Bonga recorda êxitos em show de aniversário

Bonga recorda êxitos em show de aniversário

Com um guião repleto de grandes temas de sucesso e pouco mais de duas horas de espectáculo, Bonga Kwenda, que entrou em palco ao ritmo da música folclórica angolana sob responsabilidade do grupo tradicional Jovens do Hungo, cedo mostrou que a idade não é razão impeditiva para “gingar” em palco e relembrar os tempos de mocidade.

Sem travão e sem meias medidas, como que a querer dizer que quando mais velho está mais jovem continua, o artista, sempre com o seu instrumento (dikanza) predilecto em mão, “soltou asas” e “voou” em palco, em tom de aviso para uma noite memorável para os convidados que assistiram ao vivo e para os milhares de fãs espalhados pelo mundo que acompanharam via TPA 1 e nas redes sociais, por via da transmissão da PlatineLine.

Sempre ao seu jeito e em troca constante de conversa com a plateia, proporcionou, durante a sua actuação, uma verdadeira lição do bem cantar, provocando entre os presentes lágrimas de nostalgia. E, com uma “Lágrima no canto do olho”, aproveitou a oportunidade para homenagear os companheiros Waldemar Bastos e Carlos Burity, falecidos recentemente.

Mas, antes, e como manda a tradição angolana: não há festa sem convidados, o palco foi assaltado pela cantora Deusa, que teve a honra de cantar “Kalunga Nguma”, para depois seguir uma sequência com “Homem do saco”, “Ngana Ngonga”, “Kaxexe”, “Água rara”, “Diakandumba”. Com o clima esquentado e uma noite cheia de surpresas, o público viu Té Macedo cantar “Mulemba Xangola”, Dom Kikas interpretar “Kisselenguenha” e Anastácia Carvalho com “Parabéns Bonga”, deixando o artista encabulado e sem reacção.

Se Anastácia Carvalho, que lhe ofereceu, no final da sua actuação, um quadro com a sua imagem, deixou-o sem palavras, já com o “discípulo” Yuri da Cunha cantou “Kamacove” e “Bonga Kwenda”, electrizando ainda mais uma noite que já estava imprópria para cardíacos, deixando os presentes sem travão e “parede” para se encostar. De “língua afiada” não só para a música, mas também para o diálogo com a assistência, Bonga foi ao baú tirar “Marimbondo”, “Mariquinha”, “Frutas da vontade”, “Sambila”.

Em duas horas, Bonga revisitou o seu rico e vasto reportorio, fechando a noite, numa altura em que os ponteiros dos relógios apontavam para as 23h50, com “Jingonça”, na companhia dos Jovens do Hungo, grupo com o qual abriu a jornada. À moda angolana, com muita luz, cor e animação, Bonga abandonou o palco com um brilho no rosto e com o sentimento de dever cumprido, para a alegria e satisfação dos fãs. Com 78 anos de idade e 48 de carreira artística, Bonga lançouse no munda música em 1972, na Holanda, lançou o seu primeiro álbum “Angola 72”, em que canta, essencialmente, a revolução e o amor à Pátria.

É por esta altura, que Barceló de Carvalho passa a chamarse Bonga Kuenda, nome africano que significa “aquele que vê, que está à frente e em constante movimento”. Bonga actua pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1973, aquando da celebração da independência da Guiné-Bissau, integrado num espectáculo de homenagem à cultura lusófona. Em Abril de 1974, Bonga lança “Angola 74”.

Nos anos 80, torna-se o primeiro artista africano a actuar a solo, dois dias consecutivos no Coliseu dos Recreios (Lisboa), símbolo da música portuguesa, tendo sido o primeiro africano a conquistar Disco de Ouro e de Platina em Portugal. O seu sucesso estende-se para lá das fronteiras lusófonas e Bonga actua no Apolo, em Harlem, no S.O.B. de Nova Iorque; no Olympia de Paris, na Suíça, no Canadá, nas Antilhas e em Macau. O seu sucesso é resultado de um trabalho árduo, intensivo e metódico, e de uma imaginação criativa que caracteriza toda a sua carreira.