A desvalorização das línguas autóctones de Angola enraizada numa política linguística falhada

A desvalorização das línguas autóctones de Angola enraizada numa política linguística falhada

Angola é um país multilingue, como se sabe, o multilinguismo é uma característica comum dos países africanos, por isso, Angola, sendo um país africano, a situação não é diferente. Angola, pela amplitude do acervo linguístico, a língua portuguesa coabita com as línguas autóctones.

A cada dia que passa, o português está ganhando mais notoriedade, ela tornou-se na língua do ápice, entretanto, as línguas angolanas estão baixando, o número de falantes das línguas autóctones vai diminuindo a cada dia que um velho deixa de viver. Um dado importante a se ter em conta é que: o multilinguismo surge por conta das oito línguas que correspondem aos oito grupos etnolinguísticos bantu, como: (1) Kimbundu; (2) Umbundu; (3) Cokwe; (4) Kikongo; (5) Ngangela; (6) Olunyaneka; (7) Oshihelelo ou Oshikwanyama; (8) Oschindonga e mais as três línguas não-bantu, nomeadamente: (1) Hotentote, (2) Kankala e (3) Língua portuguesa. Essas línguas autóctones estão devidads em regiões, sendo assim que, em Angola, as 17 províncias apresentam diglossia – a língua portuguesa coabita com a língua autóctone da província, excepto Luanda, onde há mistura de grupos. O que é lamuriante é, sem dúvidas, o monolinguismo em Angola, pois a camada juvenil é muito identificada como monolingue, porque tem a língua portuguesa como a única língua que o indivíduo domina, este é o caso da maior parte dos jovens de Luanda e para as de mais províncias das suas capitais. Como é possível um angolano ser monolingue visto que o nosso país é multilingue?!

À luz da Constituição da República de Angola, no seu artigo 19, no segundo ponto, enaltece que o estado valoriza e promove o estudo, o ensino e a utilização das demais línguas de Angola, mas na realidade não é notória a promoção das línguas de Angola, porque, de forma geral, em Angola, à luz da Lei de Base do Sistema de Ensino, no seu artigo 16, diz que a única língua de escolarização deve ser a língua portuguesa, as demais línguas de Angola têm apenas um espaço no subsistema do ensino geral, no nível de ensino primário, onde as línguas locais são administradas em detrimento da região, e mais, no que diz respeito ao ensino das línguas locais, percebe-se tamanha insuficiência por partes dos professores que leccionam as línguas locais, porque muitos deles desconhecem as línguas que leccionam, fazem uma transposição directa do livro para o quadro, não há também suficiência de materiais de ensino das línguas autóctones de Angola.

A pouca valorização das línguas locais, a nosso ver, deve-se à política linguística adoptada em Angola depois do alcance da independência, porque a política linguística exoglótica não é a ideal para um país multilingue, porque deixa de lado as línguas autóctones, percebe-se, aqui, em Angola, um neocolonialismo linguístico, achando que as línguas locais não são dignas de serem oficiais, línguas de escolarização.

É notório em Angola uma grande influência do imperialismo linguístico, uma imposição da língua portuguesa, sendo vista como a única língua a se falar, que as línguas locais de Angola não devem ser ensinadas. A questão da supervalorização da língua portuguesa e a desvalorização das línguas locais de Angola remete-nos a um pensamento popular “um tronco de árvore na água de um rio pode aparentar ser jacaré, mas não é.” Ou seja, a língua portuguesa, pelo tempo, pela expansão que ela ganhou e pelo número de falantes que tem, provavelmente, pode aparentar ser autóctone, mas ela não é, as línguas autóctones são as oito do grupo bantu e as outras duas do grupo não-bantu. Do ponto de vista linguístico, a língua não morre de velhice, ela morre quando perde os seus falantes. JOÃO (2021, p. 45) «… se a juventude é a forma motriz de uma sociedade, de certeza, sendo iniba de falar, quando for o adulto de uma sociedade, não terá como ensinar as línguas de Angola às gerações vindoras, portanto a língua deixará de existir, consequentemente, a cultura sairá a perder. » Saramago disse “hoje, uma língua que não se defende, morre.” A gente precisa defender as nossas línguas, a língua é uma identidade cultural, a ser assim, a implementação das línguas autóctones nos sistemas de ensino é urgente, a implementação das línguas deve começar – iniciação atè a 13ª classe -, independente do curso, elas devem ser ensinadas por região ou província, por outra, a mudança de política linguística é urgente, a política linguística exoglótica não cheira a rosas nem é bem-vinda à África, pois a caracterização do continente é multilingue, logo a política linguística ideal para Angola, por ser um país multilingue, é a mixoglótica – funcionando em cada província. Mas também, nós simplesmente opinamos, nenhum linguista manda na política linguística, esse assunto é mesmo para o pessoal do governo!

Por: Adilson Fernando João