‘Não quero voar de novo’: sobrevivente ao pior acidente da Índia em 10 anos

‘Não quero voar de novo’: sobrevivente ao pior acidente da Índia em 10 anos

Depois de uma tentativa abortada, a aeronave deu uma guinada e pousou na pista, disse Junaid que, como muitos outros a bordo, trabalhava no Médio Oriente, mas foi forçado a voltar para casa, após o salário cair pela metade por causa da pandemia de Covid-19.

 Em vez de desacelerar, disse Junaid, o Boeing-737 pareceu ganhar velocidade, ultrapassando a pista escorregadia por causa de fortes chuvas, e caiu num a inclinação acentuada e se partiu em dois. “Todas essas coisas aconteceram em 15 segundos”, disse ele à Reuters, por telefone, no Sábado.

Dezoito dos 190 passageiros e tripulantes, incluindo os dois pilotos, morreram, disseram as autoridades no Sábado, no pior acidente de avião de passageiros da Índia desde 2010. Dezesseis pessoas ficaram gravemente feridas.

Mas Junaid e vários outros passageiros, sentados na parte de trás da aeronave, saíram dos destroços no Aeroporto Internacional de Calicut, perto de Kozhikode, quase ilesos. Por volta da meia-noite, disse Junaid, ele voltou para casa em Elathur, a uma hora do aeroporto.

Apenas a cabeça estava dorida de bater no tecto e os lábios sangraram um pouco depois de os morder. “Nada aconteceu comigo, graças a Deus”, disse ele.

ESCAPANDODEUMA PANDEMIA

Junaid, 25, mudou-se para o Dubai, há três anos, para trabalhar como contador numa firma comercial. Único ganha-pão da sua família de quatro membros, ele mandava para casa cerca de metade dos USD 1.000 que ganhava por mês, disse ele. Mas depois que a pandemia se espalhou este ano, os negócios da empresa colapsaram e ele recebeu apenas metade do salário em Maio.

“O meu chefe disse-me para tirar dois ou três meses de licença e voltar quando tudo estiver bem”, disse ele. Encontrar um caminho de volta para casa não foi fácil, porque a Índia havia fechado as fronteiras internacionais em Março.

 Junaid disse que inscreveu-se no programa de vôos de repatriamento do governo indiano em Maio, mas não obteve resposta por dois meses. No dia 1º de Agosto, foi informado de que haveria vôos entre Dubai e o Estado de Kerala, onde Kozhikode está localizado, durante um período de duas semanas. Ele pagou muito dinheiro pelo vôo de Sexta-feira.

 “Eu estava de volta para a Índia depois de quase dois anos, então estava muito animado para rever a minha família e todos”, disse ele.

TRIPULAÇÃO DE CABINE

Alguns assentos à frente de Junaid, Muhammad Shafaf, de 28 anos, também voltava do Dubai para casa, depois de passar sete meses à procura de emprego sem sucesso. Quando a aeronave saiu da pista e despencou de uma colina, Shafaf disse que pensou que era o fim, temendo que um incêndio eclodisse e o engolisse.

“A tripulação de cabine nos garantiu que não havia necessidade de nos preocuparmos com um incêndio. Ela disse que o motor estava desligado ”, contou Shafaf, que sofreu apenas hematomas no nariz e nos pés. Enquanto estava sentado atordoado perto da cauda da aeronave destroçada, Junaid também disse que se lembrava da tripulação de cabine a acalmar os passageiros e ajudando aqueles que estavam bloqueados entre os assentos destroçados.

Após uma espera de 45 minutos, durante a qual funcionários de emergência ajudaram os passageiros a saírem dos destroços da frente do avião, Junaid e os demais na parte de trás foram ajudados a descer. Agora a descansar em casa e a aguardar um teste de coronavírus, Junaid disse que quer ficar longe de aviões. “Estou com muito medo”, disse ele. “Não quero voar de novo.”