É de hoje… Ultrajante

Quando começou a série de investigações da rubrica ‘Banquete’, da Televisão Pública de Angola, a tendência inicial foi de que não havia muito por se dizer. Que em Angola existe corrupção isso já é por demais sabido. Não é por acaso que sempre estivemos nos lugares cimeiros dos rankings, uma tendência que só desde 2017 está a ser invertida. Que alguns dos seus principais promotores foram – ou ainda são- entidades bem posicionadas no aparelho do Estado, também não há muito a dizer.

Com o passar do tempo, cada revelação nos mostra o pecado que se fez a este país, principalmente por aqueles que tinham como missão promover o bem-estar colectivo dos angolanos, redistribuindo a riqueza aos demais através do fornecimento dos serviços essenciais, como a água, a energia, saúde e a educação.

O povo sempre pediu o mínimo. Até prova em contrário, os acusados gozam da presunção de inocência. Mas, ainda assim, pela gravidade das acusações expostas no ‘Banquete’, que nos é servido agora à quente pela Televisão Pública de Angola, está mais do que evidente que, em alguns dos casos de que são acusados, determinadas personalidades da nossa praça podem ser apontados como tendo cometido crimes de traição à pátria. P

or mais que se escamoteie, quando vimos alguns dos benefícios a que alguns receberam de bandeja, tem-se a nítida noção de que mais do que um julgamento para que estas pessoas paguem o prejuízo causado, os angolanos também deveriam merecer um pedido de desculpas por tudo quanto lhe foi dado a viver. A propalada acumulação primitiva de capital, que seria louvável se se traduzisse na criação de milhares de postos de emprego e na solidificação de uma classe média, acabou por privilegiar uns prejudicando gravemente uma maioria.

Da saúde às finanças, dos supermercados à energia, da comunicação social a outros domínios, começa-se a esfumar, cada dia que passa, a áurea vendida por muitos aos quatro cantos como empresários talhados para os negócios milionários que se conhecessem.

Participando de um banquete, em que os comensais tiveram a oportunidade, numa selecta ‘Conferência de Berlim’, de escolher os ingredientes, talheres, os copos, a toalha e até os guardanapos é muito fácil fabricar pseudo-milionários e construir-se uma imagem à volta destes. É ultrajante saber-se que mesmo recebendo de bandeja negócios houve quem nem sequer tenha honrado com os compromissos para justificar os valores. Espanta que ninguém se tenha engasgado sequer de tanta fartura.