Enfermeiros obrigados a fazer trabalho de limpeza no Centro de Saúde Quilemba 

Enfermeiros obrigados a fazer trabalho de limpeza no Centro de Saúde Quilemba 

Cada enfermeiro é obrigado pelas circunstâncias a limpar o sector em que trabalha, facto que tem contribuído para o atraso no atendimento aos pacientes, revelaram ao jornal OPAÍS. 

Os enfermeiros, que falaram sob anonimato, afirmam que, aquando da sua abertura, no ano passado, o Centro de Saúde da Centralidade da Quilemba tinha uma auxiliar de limpeza, na condição de trabalhadora eventual, que acabou sendo dispensada. 

“Nós não temos empregada de limpeza, cada um de nós tem de limpar a sua secção, mas já houve vezes que tivemos de limpar o hospital completo”, frisaram. 

Um dos nossos interlocutores declarou que ainda que surja um paciente cujo estado de saúde careça de intervenção urgente, primeiro limpam a secção e só depois o atendem. 

Segundo os nossos interlocutores, nem sempre a limpeza da unidade sanitária da maior centralidade da província da Huíla é feita com os equipamentos que garantem a segurança dos enfermeiros, em alguns casos colocando em causa a sua integridade. 

Para inverter o quadro, os enfermeiros do referido centro de saúde clamam pela intervenção do Governo da Huíla e do Ministério da Saúde, no sentido de incluir a contratação de pessoal para a área de limpeza no próximo concurso público de admissão de pessoal. 

“Nós queremos pedir ao Governo que nos mande aqui trabalhadores de limpeza, para que possamos unicamente atender os pacientes que buscam os nossos serviços”. 

A par deste problema, os enfermeiros reclamam também da falta de transporte das suas zonas de residência para o local de trabalho, já que nem todas vivem na urbanização da Quilemba. 

Joana Antónia, enfermeira da referida unidade sanitária, explicou que recentemente a ministra da Saúde procedeu à entrega de um autocarro para o transporte dos trabalhadores do centro de saúde, mas o mesmo só funciona com a contribuição financeira dos enfermeiros para a aquisição de combustível. 

Para suportar as despesas neste sentido, cada um contribui mensalmente com 4.000 Kwanzas, pagando quinzenalmente prestações de 2.000 cada. “Antes vínhamos com o transporte público, graças a Deus foi-nos oferecido um autocarro, mas a nossa inquietação é: a ministra deu o autocarro sem se ter verbas para o combustível?” 

Moradores da Quilemba lamentam falta de medicamentos 

Localizado a cerca de 20 quilómetros do município do Lubango, onde se encontra o maior hospital de referência da província, o Centro de Saúde da Centralidade da Quilemba debate-se com a falta de medicamentos. 

Os moradores lamentam que, passado um ano desde que foram aí habitar, ainda continuam a ter de encontrar alternativas para colmatar a falta de fármacos, entre outros materiais, como cartões de grávidas. 

Segundo os nossos interlocutores, a exiguidade de enfermeiros tem causado enormes constrangimentos, sobretudo no que diz respeito ao atendimento aos utentes. 

António Kupira disse que o reduzido número de enfermeiros na única unidade sanitária da Centralidade da Quilemba tem causado vários transtornos, com realce para o tempo de espera para cada paciente. 

“Nós chegamos ao Hospital por volta das 06:00h e talvez só somos atendidos por volta das 10 horas, tudo por falta de mais enfermeiros e médicos. Aqui só tem dois médicos e esse número não chega para dar cobertura”, disse. 

Madalena Chilombo disse que a falta de medicamentos faz com que muitas famílias adquiram medicamentos em locais impróprios, já que não existem farmácias na centralidade. 

“Aqui não tem medicamentos. Sempre que temos consulta nos é passada uma receita e aqui na centralidade não tem sequer uma farmácia. Somos obrigados a comprar o medicamento numa pracinha”, disse. 

Por inexistência de cartões de grávida para as mulheres gestantes que fazem consultas pré-natais, o registo de todas as actividades durante a gestação é feito num papel impróprio. 

Direcção Municipal da Saúde diz ter domínio da situação 

A nossa equipa de reportagem contactou a direcção municipal da Saúde no Lubango, para os devidos esclarecimentos sobre estes e outros problemas que afligem os enfermeiros do Centro de Saúde da Quilemba. 

Judith Santos, directora municipal da Saúde, disse que estes problemas são conjunturais em todo o país e, particularmente, em todo o município do Lubango, que possui mais de 20 unidades sanitárias. Sobre a falta de pessoal de limpeza, informou que há muito que não se realiza concursos de admissão para a área de limpeza, porém, acredita que esta é uma preocupação para a sua direcção. 

No entanto, Judith Santos aponta como solução imediata para o problema que ainda aflige os enfermeiros, a terceirização dos serviços de limpeza das unidades sanitárias, mas o contexto económico nacional não o permite. “Qualquer um de nós tem que fazer a limpeza do local onde trabalha, não importa se é enfermeiro de que nível ou se é técnico de laboratório. É como em nossas casas, se não tivermos empregado de limpeza não limpamos? É esta a razão”, frisou. 

Acrescentou de seguida que “não é o Centro de Saúde da Quilemba, este é só mais um no município do Lubango. Todos eles se deparam com estas situações, a solução passaria pela terceirização dos serviços de higiene”, afirmou. 

Na sequência, Judith Santos informou que dado o momento que o país vive, “não há recursos para este efeito”, no entanto, admitiu que o trabalho de limpeza belisca a actividade dos enfermeiros. 

João Katombela, na Huíla