A família do herói do ‘Hotel Ruanda’ acusa governo de sequestrá-lo

A família do herói do ‘Hotel Ruanda’ acusa governo de sequestrá-lo

A família de Paul Rusesabagina – aclamado como herói num filme de Hollywood sobre o genocídio do Ruanda em 1994 – acusa as autoridades de Kigali de o terem sequestrado, reagindo um dia depois de ele ter desfilado diante da mídia algemado. Rusesabagina foi interpretado por Don Cheadle no filme indicado ao Oscar ‘Hotel Rwanda’, que conta como o gerente do hotel, Rusesabagina, usou o seu trabalho e conexões com a elite hutu para proteger os tutsis que fugiam do massacre. A Polícia do Ruanda disse que Rusesabagina – que pediu resistência armada ao governo – foi preso por acusações de terrorismo num mandado de prisão internacional.

A sua família rebate isso. “Ele foi sequestrado e levado de forma extraordinária para o Ruanda”, postou a sua filha Carine Kanimba, no Facebook. O porta-voz do Rwanda Investigation Bureau não respondeu a um pedido de comentário. Os ministros da Justiça e Relações Exteriores não responderam às mensagens com comentários. Outra filha, Anaise, disse à rádio BBC World Service que o seu pai havia telefonado para eles na Quinta-feira a partir do Dubai. “Acredito que ele foi sequestrado, porque nunca iria para o Ruanda por vontade própria”, disse Anaise à BBC.

Rusesabagina mudou-se para o exterior após o genocídio e ganhou aclamação mundial, recebendo o maior prémio civil dos Estados Unidos, a Medalha Presidencial da Liberdade, em 2005. Mas alguns sobreviventes do genocídio e o presidente Paul Kagame contestaram o relato de Rusesabagina de resgatar tutsis ou o acusaram de explorar o genocídio para ganho comercial. Rusesabagina, cujo pai era hutu, mas mãe e esposa eram tutsis, negou ter exagerado no seu papel.

Chamadas

Para luta armada Cidadão belga que reside nos Estados Unidos, Rusesabagina convocou uma rebelião armada contra Kagame, que chegou ao poder, em1994, quando liderou tropas no Ruanda para acabar com o genocídio. Em Dezembro de 2018, Rusesabagina postou um vídeo no Youtube a denunciar Kagame e convocando a luta armada. O vídeo identificou-o como o presidente do Mouvement Rwandais pour le Changement Démocratique e das Forças de Libertação Nacional, que têm sido associadas a ataques no Ruanda. “Chegou a hora de usarmos todos os meios possíveis para trazer mudanças ao Ruanda, já que todos os meios políticos foram tentados e falharam”, disse ele. “O povo ruandês não aguenta mais a crueldade.”

A estabilização do Ruanda por Kagame, as reformas económicas e a campanha anti-corrupção ganharam aplausos internacionais – mas Rusesabagina diz que Kagame mantém o poder reprimindo a mídia e a oposição, acusações que o governo nega. A Human Rights Watch disse, em 2017, que o governo torturou presos rotineiramente – acusações que o governo nega. Uma delegação das Nações Unidas que investigava as acusações foi forçada a deixar o Ruanda, alegando interferência do governo. Kagame ganhou quase 99% dos votos nas últimas eleições; uma das suas principais oponentes, Diane Rwigara, foi presa com a sua mãe por mais de um ano por acusações que os juízes posteriormente indeferiram.