Pobreza leva mulheres e crianças à prostituição

Pobreza leva mulheres e crianças à prostituição

A carência de vagas para acesso à educação, a pobreza extrema crescente, quer na zona rural como na urbana, e a discriminação no mercado de trabalho, preterindo mulheres e preferindo homens, encurralam mulheres na prostituição, defendeu a economista Jane Kibeka, no debate radiofónico de Quinta-feira, promovido pela Omunga, em Benguela.

Desde sempre marginalizada, a camada social feminina tem seguido esse caminho desviante e reprovável porque o vê como a única saída para sobreviver, argumentaram Jane Kibeka, economista, e Cris Bravo, activista social.

“Em Angola temos 73% de homens gerentes”, enunciou a economista Jane Bravo. Todavia, “estamos a conquistar o nosso espaço”, mencionando o índice de ocupação feminina no parlamento como um indicador visto por si como positivo.

Para Jane Kibeka, não se trata de afirmar que mulheres e homens são iguais, porque não o são, relembrando que a sociedade tende a limitar e determinar aquilo que a mulher pode ou não fazer. Porque indivíduos dos diferentes géneros são dotados de capacidade cognitiva e força física, logo, merecem ter iguais direitos de acesso aos diversos ramos sociais, principalmente no que toca ao mercado de trabalho.

“A mulher começa ser discriminada a partir destes pontos”, declarou a activista Cris Bravo, referindo-se à necessidade de licença de maternidade, tida quase como uma certeza, factor considerado negativo por quem emprega.

Bem como as ausências no trabalho por consequência de dores menstruais agravadas, entre outras análises discriminatórias que, na visão de quem recruta, são logo tidas como preponderantes para excluir as mulheres.

“O índice elevado de pobreza é que leva jovens mulheres e crianças à prostituição”, que determinam preços com base no uso ou não de preservativos, que, quando não usados, cobram mais dinheiro, revelou Jane Kibeka.

A economista alertou para a culpabilidade de quem procura por e solicita prostitutas, recorrendo inclusive a meninas, crianças forçadas pelos adultos a venderem o seu corpo, com a mesma prática, usando ou não preservativos.

Fazendo a ligação com a elevada taxa de seropositivos em Angola, Jane Kibeka enunciou a duplicidade da culpa e irresponsabilidade dos “clientes”, isso para além do acto criminoso repetido em causa.

Se existe preço estipulado para sexo sem preservativo é porque há quem não se importe com as implicações para a sua saúde, nem das suas parceiras, esposas, namoradas, a quem depois poderão transmitir a doença.

Igualdade de direitos

No debate em causa, as participantes analisaram “A Inserção da Mulher no Mercado Laboral como Forma de Prevenção e Combate à Corrupção”. Defenderam que, apesar de não haver estudos em Angola que provem que mais mulheres no poder causará considerável diminuição na corrupção nacional, estão certas de que o aumento das taxas de emprego no feminino retirarão muitas mulheres e crianças da prostituição.

Para as participantes, não há garantias que, havendo mais mulheres no poder político, bem como em outras esferas da realidade do país, sendo a económica e organizacional duas das mais importantes, a corrupção diminua.

Por agora, a inferência que se faz dos factos sabidos é que, foi durante mandatos e gestão, ao longo de décadas, liderados por uma maioria absoluta masculina, que o fenómeno da corrupção cresceu em Angola.

Assim, a activista Cris Bravo defendeu que, talvez os lados maternal, inato e de gestora do lar, inerentes às mulheres, possam influenciá-las para melhores ponderações nas decisões em cargos superiores.

Sem querer contrapor os géneros, Cris Bravo realçou que não é a génese feminina, por si só, que determinará ou não a prática de actos desprovidos de cidadania, dependendo, claro está, da educação de berço.

Sobre este aspecto primordial, a activista alegou que os hábitos adoptados na infância e juventude, relativamente aos valores morais de qualquer indivíduo, tendem a ser amplificados na idade adulta quando assumem posições de poder. Por isso, para que seja bem rentabilizado e, acima de tudo, valorizado o papel da mulher enquanto ser capaz, Cris acredita que a sua inserção no mercado de trabalho deva sofrer mudanças, eliminando-se o preconceito.

“A mulher angolana sofre…”

“Porquê é que há desemprego em Angola? Quais são as políticas que o Estado está a implementar para que consigamos sair desta situação?”. Estas foram as questões levantadas pela economista no debate da Omunga, transmitido pela Rádio Ecclésia.

Jane citou também a realidade no resto do continente, dizendo que, no contexto pandémico, “mais de metade das mulheres africanas está no desemprego”, e, para si, estão em falta oportunidades no mercado de trabalho.

Isto obrigará a ser repensada a economia angolana, porque o “desemprego gera violência, crise de valores,” precisando-se de políticas macroeconómicas “credíveis”, com efeitos sentidos a médio e longo-prazos.

Com alimentos inflacionados, agora devido à seca, o quilograma de fuba custa 600,00 Akz, dado preocupante, pois “a mulher angolana sofre, sem oportunidade de emprego, salário, apesar de ter o mesmo nível de competência, sofre”.