Revelada “longlist” (muito norte-americana) do Booker Prize 2020

Revelada “longlist” (muito norte-americana) do Booker Prize 2020

Já se conhecem os primeiros nomeados para o Booker Prize de 2020. A longlist do principal prémio de ficção em língua inglesa foi revelada online durante os primeiros minutos desta Terça-feira. A lista inclui Hilary Mantel, apontada como uma das candidatas mais prováveis (a integrar a lista mas também a ganhar o Booker pela terceira vez), mas não o de Ali Smith, outra favorita. O número de escritores britânicos é, este ano, relativamente diminuto são apenas três em 13, Mantel incluída e são muitas as estreias. 

Pelo contrário, os autores de nacionalidade norte-americana estão em grande maioria (nove dos 13 romances seleccionados), o que poderá significar um regresso às vitórias americanas e uma derrota para Mantel e para o volume final da trilogia sobre Thomas Cromwell, The Mirror & The Light. 

Depois de o Booker Prize ter mudado as regras para incluir escritores de língua inglesa outras nacionalidades que tenham obra publicada no Reino Unido, o prémio já foi atribuído duas vezes a norte-americanos a Paul Beatty, por The Sellout, e a George Saunders, por Lincoln in the Bardo, em 2016 e 2017, respectivamente. 

Este rol de vitórias seguidas foi interrompido em 2018 por Anne Burns, autora de The Milkman. Burns foi o primeiro autor da Irlanda do Norte a vencer o galardão de ficção em inglês. No ano passado, o Booker foi pela primeira vez entregue a duas obras em simultâneo, The Testaments, da canadiana Margaret Atwood, e Girl, Woman, Other, da britânica Bernardine Evaristo. 

Uma das surpresas desta longlist é talvez a zimbabueana Tsitsi Dangarembga, que concorre com This Mournable Body, uma sequela do seu romance de 1988, Nervous Conditions, considerado pela BBC um dos 100 livros que mudaram o mundo, que deixou uma forte impressão em todos os jurados. Dangarembga é um dos poucos autores estabelecidos de uma lista composta sobretudo por estreias. 

Muitos estreantes e poucos conhecidos com diferentes vozes e histórias poderosas. 

A lista de 13 candidatos de 2020 destaca-se também pelo elevado número de estreias no mundo literário. É o caso do norte-americano Brandon Taylor e do seu romance Real Life, a história de um homem negro, que é introvertido de Alabama, descrita pelo júri como “um relato profundamente doloroso e detalhado de micro-agressões, abusos, racismo, homofobia, trauma, sofrimento e alienação”. Também Avni Doshi entra para a longlist com uma estreia, Burnt Sugar, sobre as memórias de infância de uma mulher indiana. 

Em comunicado, o director literário da Booker Prize Foundation, Gaby Wood, referiu-se precisamente à predominância dos estreiantes (mais de metade da lista), considerando ser “uma proporção alta pouco comum e especialmente surpreendente para os próprios jurados, que admiraram muitos livros de autores mais estabelecidos e que tiveram de os deixar ir”. 

“É talvez óbvio que histórias poderosas podem surgir de lugares inesperados e sob formas inesperadas; no entanto, esta lista caleidoscópica serve como lembrete”, afirmou. 

Margaret Busby, presidente do júri do Booker Prize 2020, admitiu que cada um dos romances deixou “um impacto” nos jurados “que conquistou um lugar na longlist“, apontando que os livros escolhidos estão atentos à história, têm “personagens memoráveis” e representam “um momento de mudança cultural ou as pressões que um indivíduo enfrenta numa sociedade pré ou pós distópica”.