A realizadora angolana Kamy Lara conquistou, recentemente, o terceiro lugar no pódio da 22ª edição do Festival Internacional de Documentário da África do Sul, que distingue o melhor filme realizado por uma mulher africana. Uma iniciativa da Fundação Ladima em parceria com o festival, o prémio tem como objectivo reconhecer e incentivar mulheres africanas a contarem as suas histórias através do documentário.
Em entrevista ao jornal OPAÍS, Kamy contou que foi com muita alegria que recebeu a notícia de que o filme tinha sido seleccionado para o referido evento. “No ano passado, a Paula Agostinho (co-realizadora e produtora do filme) e eu, tivemos a oportunidade de estar na 21ª edição do mesmo festival enquanto fazíamos a finalização do documentário “Para Lá dos Meus Passos” em Cape Town, África do Sul. Mal sabíamos que um ano depois o nosso filme seria um dos seleccionados. Por isso, foi ainda mais simbólico”, partilhou.
Este ano, por causa da pandemia, o festival aconteceu apenas em formato online, o que por um lado possibilitou que mais pessoas tivessem acesso aos filmes, mas, por outro, retirou às realizadoras a possibilidade de estar no festival e poder trocar ideias com outros realizadores e produtores.
Quanto à terceira posição, disse ser um lugar que lhe deixa muito orgulhosa e que recebe como forma de reconhecimento por todo o trabalho que desenvolveu para o filme, sob a forma de incentivo com a finalidade de continuar a trabalhar e a contar histórias através da sua lente. Assim, na primeira posição do concurso ficou a etíope Tamara Mariam com o documentário “Finding Sally” e na segunda a sul-africana Sara Christina Ferreira de Gouveia, realizadora de “Mother to Mother’”.
Filme retrata a dança Adiante, “Para Lá dos Meus Passos”, produzido pela Geração 80, com a Companhia de Dança Contemporânea de Angola – CDCA, o documentário foi realizado por Kamy Lara e produzido e co-realizado por Paula Agostinho. Com duração de 72 minutos, a película usa o espectáculo como ponto de partida para acompanhar a reflexão dos bailarinos sobre os temas explorados ao longo da peça: as suas origens, as suas tradições, a perda de identidade e a construção de uma nova, imposta pelo tempo e pela mudança de uma zona rural para uma Luanda urbana.
“Uma história semelhante para tantos angolanos e angolanas”, lê-se. Durante a criação da peça “ (Des) Construção” da coreógrafa Mónica Anapaz para a temporada de 2017 da Companhia de Dança Contemporânea de Angola, cinco bailarinos exploram os conceitos de tradição, cultura, memória, identidade, questionando a transformação e a desconstrução destes temas nas suas próprias vidas. A maioria deles – provenientes de outras províncias do país – traz consigo memórias e tradições ao se mudar para a movimentada, errática e frenética realidade da capital.
Outrossim, Kamy continua expectante com os próximos passos que o filme dará, tendo revelado que a próxima paragem confirmada será em São Francisco (EUA) no 11ª edição do San Francisco Dance Film Festival que acontecerá também em formato online, durante o mês de Outubro.
Percurso
Kamy Lara nasce na década de 80, com uma Angola já independente. Foi em Luanda onde passou a sua infância e adolescência. Aos 18 anos muda-se para Lisboa para frequentar o Curso Superior de Audiovisual e Multimédia com uma especialização em Câmara e Iluminação. Assume, em 2010, a função de assistente de câmara na longa-metragem “A Espada e a Rosa” de João Nicolau, bem como na série francesa “Maison Close” de Mabrouk El Mechri. Em 2010 regressa a Angola e integra a Geração 80 no projecto “Angola – Nos Trilhos da Independência”, que resulta no lançamento do documentário Independência em 2015, desempenhando as funções de Directora de Fotografia, Assistente de Realização e membro da equipa de edição.