E assim… Brincar de barão

Ainda me lembro do dia em que entramos em plena cadeia de São Paulo, em Luanda, para entrevistar um dos detidos que atendia pelo nome ‘Da Silva’. O nome pode não dizer muita coisa até para os mais atentos.

Mas, um recuo no tempo poderá reavivar a memória dos luandenses interessados em boas estórias, incluindo aquelas de embalar o ceguinho. Um empresário na zona do Anangola teve o azar de encontrar num contentor, que esperava conter somente material escolar, enormes quantidades de cocaína.

 O bom cidadão cuidou de avisar a Polícia Nacional, na época os efectivos da então Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), para que removesse o produto suspeito. A operação foi feita num trajecto de menos de três quilómetros, até ao edifício da então Direcção Nacional de Investigação Criminal.

E foi durante a viagem que sumiram 12 quilos de cocaína. E o Da Silva, o nosso entrevistado, foi um dos que acabou na cadeira e jurava a sua inocência. Apesar de ter havido algumas detenções, pouco se soube em relação ao destino dado ao produto.

Não fosse as dificuldades daquela fase, talvez tivéssemos vendido os direitos para que se produzisse uma curtametragem em Hollywood. Recentemente, numa operação no Porto de Luanda, procedeu-se à apreensão de mais de 400 quilos de cocaína.

Uma quantidade digna de criar inveja às maiores corporações de combate à droga e que merecia ser coroada com a exibição dos donos da mercadoria. O que não aconteceu. Foi depois desta grande apreensão que se avolumou a expectativa em relação à existência de um poderosíssimo barão da droga em Angola.

E tinha ficado a promessa de que a rede seria apresentada brevemente, isto há nove meses, e com eles o líder do grupo. Por incrível que pareça, ontem parece ter encerrado parte de um processo cujo título tem sido ‘barão da droga’. Em causa estão 200 gramas do produto, uma quantidade tão pesada para o título que se pretende atribuir ao agora condenado, de quem não se conseguiu sequer provar uma ligação de associação criminosa, e capaz de enfurecer os verdadeiros.

 É que quando se lêem histórias como as de El Chapo, no México, Pablo Escobar, na Colômbia, ou Marcola, Fernandinho Beira-Mar e outros, no Brasil, acabaremos por concluir que alguma coisa não bate certo. Se bate, então que respeitem o título nobiliárquico e atribuam a alguém que seja digno do mesmo.

É possível que a esta hora alguém esteja a sorrir e a perguntar se já embalamos com essa das 200 gramas servirem para coroar um barão de verdade.

 

Dani Costa