Psicólogo considera sociedade angolana à beira da imoralidade

Psicólogo considera sociedade angolana à beira da imoralidade

O académico, que questiona qual é o espírito das leis em Angola, desabafou dizendo que já se falou muito sobre a moralização da sociedade angolana, restando, por agora, mostrar trabalhos que dêem frutos positivos

O psicólogo Carlinho Zassala concluiu que a nossa experiência leva a crer que os crimes da mente ou espirituais não têm encontrado o devido respaldo jurídico, antevendo nisso o encaminhamento da sociedade angolana para a imoralidade.

“E preocupa-me o facto de se tentar fazer alguma coisa para voltar a moralizar a sociedade, numa altura em que muitos que cometem actos imorais beneficiam da protecção das autoridades angolanas”, ressaltou o especialista.

Carlinho Zassala, que preferiu encaminhar a sua abordagem pondo em causa a fase inicial da idoneidade de um indivíduo que atinge 18 anos de idade, socorreu- se de uma máxima da cultura Kongo, segundo a qual “um filho será sempre filho junto dos seus pais, para se ater a um exemplo.

“Os nossos juristas, advogados e magistrados, procuradores e outros funcionários da área jurídica afirmam sempre que, depois dos 18 anos, um filho ou uma filha tem o direito de fazer da sua vida como quiser, mesmo desligando-se totalmente dos seus pais ou familiares”, disse o docente universitário, alegando ser uma aberração imitar- se milimetricamente as realidades culturais alheias às nossas culturas.

De acordo com o próprio, nos países onde os filhos depois dos 18 anos se desligam dos seus pais, economicamente, e não afectiva ou socialmente, o Estado cria condições para o alojamento dos jovens que atingiram a maioridade e disponibiliza oportunidades para emprego.

Caso não existir colocação imediata, os jovens recebem subsídios de desemprego, segundo o académico que questiona, igualmente, se estas condições sociais existem no nosso país.

“Em Angola, o ensino do curso de Direito deve tomar em consideração os aspectos que são universais e os que são peculiares ou idiossincráticos para o nosso país, caso contrário estaremos a formar para uma sociedade utópica”, defendeu, tendo apelado para não se ignorarem os aspectos relacionados com a moralidade, no nosso ordenamento jurídico.

Educação deve assentar na cultura

O psicólogo é de opinião que, neste momento em que está a ser realizada a harmonização dos planos curriculares no ensino superior, deve-se tomar em consideração aspectos educativos que não conduzam à alienação da cultura.

“Devemos resgatar todos os valores morais, religiosos, patrióticos, cívicos, culturais entre outros que estão em vias de extinção”, realçou. O docente universitário referiu- se ao facto de o Estado angolano ser constituído por todos nós, o poder legislativo, executivo, judicial e de outras instituições.

Neste capítulo, o entrevistado chamou à questão as igrejas, instituições que ele classifica como verdadeiras conservadoras e promotoras da moralidade e moralização. “É de salientar que a religião é uma dimensão cultural vital, é por isso que se afirma que a igreja é a reserva moral da sociedade. Infelizmente em Angola, com a proliferação de igrejas e seitas religiosas, muitas confissões religiosas tornaram-se em reserva imoral da sociedade e com a cumplicidade de algumas autoridades”, desafogou.

Sendo a família o núcleo da sociedade, o especialista defende que deve ser protegida para que haja harmonização na socialização das novas gerações. Desta forma, os conflitos geracionais ou distâncias sociais serão menores e menos intrigantes.

Normas no social

Partindo do princípio que os psicólogos advogam ao ponto de classificarem o homem como um animal social, Carlinho Zassala disse que não existe vida social sem normas, porque são elas que regulam a interação social e determinam os valores socioculturais que são os comportamentos esperados entre os membros.

“Nesta ordem de ideias, não existem Estados sem leis, tal como Montesquieu escreveu no seu livro intitulado “o espirito das Leis”, onde afirma que são os usos e costumes que devem ser transformados em leis e nãos as leis que devem criar usos e costumes de um povo”, referiu.

Adiantou que, em quase todos os países africanos, o direito convencional que outros chamam de direito positivo co-habita com o direito consuetudinal ou costumeiro, enquanto em Angola essa coabitação não se verifica, sobretudo nas zonas urbanas.