Falta de regulamentação do mercado e literacia sufocam operadores imobiliários em Angola

Falta de regulamentação do mercado e literacia sufocam operadores imobiliários em Angola

A regulamentação do mercado, a literacia, as taxas de juros e a desburocratização nas instituições são aspectos que devem ser melhorados para que o ambiente de negócios no sector imobiliário em Angola ofereça mais satisfação aos seus operadores. Os informais, que “estão aos montes” neste mercado, sem credenciamento e formação, também preocupam a classe

As inquietações foram apresentadas e discutidas durante o Fórum Imobiliário promovido pela empresa Linear Comunicação, que decorreu na última Sexta-feira, em Luanda, e contou com a participação de vários operadores e instituições ligadas ao mercado.

Dos participantes, constatou-se, principalmente, a insatisfação com a falta de regulamentação do mercado imobiliário, que leva muitas pessoas a actuarem de improviso e sem credenciamento, com métodos que prejudicam não apenas os “dignos operadores”, como também os consumidores.

A falta de conhecimento e formação de muitos operadores, com destaque para os informais, foi também apresentada como um impedimento à dinâmica que se deve imprimir neste sector, além das elevadas taxas de juros, principalmente no acesso ao crédito bancário.

Estas questões, defendem, podem ser superadas com a regulamentação do mercado, permitindo, desta forma, que os empresários tirem do papel vários projectos que desejam implementar no país. Esta ideia é defendida, também, por Agostinho Matamba, que na ocasião representava a empresa Concretos.

“Está minada a confiança nas imobiliárias. As pessoas actuam de forma directa na venda dos imóveis, o que não é aconselhável, porque pode resultar na venda a um preço mais alto ou mais baixo do que o praticado. A falta de regulamentação é a doença que aflige o nosso mercado”, alegou.

O entrevistado disse ainda que isto tem contribuído para que muitos clientes sejam enganados, por não saberem o que devem cobrar de uma imobiliária, para apurar a sua idoneidade, e como interagir de forma judicial no caso de serem logrados.

Todas estas coisas, garante, podem ser ultrapassadas se houver seriedade suficiente para regulamentar o mercado. “Nesta altura, só arrisca quem ama a profissão. Claro que há lucros, mas pode haver mais com organização”. Para Tatiana Lima, fundadora da Xalima Angola, faltam leis que beneficiem as empresas, permitindo- as explorar o mercado imobiliário, uma das maiores fontes de riqueza do mundo, mas que, em Angola, é ainda desvalorizado.

A jovem compara o mercado imobiliário angolano a um oceano livre e com espaço para vários nadadores, para dizer que não duvida que “ainda há muito para se explorar neste segmento, com espaço para os empresários se firmarem e expandirem as suas marcas”.

Este facto não acontece porque, defende, o sector ainda está pobre em desenvolvimento, sem uma associação que preste apoio aos seus associados para captar clientes e apoios.

“Diz-se ser este o papel da (Associação dos Profissionais Imobiliários de Angola) APIMA, mas não vejo o benefício que ela oferece aos associados”, lastimou. Neste segmento, o director comercial do Grupo Boavida disse não ter tantas dificuldades em termos de vendas, dada a qualidade satisfatória do produto que oferece e as várias parcerias com outras instituições. Porém, “quanto maior forem as dificuldades, melhor a vitória”, citou Adriano Hanja.

Em relação aos vários incumprimentos contratuais que levam os compradores a hesitarem na adesão aos produtos do sector imobiliário, adiantou que a empresa que representa não está isenta de cometer falhas, muitas delas advindo de razões de força maior, como é o caso “de alguns atrasos que tivemos para a entrega das residências, mas procuramos compensar com extras para casas, perdões de dívida e outros. Temos um nível de inadimplência muito grande e isso acaba por dificultar a execução dos condomínios”.

Questionado sobres as burocracias nas instituições ligadas ao sector imobiliário, o director do Gabinete de Desenvolvimento de Mercado da Comissão de Mercado de Capitais (CMC), Wamilson Rangel, participante ao encontro, disse que, apesar de não ser uma matéria que compete à instituição, esta pode ajudar a encontrar soluções para os problemas apresentados pelos operadores. Contudo, “a participação da CMC, num evento como este, é uma oportunidade para promover os fundos de investimentos imobiliários como uma solução alternativa de financiamento para o sector”.

Fórum Imobiliário promoveu oportunidades de negócio e intercâmbio

Os mais de 50 participantes, entre empresários, jornalistas e economistas, puderam, além de discutir ideias para melhorar o mercado imobiliário, expor os seus produtos e realizar intercâmbios decorrentes das oportunidades de negócio promovidas pela organização.

Adriano Hanja salientou que este fórum trouxe a unificação das imobiliárias em Angola, entre elas as construtoras, as promotoras e as intermediárias. “É muito benéfica a simbiose de conhecimento e partilha de ideias para o melhoramento do mercado, que actualmente congrega muito mais operadores”, disse.

Por seu turno, Agostinho Matamba vê, na realização deste evento, uma grande oportunidade para tornar conhecidos os negócios mais pequenos do ramo imobiliário, que considera estar em expansão.

Foi por este motivo que aderiu ao chamado da Linear Comunicação, para apresentar, como diferencial do seu produto, taxas flexíveis e que permitam a construção de residências para o cidadão de baixa renda.

“Nós promovemos este tipo de benefício porque achamos ser possível fazer dinheiro a todos os níveis e temos capacidade para oferecer possibilidades àqueles que tenham menos meios (financeiros). A empresa tem vantagem e a sociedade também”, garantiu.

Dumilde Fuxi