Juízo final

Seja qual for o desfecho, hoje, do caso 500 milhões de dólares, em que são acusados o antigo presidente do Fundo Soberano, José Filomeno dos Santos ‘Zenu’; o ex-governador do Banco Nacional de Angola, Walter Filipe; o responsável da Mais Financial, Jorge Gaudens Pontes e outros implicados a Justiça no país deverá sentir um ‘abanão’. Desde muito cedo que vários sectores têm procurado hastear a bandeira da perseguição política em relação ao julgamento do filho do então Presidente José Eduardo dos Santos.

Os paladinos de tal argumento ainda o fazem até hoje por acreditarem que sobre o antigo responsável do Fundo Soberano não pende qualquer suspeita, sendo a única certeza que esteja a pagar por ser filho de quem é, embora as acusações sejam de crimes de tráfico de influência, branqueamento de capitais e burla por defraudação. Foram as acusações feitas que levaram o Ministério Público a solicitar ao Tribunal penas não inferiores a sete anos de prisão para os réus, a julgar pela gravidade das acusações. E mesmo que se venha a absolver o trio ‘Zenu’ dos Santos, Walter Filipe e Jorge Gaudens, as envolventes desta intrincada operação de 500 milhões de dólares exige uma nova maneira de abordagem dos nossos processos internos.

O grande dilema dos países africanos tem sido o demérito de determinadas nomeações, o que desde sempre levanta suspeitas de que muitas têm sido carimbadas pelos laços de consanguinidade, amizade e até mesmo compadrio. A forma como se narrou os contornos deste caso não deixou dúvidas. É inconcebível que ‘Zenu’ e Pontes se tenham encontrado algures e este último entrega um documento para que o primeiro fizesse chegar ao Presidente da República, esquivando os canais oficiais, como se um negócio de 30 mil milhões de dólares não devesse obedecer aos procedimentos mais básicos. Mais adiante ficou-se, igualmente, a saber que o sindicato de bancos que iria financiar tal montante nunca existiu e a empresa intermediária, que recebeu os 500 milhões de dólares para garantir o empréstimo, estava vocacionada para serviços de recolha de resíduos sólidos. Até o próprio Credit Suisse, uma instituição idónea, terá desmentido o seu envolvido em tal negociação. Seja qual for a decisão do tribunal, cada um dos angolanos terá também a sua. A forma como o negócio se desenvolveu permite adivinhar o curso que uma Justiça séria tomaria.