O tão esperado homem novo

O tão esperado homem novo

Por: Khilson Khalunga*

 

Desde o fim das duas grandes guerras mundiais, o mundo já não veio a ser o mesmo, muita gente foi danificada por essas guerras: umas psicológicas e outras físicas. Razão pela qual os homens já não foram os mesmos, pois presenciaram momentos de massacres e tambores que cantavam sem cessar dia pós dia e terras que rachavam pelos gritos dos tambores. Quando se deu o fim destas guerras, veio a existir o processo de paz mundial e reconstrução de um homem novo, pelo que foi sempre os discursos dos senhores políticos e, que, por detrás disso, existia os seus próprios interesses.

Os homens que desejavam ser novos são estes ou aqueles que viram o pedaço de carne do pai estendido no chão, a inexistência de um familiar a subir para o além, são aqueles que viram as suas terras a serem destruídas por bombas e ataques nucleares, mas,ainda assim, decidiram guardar estas lembranças no bolso das calças e confiando nos discursos dos políticos que prometiam uma terra nova e um homem novo para o amanhã. Portanto, abraçaram os discursos dos políticos esquecendo que tudo era feito para os seus próprios benefícios e não para o benefício do tão esperado “homem novo”.

Desde lá pra cá, muitas coisas ruins e boas vieram a acontecer, e nada de homem novo. Se vivemos em/na paz, por que razão recrutar homens da paz e que pretendem ser novos para a guerra? Dizia o grande Nobel da Literatura, José Saramago, que “a tal revolução do homem novo seria aquela que transformaria o homem treinado para guerra em homem educado para a paz”. Portanto, vimos homens antigos vestidos de novos. Todos eles têm os corações a bombardearem sangue de rancor e lembranças amargas, então, talvez o homem novo é este: o homem emancipado.

Falando da emancipação, só veio destruir mais o bocado de cultura que nos restava e trouxe consigo a emancipação do individualismo e não do indivíduo. Hoje, já não é comum a troca de bens alimentares entre vizinhos, as crianças já não sentam de noite para aprender com os adultos ou ouvir as suas histórias, estão mais preocupadas com as belezas, outras em sítios pornográficos e outras apertadas bem no beco com a outra criança em beijos e sexos prematuros (é essa criança que um dia será homem novo?), falar kimbundu e outras línguas nacionais para jovens da minha geração é sinónimo de atraso e falta de progresso.

Com as construções de centralidades, só veio para nos afastar cada vez mais do tão esperado homem novo e nos aproximar aos homens antissociais, quase que não têm vizinhos para partilhar as suas situações familiares ou pedir algo que falta de momento em casa, como acontece, algumas vezes, aqui no museke: os pedidos de sal ou algo que falta no momento. Hoje, deparamo-nos com a situação da Covid-19, que é considerada por todos como uma guerra cujo o inimigo é invisível. Na realidade, ela só veio para provar que o homem novo está muito distante de nós e das nossas acções.

Trouxe consigo o afastamento social e outros elementos que não nos permitirão ser novo ainda hoje. Depois disto passar, os políticos sairão a falar que têm de preparar os homens para serem novos e viverem sem sequelas desta perigosa pandemia. Hoje, o meu avó diz que o tempo dele foi melhor e que lá existia homens novos, pois a partilha de bens era visível e o problema do vizinho era problema da aldeia completa e todos lutavam para ultrapassar o problema que afectava o vizinho.

Então, que tipo de homem novo se espera ter num mundo que reconhece apenas a paz como o calar das armas e não os outros elementos como o bem estar social, académico e até mesmo financeiro do homem que se deseja ser novo? Portanto, após este problema da Covid-19 passar, haverá sequelas enormes: aqueles que foram desempregados, os casamentos rompidos devido à falta de kumbu para sustentar o mesmo e outros problemas. Desta forma, jamais chegaremos ao homem novo, talvez os meus bisnetos chegarão, CASO EU NÃO VENHA ME CONVERTER À IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS. Mahezu.

*Membro do Movimento Litteragris