E assim…Nem tudo é lixo

Há poucos dias sentei-me com a jovem engenheira Fernanda Renné. Não é um nome desconhecido entre nós. Venceu um prémio na União Africana, merecendo atenção da média mundial. Ela sonha um dia dirigir o município do Lobito como autarca, tão logo sejam convocadas as eleições autárquicas. Renné é também um dos rostos da Otchiva, a organização que se tem marcado pela reflorestação dos mangais. As plantas são visíveis com o regresso de flamingos em determinados pontos. Renné é, igualmente, uma das mentoras do projecto que nesta fase da Covid-19 tem distribuído sabão e álcool em gel para os cidadãos mais necessitados. O desejo é chegar às 70 mil barras de sabão, um objectivo que será alcançado já nos próximos dias. A última conversa que tive com a jovem ambientalista foi em torno de um projecto de reciclagem que deve ser instalado no país. Soluções simples que iriam transformar vidas, com a instalação de pontos de transferência de objectos em plástico, vidro, ferro e outros. Não sei a quem interessa perpetuar muitas práticas que, nos nossos dias, fracassaram. Há pouco tempo ventilouse a possibilidade de se instalar um novo aterro sanitário em Luanda, assim como noutras províncias. Os aterros continuam a ser uma solução temporária, além de ser demasiado poluente para o solo. Evita-se a todo o custo partir para soluções viáveis que iriam revolucionar o mercado da reciclagem daquilo que apenas os engravatados consideram ser lixo. Felizmente, aquilo que não tem valor é meio de sustento de muitos. É só ver a quantidade de senhoras que vendem garrafas em Cacuaco. Os jovens que catam latas de refrigerantes ou cerveja. Os que fazem do ferro matéria-prima para sucatas. Ou ainda os objectos de plástico que servem para algumas indústrias. Países há em que o lixo até é fonte de produção de energia para as suas cidades. Entre nós, o lixo ainda é visto como um autêntico problema, muito por conta da inexistência de soluções inovadoras. No Cunene, a governadora Gerdina Didalelwa quer que os empresários estabelecidos na capital Ondjiva se envolvam ou cedam meios para a recolha de lixo. Se tivéssemos idealizado soluções sustentáveis, talvez até os resíduos sumissem por serem matéria-prima que iriam gerar empregos e, consequentemente, riqueza, sem estarmos de mãos estendidas à caridade.