África está livre do póliovírus selvagem

África está livre do póliovírus selvagem

Quarenta anos depois de ser eliminado, em todo o continente, o vírus da varíola, a Comissão Regional Africana para a Certificação da Erradicação da Poliomielite (ARCC), um órgão independente responsável pelo seguimento e supervisão do processo de certificação no continente, anuncia que a região cumpriu com sucesso os critérios de certificação da erradicação do poliovírus selvagem, não tendo sido notificado nenhum caso do vírus há quatro anos.

A informação foi avançada, ontem, por meio de um comunicado, pela presidente da comissão, Rose Gana Fomban Leke. Esta conclusão surge após um processo exaustivo de documentação e análise da vigilância e vacinação da poliomielite que dura há várias décadas, assim como da capacidade laboratorial dos 47 Estados-Membros da Região, que incluía a realização de visitas de verificação no terreno em cada país.

Em 1996, os chefes de Estado africanos comprometeram-se a erradicar a poliomielite durante a 32ª sessão ordinária da Organização da União Africana, em Yaoundé, nos Camarões. Na altura, estimava- se que a poliomielite estava a paralisar cerca de 75 000 crianças por ano no continente africano.

Desde 1996, os esforços de erradicação da poliomielite permitiram evitar que 1,8 milhões de crianças sofressem de uma paralisia debilitante irreversível e salvar cerca de 180 000 mil vidas. O último caso de poliovírus selvagem na Região foi detectado em 2016, na Nigéria.

“Este é um marco memorável para a África. As futuras gerações de crianças africanas podem agora viver sem medo de contraírem o poliovírus selvagem,” disse,Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para a África. “Este feito histórico apenas foi possível graças à liderança e compromisso dos governos, das comunidades, dos parceiros mundiais de erradicação da poliomielite e dos filantropos. Presto uma homenagem especial aos profissionais de saúde e aos vacinadores na linha da frente, alguns dos quais perderam a vida por esta nobre causa”, reforçou.

Aumentar a vigilância

Segundo aquele responsável, devemos nos manter vigilantes e manter as taxas de vacinação, de modo a evitar um reaparecimento do poliovírus selvagem, e enfrentar a ameaça contínua da poliomielite derivada da vacina.

Embora a erradicação do poliovírus selvagem da Região Africana da OMS seja um grande feito, 16 países na Região estão actualmente a enfrentar surtos de poliovírus circulantes derivados da vacina de tipo 2 (cVDPV2), que podem ocorrer em comunidades com níveis baixos de vacinação.

“A África já demonstrou que, apesar de possuir sistemas de saúde fracos e enfrentar desafios logísticos e operacionais significativos em todo o continente, os países africanos colaboraram de forma bastante eficaz na erradicação do poliovírus selvagem”, disse Pascal Mkanda, coordenador do Programa de Erradicação da Poliomielite da OMS na Região Africana.

“Com as inovações e as competências que o programa de erradicação da poliomielite criou, tenho plena confiança de que podemos manter os ganhos após a certificação e eliminar o cVDPV2,” acrescentou.

Graças à dedicação da Iniciativa Mundial de Erradicação da Poliomielite (GPEI), os casos de poliomielite reduziram 99,9% desde 1988, fazendo com que o mundo esteja mais perto do que nunca de acabar com a poliomielite.

A iniciativa é uma parceria mundial público-privada composta por governos nacionais; OMS; Rotary Internacional; Centros de Prevenção e Controlo de Doenças dos Estados Unidos; UNICEF; Fundação Bill e Melinda Gates; GAVI, Aliança para as Vacinas; e um vasto conjunto de apoiantes de longa data.

Sobre o poliovírus

A poliomielite é uma doença viral transmitida entre pessoas, principalmente através da via fecaloral ou, menos frequentemente, de água ou alimentos contaminados, e multiplica-se nos intestinos. Embora não exista uma cura para a poliomielite, a doença pode ser prevenida através da administração de uma vacina simples e eficaz. Por isso, estão a ser envidados esforços em todos os países para aumentar rapidamente os níveis de imunidade nas crianças, protegendo- as da paralisia resultante da poliomielite.

Embora raros, podem ocorrer casos de poliovírus derivado da vacina quando o vírus vivo enfraquecido na vacina oral contra a poliomielite circula entre populações com níveis baixos de vacinação e, ao longo do tempo, modifica-se para uma forma que pode causar paralisia. Se uma população for imunizada de forma adequada com vacinas contra a poliomielite, estará protegida tanto do poliovírus selvagem como dos poliovírus circulantes derivados da vacina.

Os 16 países em África que estão actualmente afectados por surtos de poliovírus circulantes derivados da vacina incluem: Angola, Benim, Burquina Faso, Camarões, Chade, Côte d’Ivoire, Etiópia, Gana, Guiné, Mali, Níger, Nigéria, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Togo e Zâmbia.