O perigo da “adultização”: deixai as crianças serem crianças

O perigo da “adultização”: deixai as crianças serem crianças

Não poderia terminar o mês de Abril, um mês no qual se celebra o dia da literatura infantil, sem falar desse assunto que tem sido uma tortura para quem quer que nele se reveja: “A Adultização”. Tem sido muito triste aceitar a realidade que se tem constatado nas escolas, igrejas e todos outros lugares onde coabitam um grupo de crianças.

Não é de hoje a grande e grave “adultização” a que muitas crianças são expostas pelos seus encarregados, como forma, sabe-se lá de quê, porque na verdade nunca entendi a verdadeira intenção desses encarregados com essa atitude. Infelizmente, já há um bom tempo que as crianças, na nossa sociedade, deixaram de ser crianças, deixaram de viver criança, deixaram de sentir criança, deixaram de fazer criança e deixaram a criança.

Por hoje, um bom número de criança só é criança, porque tem a idade de criança tal qual estipula o Manual de Convenção sobre os Direitos da Criança – criança é todo o ser humano menor de 18 anos de idade… A “adultização” é o processo de querer acelerar o desenvolvimento das crianças para que se tornem logo adultas; é a aceleração das fases da vida, sem dar espaço para que a criança viva esse período e, depois, a adolescência, como deve ser; é dar a ela uma estimulação inadequada, levando-a a entrar no mundo adulto, antes mesmo de estar com o desenvolvimento físico e psicológico completos.

E essa “adultização” não parte, inicialmente, das próprias crianças, não! Infelizmente, os pais e encarregados de educação são os protagonistas e promotores desse desvio comportamental que tem assolado, nos últimos tempos, maior parte da sociedade angolana só para não falar do mundo. E a responsabilidade não para por aí, nos pais e encarregados, não. Nesse pacote, entram os media, principalmente, e os seus cooperadores: músicos e outros seres que influenciam o regulamento comportamental de qualquer sociedade.

O dia a dia das crianças, muitas vezes, vem acompanhado de valores e expressões culturais que nem sempre correspondem à expectativa de uma verdadeira infância. Nossa sociedade valoriza a beleza, a moda e a fama provenientes de filmes, de telenovelas, das propagandas e da supervalorização dos programas apresentados pelos media. Diante desses factos, que afectam as crianças, é preciso rever continuamente nossas atitudes e como educá-las com amor.

As crianças, embora estejam imersas nos comportamentos, nas linguagens, nas relações e nos universos do mundo dos adultos, elas anseiam pelo brinquedo, pelas brincadeiras infantis e pelas oportunidades de conviverem e brincarem com outras crianças. O facto de querer ser adulto antes da hora, compromete a identidade de ser criança e, consequentemente, pode levar a uma vida adulta mais tímida. Nesta relação precoce com o adulto, o ser criança se “adultiza”, confundindo os limites que diferenciam uma fase da outra. É uma pena que os pais e encarregados de educação estão longe das consequências que esse desvio comportamental pode causar para a criança: a perda da infância, da socialização, da colectividade e do mais importante, a fase do brincar livremente.

Os adultos armaram-se de uma falsa ideia de que, toda criança precisa ser adulto: dançar e cantar músicas de adultos, vestir as crianças com os estilos dos adultos, pintar e alisar o cabelo das meninas, o uso de maquiagens tudo isso com o intuito de exaltar a beleza da criança. Parece que os adultos esqueceram-se de que, lá no fundo, o seu principal papel é proteger a infância e garantir que as crianças possam viver felizes cada fase do seu desenvolvimento. Parece que não entendem que, a “adultização” impede a criança de desenvolver suas oportunidades de brincar e viver feliz cada dia.

Os adultos ignoram o facto de que, esse processo pode causar baixa autoestima, assim como adiantar a maturação afectiva e sexual da criança. (tal como escreveram os especialistas na matéria). Por fi m, uma criança que não aproveita a infância pode se tornar um adulto infantilizado. Por sentir falta de não ter vivido alguns processos, passa a ter comportamentos infantis e uma baixa inteligência emocional.

É muito importante deixar as crianças viverem a infância na sua totalidade. A rotina da criança é para viver a infância e brincar em plenitude. Para a criança, brincar é uma necessidade, pois essa actividade é muito importante para o seu desenvolvimento. A adultização não é um processo natural, pois a criança precisa passar por todas as fases do desenvolvimento para ter uma vida saudável. Cada coisa tem o seu tempo, respeitemos a infância.

POR: Olímpia Salucundji