Bispo André Soares: “O Estado é bom se os seus cidadãos forem bons”

Bispo André Soares: “O Estado é bom se os seus cidadãos forem bons”

O bispo da Igreja Anglicana em Angola, Dom André Soares, apelou à sociedade angolana a respeitar a Constituição, para uma melhor coabitação entre governantes e governados

Dom André Soares fez este apelo em entrevista recente concedida a OPAÍS, quando se pronunciava sobre os acontecimentos de Cafunfo, na Luanda-Norte.

Depois de inicialmente deplorar as mortes ocorridas naquela circunscrição, em condições já publicamente conhecidas, disse ser necessário que a sociedade continue a respeitar as instituições democraticamente instituídas.

O prelado entende que o binómio deveres e obrigações deve ser respeitado pelo governante e pelo governado, para que cada um cumpra a sua função.

Entretanto, o respeito às leis do país, segundo o bispo André Soares, deve ser ensinada a partir da família, por ser ela o núcleo importante para o sucesso ou insucesso de cada pessoa.

Observou que, nos últimos tempos, tem estado a notar, em alguns casos, desacato à lei instituída, por parte de alguns cidadãos, em contravenção à Constituição, sobretudo no quadro da lei da reunião e de manifestação.

O líder religioso da Igreja Anglicana insiste que todo o cidadão deve respeitar a lei do seu país, incondicionalmente, que, segundo ele, além de acto cívico, é uma demonstração de patriotismo.

Segundo o bispo André Soares, em todo o mundo, “ o Estado é determinado pelos seus cidadãos”, acrescentando que “O Estado é bom se os seus cidadãos forem bons”.

Reconheceu que Angola está a atravessar momentos difíceis, por conta da crise económica e financeira, desde meados de 2014, que provocou o encerramento de muitas empresas, colocando muitos trabalhadores no desemprego. “É evidente que essa situação agravou a vida social de muitas famílias, mas é preciso que se tenha calma, porque este não é só um problema de Angola”, disse.

Admitiu que a situação de desemprego está a provocar outros males sociais, mas apela à sociedade para que mantenha a fé e confiança nas autoridades que têm a missão de proporcionar emprego.

Sustentou que Angola não é o único país do mundo que está a passar por momentos menos bons, mas existe outros, inclusive os das economias bem sucedidas, mas que com o surgimento da pandemia da Covid- 19 a situação agravou-se.

Diálogo como melhor solução

O bispo André Soares disse que, tendo em conta a situação que o país está atravessar, a melhor forma de resolver eventuais desentendimentos entre as autoridades e os cidadãos é o diálogo.

Sustentou que sem o qual nada poderá se resolver, tendo acrescentado que o diálogo deve servir de base para a resolução de quaisquer problemas sem recorrer à violência.

“ Não é com violência que se resolve o problema de emprego”, disse, salientando que, nesta altura, nem mesmo nos países mais desenvolvidos há muita oferta de emprego.

Ainda sobre a empregabilidade, o prelado disse que a oferta de emprego deve ser uma acção conjunta entre o Estado e o sector privado.

Para o prelado, o Estado deve potenciar financeiramente o sector privado, para que este gere emprego para os cidadãos, pelo que os cidadãos, sobretudo jovem, devem primar pela formação.

Por outro lado, apelou ao Governo para que continue a apoiar empresários financeiramente para a criação de micro-empresas para se reduzir o índice de desemprego em Angola.