Paranoia das máscaras (2)

Paranoia das máscaras (2)

No passado dia 3 de Agosto, falei aqui da paranoia das máscaras e do afastamento físico, chamando à atenção para a necessidade de não haver obrigatoriedade de utilização de máscara facial em viaturas particulares._ Já antes tinha chamado à atenção para a necessidade de não nos excedermos nas medidas preventivas, pois poderíamos mais tarde vir a precisar de mobilizar a população, que estaria já cansada de cumprir medidas desnecessárias._*PONTO PRÉVIO:*

Tenho aqui assumido invariavelmente uma postura de total respeito pelas orientações das autoridades sanitárias, mas é lógico que não irei nunca cair no ridículo de aceitar orientações sem nexo, nem a falta de informação a respeito das consequências negativas das medidas que se tomem.

A medida que as autoridades sanitárias propuseram, de obrigatoriedade de utilização de máscara facial em viaturas privadas, ainda que dentro delas esteja somente o condutor ou estejam pessoas do mesmo agregado familiar, não faz o mínimo de sentido. Já aqui o tínhamos dito, de modo que não entendemos por que razão as autoridades sanitárias terão convencido os políticos a decretar tal medida. A essa imposição, seguiuse a distribuição através das redes sociais, de uma série de argumentos, qual deles o mais fútil. De que argumentos se trata?

*Em primeiro lugar*, dizia-se que a medida fazia sentido porque, se alguém tossir ou espirrar dentro da sua viatura, ao abrir depois a porta, o vírus é projectado para fora do carro e pode contaminar outro alguém. Este argumento só faria sentido, em países com grande circulação comunitária do vírus (onde Angola não se insere).

Na província de Luanda, quando a medida foi decretada, tinham covid somente 0,02% dos habitantes (cálculos meus, a partir de dados do Ministério da Saúde). Supondo que, na pior das hipóteses, 0,02% dos condutores estivessem então contaminados, isso implicaria que em cada 10 mil condutores, apenas 2 estariam infectados. Por que razão, então, _prejudicar_ 9.998 condutores apenas porque aqueles 2 poderiam espirrar ou tossir dentro da sua viatura, podendo num desses casos o vírus sair para fora da viatura? Hoje, esse dado é de 0,03%.

Quando digo _prejudicar_, é prejudicar mesmo. Porque, lamentavelmente, os cidadãos continuam sem receber informação sobre as consequências negativas para a sua saúde, de utilização de máscara facial. Já aqui falámos sobre isso, de modo que não me vou repetir.

Apenas acrescento que há uma série de cidadãos que têm sofrido de hipoxia, não havendo sequer menção a isso nas informações que são difundidas diariamente. Nem todos esses cidadãos recorrem às unidades sanitárias, mas há relatos de quem o faça. Por outro lado, devemos perguntar o seguinte: _em que outro país do mundo existe medida similar?_ Não temos conhecimento de um único.

Sabemos, contudo, que nos países mais atingidos pelo vírus, não passa pela cabeça de qualquer autoridade sanitária que se preze decretar tal medida. E mais: se o Ministério da Saúde se refugia constantemente nas “orientações da OMS” para justificar as suas opções, temos de perguntar: onde está a orientação da OMS a favor de uma medida tão prejudicial como esta? O *segundo argumento a favor da medida* tem a ver com a possibilidade de a máscara que utilizámos na rua estar contaminada e, quando a retiramos ao entrar na viatura, contaminamos o seu interior. Também este argumento não faz sentido.

Não referindo já a ideia de baixa contaminação, mencionada antes, a partir do momento em que existe o risco de contaminação do interior da viatura com uma máscara usada, o que é preciso é orientar as pessoas no sentido de se desfazerem da máscara usada, antes de entrarem na viatura. Elementar e simples! O *terceiro argumento* então utilizado dava conta de que, por haver circulação comunitária do vírus, corremos o risco de contaminação por circularmos na viatura sem máscara. Trata-se de outro embuste.

Primeiro, porque o grau de circulação do vírus, em Luanda, está muito longe de se assemelhar àquele que ocorre, por exemplo,
em cidades como Lisboa ou Paris (para não citar os piores casos). Quero com isso dizer que a circulação comunitária não tem necessariamente a ver com uma suposta ampla circulação do vírus no ar. Segundo, porque se houvesse mesmo tão grande concentração do vírus no ar, então teríamos também de utilizar máscara dentro de casa. Porque _de onde vem o ar que circula dentro de nossas casas, se não da rua?_ Resta perguntar quem terá proposto tal medida absurda, impraticável e prejudicial.

Essa pessoa ou essas pessoas deveriam ser chamadas à razão e, até, indirectamente responsabilizadas pelas mortes e outros dissabores que já ocorreram em função desta “birra”. Os especialistas da área recomendam (e muito bem) que se circule sem máscara dentro das viaturas, devido aos poucos benefícios que daí advêm e às enormes consequências negativas desse acto. A única excepção tem a ver com transportes públicos, onde (nos países de grande e média contaminação) se recomenda a utilização de máscara facial, devido ao facto de serem aí maiores os benefícios que os prejuízos da medida.

Em função disso e porque se trata de medida que acarreta muito mais prejuízos que benefícios, _ sugere-se a revisão da medida de obrigatoriedade de utilização de máscara facial em viaturas particulares_, desde que aí circulem somente pessoas do mesmo agregado familiar. Que se mantenha imperativa, sim, a obrigatoriedade de utilização de máscara facial onde haja real perigo de contágio, nomeadamente em táxis, autocarros, comboios e aviões. Mas que se instruam também as pessoas no sentido de irem arejando o interior das respectivas máscaras, de modo a diminuírem os efeitos negativos da sua utilização.