Impelida pelo artigo de António Kutemba, na edição do dia 27 de Março de 2021 do jornal “O País” sobre o novo Acordo Ortográfico e o ensino do português, gostaria de contribuir, sobre a mesma temática, com algumas ponderações. Começaria por anuir, em parte, à asserção do autor: “ o acordo ortográfico de 1990 já funciona em Angola …” Porém, legalmente não é com certeza, pois Angola não o ratificou e, por conseguinte, não procedeu a todos os trâmites para o promulgar e impor. “Ilegalmente”, sim, assimilado por uma prática de leitura de fontes escritas externas às produzidas no país.
Perceber as razões é, portanto, facilmente compreensível. A produção escrita em língua portuguesa é esmagadoramente do Brasil e de Portugal, dois países que ratificaram o Acordo e que o usam. Se por um lado, os manuais do ensino formal são grafados de acordo com regras ortográficas anteriores (de 1945) e a redacção dos órgãos de comunicação social angolanos se conformam, também, a essas mesmas regras, por outro, a leitura, quer da produção formal como da informal (esta sobretudo) dos dois países mencionados –Brasil e Portugal – ocorre com muito mais frequência e influencia, obviamente, não só a ortografia, como outras áreas gramaticais da língua.
Quando se fala de produção escrita, inclui-se não só a produção tradicional, impressa, mas sobretudo as publicações online. As redes sociais, dada a sua enorme difusão, são, garantidamente, as principais veiculadoras da grafia que, hoje, uma grande maioria de angolanos emprega, pois os seus conteúdos em português são maioritariamente escritos por brasileiros. Assim, fora do contexto escolar, onde aliás, pouco se escreve e pouco se lê, é através das redes sociais que se comunica, bem ou mal. Esta “tendência ortográfica” é notória, igualmente, entre os estudantes do ensino universitário. A bibliografia indicada e utilizada não é, normalmente, a produzida no país, porque bastante diminuta nas diferentes áreas do conhecimento.
Os próprios docentes, de diversas nacionalidades ou com formações no exterior, desconhecem as regras ortográficas e facultam as suas sebentas sem dar atenção a pormenores desta natureza. Alguém, tendo feito parte de um grupo de trabalho na CPLP, comentou, um pouco contrafeito, o facto de o relatório, redigido pela parte angolana, ter sido reformulado por inobservância das normas ortográficas de 1990 (do novo Acordo Ortográfico). Podemos, aqui, lembrar a regra democrática número um: vence a maioria. Convém ou não ratificar Acordo Ortográfico? Ou deixamos “o barco andar” …
POR: Ana Paula Dias
1 Comentário
Agostinho José Pulucua Qua, 5 Mai 2021 às 10:28
Certamente convém.