Carta do leitor: Saúde e troca de corpos

Carta do leitor: Saúde e troca de corpos

Manuel de Carvalho

Lobito

O Ministério da Saúde fez sair um pedido de desculpas por causa da troca de dois corpos, o que fez com que uma das famílias enterrasse, inicialmente, um cidadão no lugar do seu ente querido. Trata-se de uma iniciativa louvável e merecedora de algum reconhecimento, porque, ao contrário, noutros momentos havia uma cultura neste país em que a culpa acabava sempre por morrer solteira.

No Ministério da Saúde, nos últimos tempos, têm sido frequentes os erros. Não obstante isso, desde os tempos de Gomes Sambo e agora os de Sílvia Lutukuta tem sido usual dar-se a mão à palmatória quando alguns destes erros ocorrem, embora o ideal fosse não se registarem coisas do género, uma vez que as unidades hospitalares devem estar munidas de dados suficientes para que ninguém leve à última morada alguém com quem não tenha tido nenhuma afeição.

Criar condições mais dignas para que o nosso irmão, pai, filho e avó tenha um enterro decente é uma das maiores preocupações que um ser humano, pelo menos nos países mais civilizados, tem para com os seus. E o que se registou, para além de reavivar sentimentos que poderiam começar já a ser enterrados também, eles acabaram por ser ressuscitados, provocando uma série de dissabores para as respectivas famílias.

O que se tem assistido nos últimos dias em algumas partes do mundo, incluindo na maior potência do mundo, os Estados Unidos da América, é que muitos cadáveres têm sido enterrados sem que os seus parentes dêem por eles. Quem diria que um dia fóssemos assistir à abertura de uma vala comum em Nova Iorque? Mas toda esta algazarra está associada à pandemia do momento: a Covid-19.

Não havendo em Angola cifras tão assustadoras em relação às vítimas desta pandemia, não há como se aceitar que se volte a verificar casos do género. A maioria das mortes são de doenças não tão contagiosas como a que estamos a ver noutros países, o que às vezes permite que se manuseie os corpos.

No caso dos mortos por doenças contagiosas, só o facto de os familiares levarem um corpo errado para casa e terem de conviver com ele poderá, igualmente, colocar em perigo a vida de outras pessoas. O pior de tudo é que isso acontece em circunstâncias que são desconhecidas pelos parentes.

Por tudo quanto foi dito, é imperioso que o Ministério da Saúde, do mesmo modo que reconhece o erro, apure responsabilidades para que não se venha a repetir nem se coloque em perigo a saúde e a vida dos angolanos.