Nem tudo é colectivo

O político e advogado David Mendes enfureceu, há dias, o mais velho Vicente Pinto de Andrade no habitual confronto que tem lugar na TV Zimbo. Numa tirada praticamente infeliz, se quisermos, o parlamentar independente da UNITA considerou o MPLA como sendo um partido de ladrões, muito por conta dos vários escândalos que vão surgindo relacionados com figuras ligadas ao partido ou próximas a responsáveis desta organização.

Como em qualquer sociedade ou organização, existem sempre pessoas más e boas, estendendo-se o mesmo aos partidos políticos, sendo que, em alguns deles, os escândalos são abafados nos aposentos mais restritos. No seio do MPLA ainda pontificam figuras que nunca se sentiram tocadas em assaltar o erário e, no passado, outras deram exemplos dignos de realce até mesmo ao nível da Assembleia Nacional.

Em todo o caso, o partido no poder continuará a ser apontado como sendo responsável pelo estado em que se encontra o país e, também, pela forma como geriu determinados sectores. Infelizmente, durante mais de 30 anos o que se viu foi mais uma responsabilização colectiva, mirando-se para o edifício da Ho Chi Min e quem habitava inicialmente no Futungo de Belas e posteriormente na Cidade Alta.

A cultura da não responsabilização individual, sobretudo de colaboradores directos, continuavam a transformar o MPLA partido num saco de pancadas, até quando o poder, que se pensava residir nos corredores do ‘Kremlin’, já se estava a esvair dando origem àquilo que se ousou um dia chamar ‘futungistas’.

Embora o ónus seja de quem os nomeie, no caso o Presidente da República e depois destes os governadores provinciais e administradores municipais, é tempo mais do que suficiente de inculcar nos colaboradores responsabilização directa pelos insucessos que se verificarem nas suas áreas de jurisdição.

Mesmo que alguns deles sejam meros auxiliares do Titular do Poder Executivo, isso não deve retirar da sociedade de que são eles, em primeiro lugar, responsáveis pelo fracasso na implementação de projectos nas áreas.

O desabafo do novo bispo de Caxito, Maurício Camuto, vem neste sentido de que nem tudo é culpa do Presidente da República, mas também dos seus auxiliares. Muitos deles, com poderes e até meios, fazem menos do que lhes é esperado.

Longe de mim duvidar de um líder religioso. Não esteve errado quem escreveu um dia que ‘a Igreja tem o melhor instituto de pesquisa da história e do mundo: o confessionário’.