Não desperdicemos a nobreza da vocação dos pastores

Não desperdicemos a nobreza da vocação dos pastores

Avocação dos pastores, mormente a sua habilidade de persuasão, quando existir, jamais deve ser usada para atender a intentos pessoais ou para fins marginais relativamente à missão que lhes é proposta. A guisa de exemplo, analisemos: por que razão um pastor dar-se-ia ao trabalho de enunciar palpites, claros ou indirectos, sobre qual o melhor partido a votar nas eleições previstas para 2022? Tal não constituiria um atentado contra a paz social da comunidade que lidera ou mesmo contra a tolerância e o respeito que se recomenda em meio às diferentes opções partidárias e doutra natureza? As igrejas são, comummente, comunidades que integram pessoas de vários extratos sociais, adeptos de várias formações desportivas, oriundos de vários grupos etnolinguísticos, uns apartidários, e outros, nem por isso.

Os lideres das igrejas arriscam-se a manchar a sua profissão sempre que, durante a ministração de um culto, exteriorizarem apologias político-partidárias com o fi to de induzir o povo a alinhar-se à ela. O foco tem que ver com as matérias bíblico-doutrinárias e tudo o que eleva a intelectualidade. É oportuno meditar na honra de ser pastor e servir com vocação, com base nas múltiplas interpretações que se podem colher da Bíblia Sagrada, mais concretamente no livro do profeta Ezequiel (34:1-34). A missão essencial do Pastor, seja no sentido denotativo ou conotativo, é cuidar do gado alheio. Para os que assentam a sua religiosidade na Bíblia, lembrar-se-ão do trecho em que se lê “do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e tudo o que nele há”.

A missão do pastor é análoga à de um ministro que, no governo, cuida do que é público, ou um juiz que julga em nome do povo. No estado, os gestores são cuidadores do que é público. Se é mau o governante que serve-se do que é público ou algum juiz que julga para os seus próprios interesses e benefício, estes são mãos servos. Tão mau quanto estes é o pastor que se serve do “gado”, ou seja, dos fieis, para atender às suas próprias vontades, apetites, até desvaires, às vezes. Fazê-lo é desperdiçar a vocação! A nobreza do pastorado está nos seus resultados. E que resultados se esperam do trabalho dum pastor? Elenquemos alguns: que o gado esteja completo e em segurança; que esteja limpo / saudável; que procrie / se multiplique; E a lógica é simples, a saber: só quando a criação está em segurança é que goza a paz necessária e condicional para a sua reprodução. E somente do gado nutrido o dono poderá colher a boa lã, o bom leite, proceder a boa permuta e, por fim, quando chegar o momento do abate, obter a carne de boa qualidade.

Mérito do pastor. Mérito, entre aspas. Afinal, não há motivo para vaidades, porquanto, os pastores não são os donos do gado; não são os criadores dos pastos verdejantes, tão pouco são os criadores das águas cristalinas. Os profissionais responsáveis pelas comunidades religiosas, os quais geralmente designamos pastores, SÃO APENAS GUIAS,  CONDUTORES, ORIENTADORES rumo às verdades que promovam a qualidade de vida. Não são donos de ninguém e, não poucas vezes, nem são o garante de crescimento. Quem dá o crescimento é Deus, como se depreende da leitura da primeira epístola de S.Paulo aos Coríntios (3:6-8). E mais, se o SENHOR não vigiar o gado, em vão vigia qualquer sentinela, como também depreende da leitura do salmo 127:1. Quem diz servir a Deus em resposta a um chamado ou vocação, mais honrosamente serve do que aquele que só o faz por formalismo, que só o faz por mera razão profissional. É assim no ministério pastoral e noutras vertentes da vida social.

Daí a razão de orar-se pelos profissionais, porque também a eles vêm encetados dardos do adversário (porque ferindo o pastor, as ovelhas se dispersarão). Dado que se multiplica o número de igrejas no país, é expectável que mais gente, dentre as populações, se levante para exercer o dom da instrução da palavra, do ensino e demais dons espirituais, sendo cooperadores uns dos outros, para mais dignamente abençoar-se a humanidade. Entre tanto, as igrejas têm compromisso com a verdade, principalmente, ajudando a corrigir o que está mal e melhorar o que está bem. Nisto está o cume da nobreza da vocação pastoral.

Quando os fieis se habilitam a ver os males sociais e lutar contra eles, denunciando os prevaricadores, enfim, trazendo a luz os males ocultos, sem ambições camufladas. Todo o pastor que ao fim da sua militância ou itinerância não provar que o “rebanho” está completo, em segurança no aprisco, limpo e saudável, dará conta disso. A nobreza da vocação pastoral não está em ser parceiro do Estado mas sim em cooperar para educar com distinção, excelência, grandeza, majestade, magnanimidade e imponência, com fito no desenvolvimento humano.

POR: Manuel Cabral