Um céu curricular, uma terra aradisíaca

Um céu curricular, uma terra aradisíaca

Já é hora de ver melhorado os perfis de saída de alguns cursos no Ensino Superior. Papel baralhado não pode perdurar no nosso seio. Estudar para ser cientista/investigador não é o mesmo que estudar para ser professor.

Nisso, queremos reflectir sobre o perfil criado para determinados cursos, sobretudo, no quesito Língua e Literatura.

Por intermédio dos grandes objectivos da educação, o governo traça as políticas educativas para um tipo de cidadão que ele quer formar. Aliás, em função dos seus objectivos, forma o tipo de quadro que ele pretende e, muitas vezes, essa forma de gizar as políticas tem impedido o desenvolvimento de alguns países, sobretudo os em via de desenvolvimento.

Assim sendo, em função da premente necessidade de alavancar alguns sectores do país, houve o interesse de se criar os cursos de graduação e pós-graduação de Línguas e Literaturas. Até aí nada mal. Surge, então, uma purga de tipo carraça que apoquenta os intentos da sociedade: qual é a designação da instituição que pode formar professor de Línguas e Literaturas e pesquisadores/ investigadores de Línguas e Literaturas?

Para as duas questões levantadas, o governo criou a Escola Superior Pedagógica e o ISCED para formar professores e a Faculdade de Humanidades (ex-Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto) para formar pesquisador/investigador. Importa realçar que o professor pode também investigar sobre o que ensina. Desta feita, a ESP e o ISCED formam professor de Língua e Literatura e a Faculdade de Humanidades forma linguista e literato. Para esta reflexão, centramo- nos na dicotomia professor de língua e linguista.

Depois de apresentada a visão global dos perfis de saída das duas instituições de ensino superior, surge outra inquietação: Por que razão muitos linguistas que o país tem são formados pelo ISCED e pela ESP?

Recorrendo ao método dedutivo- hipotético, pode-se pensar que muitos professores de língua tornam-se linguista – fruto dos trabalhos publicados, porquanto há escassez na produção. Ou seja, os que deviam fazer não fazem. O que os linguistas fazem, afinal? A resposta é óbvia: alguns são professores. Porém, muitos professores deixam o seu papel refém a um político e depois já se sabe o resultado: dilúvio.

No jogo entre ser e querer ou ter e ser, deve existir um limite: especialização. Antes de descrever os fenómenos linguísticos, o professor de língua devia procurar resolver os problemas de ensino e aprendizagem da sua área. Deve propor metodologias de ensino, a fim de haver sucesso escolar quanto ao ensino da língua. Realmente, há muitos problemas no que tange ao ensino da língua. Logo, é o momento de resolver os problemas actuais da área. Assim, cada especialista deve resolver os problemas que enfermam a sua área de trabalho.

Outro elemento preponderante para haver sucesso escolar quanto ao ensino da língua, é a figura do político. Ele, o político, não deve gizar políticas de gabinete. A política educativa deve ser robusta e permitir a resolução imediata dos problemas que apoquentam o sistema de ensino e de educação.

Em suma, o perfil de saída deve reflectir as aspirações do currículo – no caso de formação de professor de língua e linguista. Se assim não for, teremos quase sempre juristas e jornalistas ensinarem a língua e prescreverem receitas de como falar e escrever uma determinada língua.

Por: António Kutema