É de hoje…Herdeiros necessários

É de hoje…Herdeiros necessários

A figura do ‘herdeiro necessário’ existiu no antigo império romano. Era aquele a quem confiavam uma determinada herança sem que se pudesse recusar, assim como o que tinha como missão dar continuidade aos rituais religiosos depois do desaparecimento do falecido.

Nos tempos que correm, embora existam outras formas para se beneficiar das heranças, no campo político é quase que perceptível em alguns dos supostos herdeiros, de sangue e não políticos, o desejo de atingirem postos mais elevados nas estruturas partidárias mesmo que não tenham estatuto para o efeito.

O facto de alguns partidos terem sido fundados e depois geridos mais com base em estruturas familiares, grupos de interesses ou até mesmo exclusivistas fazem com que até em tempos modernos acções do monolitismo sejam entendidos por alguns como práticas normais.

Durante vários anos, em quase todos os partidos políticos em Angola, os sobrenomes serviram de passaporte para se atingir posições que, se calhar por mérito, seriam ocupadas por outras pessoas mais experimentadas.

Não é em vão que, normalmente, quando se chega a altura da composição dos órgãos centrais de algumas organizações, assim como da feitura das listas de deputados, assiste-se a uma autêntica corrida de estafeta nas sedes das principais siglas políticas, nas casas daqueles de decidem, assim como nos escritórios dos que têm alguma capacidade de influência sobre os principais decisores.

Escudados nas histórias e influências dos pais, muitos dos quais sem muito poder ou autoridade moral para o efeito, alguns destes ‘herdeiros necessários’ ainda hoje se julgam no direito de ostracizar e tentar impor as suas directrizes nas organizações em que se dizem vinculados.

Muitos não o fazem por pretender ajudar a melhorar, à semelhança do que se assiste em poucos casos raros de filhos de entidades políticas – algumas vivas e outras já no outro lado – que ainda conseguem imprimir uma outra dinâmica e são verdadeiros ‘animais políticos’.

Entre os principais partidos angolanos, os sinais são por demais evidentes. De um lado, recentemente, surgiram informações de uns que diziam querer abandonar por se sentirem supostamente preteridos dos lugares confortáveis dão directamente o acesso aos tapetes luxuosos da Assembleia Nacional.

Do outro, mesmo no poder, houve quem não tenha percebido mais cedo, com a precisão necessária, que as transições em democracia, mesmo em África, também ocorrem com alguns líderes que não aceitam dirigir nem agir como ventríloquos.