Comunicação em saúde: Para quê?

Comunicação em saúde: Para quê?

Antes de mais, recordar que a palavra “comunicação”, de origem latina “communicare”, significa “pôr em comum”, “associar”, “estabelecer laços”. A mesma pode ser verbal e não-verbal. Uma das melhores maneiras de entender o processo de comunicação consiste em prestar atenção aos seus princípios ou tendências, designados actualmente por leis da comunicação, nomeadamente:

• A comunicação é um processo de dois sentidos;

• O emissor deve ser coerente com a mensagem a transmitir;

• A mensagem recebida pelo receptor “pode” nunca ser igual à enviada;

• Pode-se comunicar de forma inconsciente, pois ela pode ser através da linguagem gestual e corporal;

• Quanto mais simples for a mensagem, cumprindo a regra dos 3 Cs (Clara, Correcta e Concisa), mais fácil será a sua compreensão e memorização. Durante o processo de comunicação podemos encontrar as denominadas barreiras à comunicação eficaz, que se repercutem em mal-entendidos e perdas de tempo, com destaque para as internas (subjectivas e objectivas).

As subjectivas acontecem durante os processos de (de)codificação da mensagem, podendo situar-se ao nível do emissor: quando este não assimilou os conteúdos que deve transmitir, devido à má percepção das motivações do receptor ou pela incapacidade de colocar-se no lugar do receptor.

A nível do receptor: falta de interesse em captar a mensagem, antecipação da resposta, por não saber escutar activamente, preconceitos em relação ao emissor, com hipóteses de (des)valorização da imagem do emissor e da mensagem recebida.

As objectivas são constituídas pelas limitações presentes nos símbolos com que comunicamos, visto que estes podem possuir significados diferentes: não adequação da linguagem aos papéis sociais, conotações não entendidas à luz do grupo social de que o indivíduo pertence, não correspondência da linguagem verbal à linguagem não-verbal.

Quanto às barreiras externas: elas são os ruídos ou barulhos, no exterior, conversas de terceiros, desproporção do volume de informação em relação aos meios de comunicação, avarias ou deficiências nos meios escolhidos para enviar mensagem.

O que é a comunicação em saúde? Refere-se ao estudo e a utilização de estratégias e meios de comunicação para informar, formar e influenciar as decisões dos gestores, profissionais, utentes, familiares e as comunidades, no sentido de promoverem a saúde. O conceito reúne todas as áreas nas quais a comunicação é relevante em saúde, desde a promoção, educação, prevenção até a recomendação de mudanças de comportamentos.

A comunicação é um tema transversal em saúde e relevante em diversos contextos, na relação entre os profissionais de saúde utentes e familiares e dos serviços de saúde, na disponibilização e uso de informação sobre saúde, nos diferentes meios sociais de forma a contribuir para a promoção de comportamentos saudáveis, no tratamento dos temas de saúde junto dos meios de comunicação social e não só, com a finalidade de melhorar o acesso aos serviços de saúde, na comunicação interna das organizações de saúde e afins.

Qual é a importância da comunicação em saúde? A importância da comunicação em saúde acenta em três pilares fundamentais, devido ao seu carácter transversal: a várias áreas e contextos de saúde, quer nos serviços de saúde quer na comunidade; central: na relação que os profissionais de saúde estabelecem com os utentes, familiares e a comunidade, no âmbito da prestação dos cuidados de saúde e o estratégico: relacionado com a satisfação dos utentes, familiares e da comunidade.

Os processos de comunicação em saúde têm importância crítica e estratégica, por influenciarem significativamente na avaliação que os seus intervenientes fazem sobre a qualidade dos cuidados de saúde, a adaptação psicológica à doença e os comportamentos de adesão médica e medicamentosa.

A avaliação feita sobre a qualidade dos cuidados de saúde prestados pelos profissionais da área, em grande parte, é a partir da avaliação feita sobre as comunicações dos intervenientes com os quais interagiram (do porteiro ao médico assistente, passando por todos os outros profissionais).

Nota-se que o controlo do stresse ligado ao adoecer também pode ser influenciado positivamente por uma boa comunicação ou pela transmissão de informação adequada (formatada ou personalizada) às necessidades do utente e familiares durante naquele momento, o que influencia o modo como se vai confrontar com os sintomas da doença e na forma como se vai relacionar com os profissionais de saúde.

A comunicação efectiva em saúde tem uma influência importante a nível individual e a nível comunitário. No primeiro caso, ajuda a tomar consciência sobre as ameaças à saúde, reforça atitudes favoráveis aos comportamentos protectores da saúde e muito mais. Ao nível da comunidade, pode promover mudanças positivas nos ambientes socioeconómicos e físicos, melhorar a acessibilidade aos serviços de saúde e facilitar a adopção de normas que contribuam à saúde e à qualidade de vida.

Resumidamente, os processos de informação e comunicação em saúde podem influenciar os resultados da actividade dos profissionais em termos de ganhos no sector da saúde, no que se refere à morbilidade, bem-estar psicológico e na qualidade de vida dos utentes. São excelentes barómetros da qualidade dos cuidados e das competências dos profissionais de saúde.

É preciso que, neste tempo de luta contra a COVID-19, os profissionais da saúde entendam cada vez mais sobre a importância de uma comunicação eficaz, capaz de contribuir para a prevenção e adopção de medidas preventivas contra esta pandemia.

Filomeno Pascoal