Problemática migratória motiva criação artística “Eterno Provisório”

Problemática migratória motiva criação artística “Eterno Provisório”

Há precisamente um mês para o término (20 de Fevereiro) da exposição “Eterno Provisório”, do artista angolano Sueki, patente em Lisboa (Portugal), sob égide da Galeria Ainori, continua a gerar “acesos” debates pela problemática actual em relação ao propósito que motivou a sua criação. Em entrevista, o criador aborda sobre o seu trabalho

O que pretendeu transmitir com a exposição “Eterno Provisório”?

A minha narrativa artística é muito focada em problemáticas e fenómenos de cariz sócio-político de África, seja no continente ou na diáspora e falar de África e dos desafios que ainda enfrenta a esse nível sem considerar o seu passado colonial e da ainda relação de dependência política e económica é praticamente impossível. A questão das migrações de africanos para Europa, sempre mais frequentes e urgentes, vem direccionar o de bate nesse sentido. De como ainda existe uma grande dificuldade de resolver questões internas vitais para o nosso desenvolvimento como nações autónomas sem envolvimento externo, evidenciando também as responsabilidades desses agentes externos nos problemas (sociais e económicos) do continente.

João Gavinhos descreve na apresentação da exposição três fases da narrativa histórica começando pela origem (lugar), passando pela viagem (o não lugar) e pela vida na Europa (a inesperada, ou não, eternização do não lugar). O que quer com isso dizer?

A obra faz um paralelismo entre a viagem pelo espaço físico e a viagem antropológica numa relação entre o espaço e a condição humana começando na origem, em África onde tudo começa, apontando e discutindo o que está na base deste fenómeno e o que ainda o continua a alimentar. Passando de seguida a viagem, esse caminho percorrido de maneira clandestina (que tantas vezes é pago com a própria vida) na tentativa de chegar a um destino onde todos os problemas existentes na origem possam ser resolvidos. Por último, a chegada ao tão desejado destino, a Europa, onde quase sempre não encontram um lugar na sociedade e com raras oportunidades de integração, tornando-se socialmente invisíveis e empurrados às margens dessas mesmas sociedades, nunca atingindo um nível de cidadania aceitável de forma a conduzir uma vida com dignidade e de se tornarem parte integrante desses novos lugares.

A questão da migração é um tema que não se esgota, sendo por isso sempre actual. O que lhe motivou a passar para arte esta temática?

Como já antes mencionei, o meu principal objecto de investigação artística são as problemáticas sócio-políticas de África, no continente ou na diáspora e, neste caso, trazer à luz as várias razões e implicações que estão na origem deste fenómeno, mostrando a realidade do nosso ponto de vista e tentando dar respostas à ignorância e hipocrisia com que é tratada a questão na Europa.