É de hoje…Deixe andar

É de hoje…Deixe andar

Creio ter sido numa rede social em que li, há dias, uma frase em que um bispo católico dizia que ‘acabamos por transformar os bandidos em heróis’, seguramente quando muitos dos bons vagueiam pelas ruas da amargura neste país adentro.

Nos dias que correm, a julgar pela afirmação do responsável católico, não há dúvida nenhuma de que está coberto de razão. Essa sociedade, que hoje todos culpam pela imoralidade que se apossou em alguns domínios, é também ela resultado da cumplicidade de muito boa gente que hoje canta hossanas.

Angola é aquele país em que durante largos anos os responsáveis políticos, gestores públicos ou até mesmo membros de pequenas instituições privadas eram molestados verbalmente por terem sobrevivido ao apetite voraz de desviar fundos.

Sempre foi assim porque achamos tudo normal. O primo ou parente rico é melhor reconhecido pelos milhões que amealhou, mesmo indevidamente, do que ser alguém que passe de cabeça erguida perante os demais.

É por isso que acabamos por construir uma sociedade sem compromissos. Nem respeito. O deixa andar inculcou-se de tal modo no seio das famílias, das pessoas, das instituições ao ponto de se clamar pela responsabilização de determinados segmentos torna-se uma questão de perseguição em todos os quadrantes.

É o que se vê hoje com algumas fi guras que sabidamente se reconhece que usaram um dinheiro que não lhes pertencia. É o que apreciamos com a política de terra queimada entre os principais actores, com acusações de várias índoles, não se admitindo sequer por parte da própria sociedade que quem pretenda ver o seu nome limpo recorra aos tribunais.

Para muitos, as palavras vão com o vento, como alguém ousou dizer um dia. Os seus efeitos são contos para outros rosários. Mas não pode ser assim perpetuamente, porque alguns têm efeitos que perduram.

Nos últimos tempos, a política tem sido a principal nódoa, com acusações de várias índoles, tanto contra o MPLA como aos partidos da oposição com a UNITA à cabeça.

Porém, tanto uns como outros não podem desconhecer que alguns casos ou afrontas, se preferirem, têm que ser resolvidos nos tribunais. Qualquer cidadão que sinta os seus direitos violados não se pode sentir intimidado de recorrer às instâncias judicias para limpar a sua imagem ou se ver ressarcido de algum dano.

Não importa se pertence ao partido A ou B. C ou D. O importante é que se dê os passos e não podemos enquanto sociedade olhar para uma atitude do género como sendo uma tentativa de intimidação, como se quer fazer crer.

A democracia tem limites. E deve ser seguida por todos, independentemente das cores políticas a que pertencem. Caso contrário, deixaremos abertas feridas que nem depois de cada pleito se vai cicatrizar, por causa do habitual ‘deixe andar’.