E não é que fomos aculturados pela desumanidade?

E não é que fomos aculturados pela desumanidade?

Perambular pelas ruas de Luanda e voltar a casa com a consciência livre e solta não é, de todo, um acto facilmente executado. Pelas numerosas atitudes negativamente negativas e diabolizadamente diabolizadas, que ocorrem por essa cidade, há quem ainda seja capaz de, em uma semana, agolar-se em dez mangas compridas ou curtas. Pela forma como fomos e estamos aculturados pela desumanidade, é mais fácil depararmo-nos com um cachorro a socorrer uma criança ou ainda um cavalo a hospitalizar um enfermo. O ser humano despiu-se da prestação de ajuda àquele que lhe procura. Em dias escassos quanto aos transportes públicos, principalmente devido ao primo coronavírus, vergonhoso é ter que presenciar a luta desnecessária da cedência de uma prioridade a um cadeirante.

Sim! É vergonhoso, porque numa sociedade culturalmente humana, questionar a prioridade a um deficiente físico é ferir-lhe a sensibilidade. Fomos tão aculturados pela desumanidade, que é mais fácil aceitar que um cadeirante role-se de um táxi para outro à procura de um lugar para se aposentar e ao seu destino chegar, sem nada fazermos para ajudá-lo, e ainda assim questionarmos quando alguém, possuído de um pouco de sensibilidade, incentiva-nos a uma prioridade a este ser humano ceder. É uma tremenda ignorância por parte desse sujeito e uma horrível tortura para o predicado dessa acção. Fomos tão aculturados pela desumanidade, que se tornou tão comum encontrar um mendigo a alimentar um faminto do que um fartadamente alimentado a socorrer um esfomeado.

Em tempo de fome abundante, parece mais sensato, para os que pouco ou muito têm, ao lixo bandejas entornar do que ao pedinte ou necessitado entregar. Incrível essa capacidade humana de querer socorrer ou esperar o desastre bater para depois se arrepender. O aculturamento desumano a que fomos submetidos é tão coercivo que nos fica mais fácil esperar que um dos nossos se vá para o outro mundo, um mundo a que todos nós estamos destinados, para depois termos a coragem de lamentar, arrependida e falsamente, por não prestarmos apoio quando tal indivíduo a nós suplicou por socorro. Fomos tão aculturados pela desumanidade, que a intolerância tornou-se o prato preferido do nosso dia-a-dia.

Tornamo-nos tão intolerantes, que até aplaudimos quando presenciamos, em nossos caminhos, discussões por motivos desnecessários como um olhar mal interpretado ou ainda uma palavra dita sem pensar. Pela forma como o aculturamento desumano apossou-se de nós, dá-nos até a entender que as pessoas saem de seus aposentos preparadas e dispostas a se envolverem em conflitos. Esse aculturamento desumano, que vem carregado de correrias e circunstâncias não festivas da nossa vida, tornou-nos em pessoas frias e indiferentes, que normalizam as tragédias, desaprendemos a perdoar e carregamos mágoas em toda nossa vida.

O nosso problema é a falta de amor, porque a falta desse sentimento maravilhoso nos torna pessoas frias, insensíveis. Lixamo-nos de amar, esquecemo-nos de espalhar o amor por onde passamos e, assim, contagiamos outras pessoas, que por nós passam, a revestirem-se dessa aculturação totalmente desumana. A absurda falta de humanidade entre nós leva-nos a armamo-nos de argumentos relevantes e sufi cientes de que temos o direito de partir para a agressão contra outrem, apoiamos as atrocidades, barbaridades, brutalidades, e crueldades. Tornamo-nos amantes de conflitos e da despiedade, enfim, descemos ao mais baixo nível da desumanidade!

POR: Olímpia Salucundji