Reforma maldita

Holden Roberto não deve estar descansado na sua tumba em Mbanza Kongo, no cemitério dos Reis. Mesmo que quisesse, os ‘imortais’ que deixou em vida não o permitem porque nem com a sua partida a paz reina entre os irmãos.

Durante anos, o Velho foi combatido por irmãos do mesmo partido por culpa de uma suposta necessidade de rejuvenescimento da própria organização. Naquilo que ficou conhecido como ‘reformas’, um projecto que teve como líder o actual presidente Lucas Benguy Ngonda.

Quem assistiu o congresso da reconciliação, realizado na Filda, em Luanda, sentiu o semblante carregado de Roberto que não quis que o seu partido caísse em mãos que não pudessem melhorar a sua prestação na praça política angolana. Pensa que se isso acontecesse, então o único destino da FNLA poderia ser mesmo a extinção.

De um partido histórico que não soube cimentar as posições e o prestígio que gozava na fase de luta colonial, a FNLA está hoje feita uma espécie de múmia. Uma organização quase sem futuro, sem probabilidades de resistir aos desafios eleitorais que se avizinham.

No Parlamento está reduzido a um único mandato. É ocupado pelo próprio cabeça de lista e líder que enfrenta uma resistência sem precedentes. Tudo indica que poderá acabar o reinado sozinho. Talvez sem eira nem beira. Todos os que o acompanhavam no sonho reformista acabaram por virar-lhe as costas. Já ninguém vê Laiz Eduardo, Paulo Jacinto, Pinto e outros.

O vigor com que defendia as reformas está mais próximo de uma eternização. Quase que já ninguém se lembra dos acordos da Pensão Invicta, mediados por William Tonet, Reverendo Ntoni Nzinga e outros, nem mesmo os passos subsequentes. Um reformista deve ser alguém que olhe para frente e permita que o partido ou outra organização em que esteja envolvido se reforme e evolua.

A FNLA chega a ser um assunto que já cansa, distante da percepção humana, de tão longo que dura o conflito. Nos bairros diriam que ‘isso já cheira a alho’. E os últimos acontecimentos levam a concluir que o maior problema terá sido as próprias reformas em mãos erradas.

Os sinais que nos são emitidos levarão, qualquer dia destes, a concluir que o problema poderia não ser Holden Roberto, que a solução natural cuidou tempos depois, mas quem terá vendido um sonho que nunca seria concretizado.