarde, o mesmo apareceu nas mãos do ‘Rochinha’ que alegou ter encontrado na via pública.

“Tomei igualmente conhecimento de que a área financeira do BANC tinha sido assaltada”, disse. O BANC tinha mais de 20 balcões, cinco centros de atendimento a empresas, 155 colaboradores e perto de 15.000 clientes.