Carta do leitor // Portugal e os títulos

Carta do leitor // Portugal e os títulos

Caro senhor coordenador do jornal OPAÍS, saudações! Perguntei, há dias, a um amigo o que havia em relação aos títulos do professor Carlos Feijó e outros quadros renomados angolanos em Portugal. Respondeume ele que há suspeitas de que alguns deles estarão a ser investigados por suposto favorecimento de um professor português, no caso Jorge Bacelar Gouveia.

Não conhecendo o mérito do próprio processo, não há dúvidas de que estamos perante um ataque velado a Angola e às suas entidades, mormente as académicas. Primeiro, não me recordo de ter visto, lido ou assistido a uma graduação em que um único indivíduo tenha tido o poder de por si só definir tudo. Por isso, não se pode sequer acreditar que Bacelar Gouveia tenha sozinho feito a estrada para que determinadas personalidades angolanas conseguissem títulos. Segundo, nota-se claramente que os propósitos parecem ser outros.

Aliás, são os mesmos que pouco ou quase nada fizeram em relação aos títulos de Miguel Relvas e José Sócrates que querem vir dar lições. Não que exista, no meu ponto de vista, alguma coisa que tenha sido mal feita. O que prevalece, ainda hoje, é o paternalismo que as autoridades lusas, alimentadas por determinados sectores em Angola, se ufanam.

Por mais que se apresente como um país da União Europeia, Portugal ainda não consegue viver longe da dependência que tem de Angola. Só assim se compreende que se procure sempre algo sobre Angola nas suas páginas. Aliás, um velho hábito do tempo da guerra que poucos portugueses, incluindo da nova geração, se querem ver livres.

O estranho é que, durante a formação de Carlos Feijó e outros quadros angolanos, tenham existido júris de todos os modos e feitios, mas ninguém se manifesta. Não se trata de dinheiro, mas sim de uma consciência que anda viva, apesar dos longos anos de história que em nada nos enobrecem.

 

Mário Pedro Samba, Luanda