Professora morre de Covid-19 depois de entrar em contacto com colegas

Professora morre de Covid-19 depois de entrar em contacto com colegas

A professora realizou trabalhos no Instituto Politécnico de Administração e Serviços até ao dia 24 do mês de Julho, período em que terá entrado em contacto com membros da direcção e os demais funcionários. Segundo Zacarias Jeremias, membro da direcção do SINPTENU, a docente viria a falecer três dias depois, isto é, no dia 27 do mesmo mês, diagnosticada com a Covid-19. Fruto disso, a direcção do sindicato solicitou que fossem testados todos os professores e trabalhadores não docentes, contactos directos da malograda, sendo que os resultados deram todos negativos. De seguida, o SINPTENU solicitou que fossem parados todos os trabalhos na referida instituição e se fizesse uma desinfestação, o que apenas veio a acontecer 15 dias depois. “Repare que a nossa colega morreu no dia 27 de Julho e a escola só foi desenfestada no dia 10 de Agosto.

Enquanto isso, alguns colegas foram aparecendo para cumprir a circular do Ministério”, disse. O sindicalista questiona as motivações que levaram a direcção do referido instituto a convocar a professora para fazer trabalhos administrativos, numa altura em que ainda não tinha sido exarada a directiva ministerial que orienta os professores a comparecerem nas escolas. “O que levou a direcção a obrigar a professora a ir trabalhar se não havia nenhuma orientação… Não se sabe onde ela apanhou a Covid, mas poderia contaminar outros colegas”. Zacarias Jeremias disse que fruto da denúncia, o secretário provincial de Luanda do SINPTENU, João Cabingano Pedro, está a ser vítima de ameaças por parte da direcção da escola. O sindicalista avançou que poderão solicitar um encontro com o Ministério da Educação pelo facto das alegadas intimidações serem uma atitude que pode retrair futuras denúncias importantes para salvar a vida das pessoas.

Medida desajustada à realidade

A circular n°26/2020 de 28 de Julho do Ministério da Educação impõe a obrigatoriedade dos professores marcarem presença nas escolas para organizar os processos individuais dos alunos e não só.O documento, assinado pela ministra Luísa Grilo, orienta ainda os docentes a organizar e classificar os arquivos, livros, bibliotecas e redimensionar a carga horária. Consta ainda das obrigações, a elaboração de cartazes publicitários sobre a pandemia da Covid- 19 e as medidas de biossegurança, organizar as salas de aulas e preparar tarefas semanais para pôr à disposição dos alunos. O SINPTENU considera desajustada à realidade as medidas constantes no documento, porquanto as escolas não oferecem condições mínimas para a protecção dos próprios professores.

“As nossas escolas não estação em condições de receber tanto alunos como professores. Algumas nem água e sabão para lavar as mãos têm. Se para desinfestar uma escola levam 15 dias o que seria com o retorno das aulas onde as salas têm que ser desinfestadas todos os dias”, questiona. Zacarias Jeremias diz, por outro lado, que não há trabalhos nas escolas e que se pretende apenas ocupar os professores desnecessariamente, expondo-os sob o risco de contrair a Covid-19. “Eu estive na minha escola hoje para cumprir a circular e a única coisa que fiz foi assinar a minha presença, cumprimentar os colegas e fui embora porque, efectivamente, não existe trabalho. Os directores tentam criar dinâmicas para ocupar os professores, mas na verdade não existe nada”, conclui.

Administração de Viana confirma morte da professora

Contactado pelo jornal OPAÍS, o director do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa (GCII) da Administração Municipal de Viana, António Miguel, confirmou que a morte da professora Yolanda Paxe está associada à Covid-19. Contrariamente à data avançada pelo SINPTENU, António Miguel disse que a funcionária do Ministério da Educação morreu no dia 26 de Julho, mas não confirmou nem negou o dia em que a escola foi desinfestada. Questionado por que razão a professora foi chamada a trabalhar quando ainda não havia a circular, o responsável respondeu que “geralmente quando as pessoas morrem procura-se sempre muitos porquês e muitos culpados e na Covid o mais importante é as pessoas prevenirem-se”. Acrescentou que muito antes da circular já existia a orientação dos trabalhadores administrativos aparecerem nos locais de trabalho, na ordem dos 50%. Entretanto, não precispou por que razão ao certo a malograda se encontrava na escola naquele período. António Miguel disse que a escola já está em funcionamento depois de terem sido testados os professores e desinfestados os diversos compartimentos.