Qual é a sua percepção sobre as Artes em Tempo de Pandemia?
Em todo o mundo, a classe artística foi uma das classes mais afectadas pela pandemia com os teatros, as galerias e os cinemas encerrados. Para os artistas, que não são funcionários públicos com salários mensais garantidos, em casa sem poderem trabalhar, foi, portanto, uma catástrofe.
Claro que tivemos de nos reinventar e procurar alternativas, algumas das quais bastante criativas, mas que, de forma alguma, vão substituir o contacto directo com o público. Além de não ser emocionalmente motivador (o artista precisa dos aplausos), o trabalho online não é rentável, sobretudo para a dança e para o teatro.
Como foi para a CDC Angola o ano de 2020 e o que mais a terá marcado?
Em termos gerais, o ano de 2020 foi negativo… foi um ano péssimo para todos. Como referi, os bailarinos estão em casa, mas a Companhia continua a esforçar-se por garantir a sua subsistência mensal. Em muitos países, os governos que respeitam e possuem estratégias para os profissionais das artes e que consideram as artes e a Cultura como pólos fundamentais para o desenvolvimento apresentaram algumas soluções económicas para minimizar as dificuldades financeiras dos artistas e das casas de espectáculo.
No nosso país, ficámos pela atribuição de “meia dúzia” de cestas básicas consumíveis. Mas os problemas dos artistas não se circunscrevem à satisfação de necessidades alimentares que são iguais às de todas as pessoas. Esta pandemia veio confirmar as fragilidades decorrentes da falta de estratégias do nosso país em relação às artes e à protecção dos artistas; e isto reflecte-se bem na completa ausência de dignidade no tratamento dado aos artistas.
Várias acções foram suspensas, incluindo a digressão internacional. Que prejuízos acarretou para a Companhia ?
Se no mundo dito desenvolvido houve danos irreparáveis para os artistas de dança, em Angola, a nossa companhia, que já tem normalmente imensas dificuldades, viu a sua vida complicar-se ainda mais. Perdemos a nossa Temporada / 2020 e a nossa digressão internacional programada para Junho desse mesmo ano. Não terminámos a nova criação que eu estava a fazer em co-autoria com a coreógrafa Iréne Tassembédo, não poderemos participar na Edicão 2021 do Festival Internacional de Dança do Burkina Faso no qual seríamos convidados de honra e os bailarinos viram interrompida a sua rotina de treinos técnicos e ensaios diários colectivos e presenciais.
Como referido, tínhamos uma tournée agendada para Junho de 2020, cujos espectáculos teriam lugar em França e Portugal num circuito de teatros nobres e importantes nas cidades de Paris, Montpelier, Braga e Lisboa, o que não se realizou.
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