Guerra de egos

Não sendo craque em futebol, a única vez em que me recordo ter jogado num campo grande, daqueles capazes de nos deixarem com a língua de fora, foi em finais da década de 90. Foi na Refrinor, em Luanda, lá para os lados do Cazenga, numa zona industrial agora densamente povoada e dominada por comerciantes Oeste-africanos.

Apesar de ser um afoito sócio do 1.º de Agosto, daqueles capazes de largar o prato por causa de uma derrota, só mais tarde me tornei um conhecedor do futebol., situação esta que nos leva hoje a abordar com maior e melhor conhecimento o que se passa dentro das quatro linhas.

Naquela fase em que ainda nos aventurávamos a uma pelada, quando víssemos a composição das equipas, acreditávamos sempre na existência de uma ‘arma secreta’ no banco das duas equipas. É assim que se viam os jogadores que, a qualquer momento, poderiam entrar em campo com a missão de alterar o quadro, sobretudo quando as equipas estivessem em posição de desvantagem.

Com o andar do tempo, essa velha lógica começou a ser esbatida. O mesmo com o lema de que o segredo é a arma do negócio, depois de os marketeiros e publicitários nos terem dito que sem exposição nada é conhecido.

O mesmo é válido em política. Quando estão em causa valores e supremos interesses do país, os egos, ambições e interesses partidários devem ser colocados de parte, mesmo que não concordemos supostamente com o treinador. O importante é que a equipa vença!

A rejeição de David Kissadila, ministro sombra da UNITA, ao cargo de um dos responsáveis do Entreposto Aduaneiro, começa a ser encarado como um penálti político, sobretudo para quem, em intervenções públicas, se tem batido pela inclusão de figuras apartidárias e de outras entidades políticas nos espaços de decisão.

Sendo quadro do Ministério do Comércio, acreditamos ser, antes de mais, um servidor do Estado do que um militante de um partido com ambições de chegar ao poder.

Cegos pela velha lógica da responsabilização colectiva dos adversários, alguns políticos se esquecem de que, individualmente, podem fazer a diferença e, com isso, venderem também a marca das organizações políticas que dizem representar.

Não entrando no jogo, para dominarem os dossiers, o melhor será não apresentar prognósticos antes de a partida terminar em 2022, sobretudo quando ainda vivemos uma crise que exige o concurso de todos os filhos, independentemente das cores das camisolas que vestem.