ICRA impulsiona aprendizado das línguas nacionais

ICRA impulsiona aprendizado das línguas nacionais

O Instituto de Ciências Religiosas de Angola (ICRA), em Luanda, está a impulsionar o ensino das línguas nacionais kikongo, kimbundu e umbundo, no 1º, 2º e 3º anos do ensino médio

A intenção, segundo a instituição, é habilitar cada estudante a falar uma língua nacional, à sua escolha, independentemente do seu idioma de origem. Durante a matrícula, o estudante não tem conhecimento da implementação das línguas nacionais, e acaba por descobrir no primeiro dia de aula, podendo assim escolher apenas uma, independentemente da sua língua de origem, permitindo-lhes assim ganharem o gosto e amor pelas línguas patriotas, e preservá-las. Embora a escola não ofereça manuais, dispõe, contudo, de uma biblioteca com livros e dicionários das três línguas: kimbundu, umbundo e kikongo, onde os estudantes fazem as suas pesquisas.

Por ser livre e espontânea a escolha das línguas, muitos estudantes acabam por interessar-se por uma língua diferente da sua, para aprender. É o caso do jovem estudante, Mário Zua de 17 anos, natural do Cuanza-Norte, que tem com língua de opção o kikongo. Fascinado, disse ter escolhido o referido idioma por ter estudado kimbundu desde a iniciação, na escola Santa Marta e achou melhor aperfeiçoar-se na língua kikongo. “Não está a ser fácil aprender o kikongo, mas estou a esforçar-me, e sempre que posso vou à biblioteca da escola, ou mesmo no Cazenga, pesquisar. Não é fácil aprender uma língua, independentemente de ser nacional ou estrangeira, mas desde que tenhamos vontade conseguimos”, realçou Mário Zua, aconselhando a todos os que não gostam de aprender as línguas nacionais, a experimentarem e pesquisarem mais sobre as línguas patriotas, visto que são elas que nos identificam como angolanos.

Já Clementina Chikete, professora de língua umbundo, do Ensino Superior no ISUP e Médio no ICRA, considerou importantes as línguas nacionais, por nos ajudarem a interagir com diferentes povos. A professora enalteceu a ideia do ICRA em implementar as línguas nacionais no seu sistema de ensino. Actualmente, a classe do primeiro ano, dos Curso de Educador Social e Comunicação Social, são as mais difíceis de leccionar a língua nacional, por serem as primeiras em que os estudantes tomam o contacto com a língua, visto que os pais em casa não falam as suas línguas de origem com os fi lhos, preferindo dialogar em português, dificultando assim a sua aprendizagem. Tal situação, acrescentou, é diferente dos estudantes do II e III ano, por adaptarem-se e dedicarem-se principalmente à escrita e conseguem redigir perfeitamente, ganhando gosto e orgulho pela língua.

Já no que diz respeito ao aproveitamento dos estudantes , a professora disse não ter quaisquer motivos para reclamações, uma vez que os seus alunos dificilmente vão ao recurso, nunca desistiram das aulas a não ser, por razões financeiras. “Pensava que estudar línguas nacionais era uma perda de tempo. Hoje, consigo perceber a sua importância, por ter aberto uma porta na minha vida. Graças à aprendizagem das línguas nacionais, hoje sou leitora de umbundo na minha Igreja e consigo conversar com os meus avós em casa”, disse Clementina Chikete, acrescentado que a aprendizagem da língua nacional deu-lhe também a capacidade de interagir com outras pessoas, principalmente quando vai à sua terra natal, o Cuanza-Sul. “Consigo ver a importâncias da língua patriota a cada dia que passa”, justificou.

Por sua vez, Virgília Chimbi de 18 anos de idade, estudante do II ano no ICRA, lamentou o facto de muitos jovens ignorarem as línguas nacionais, pensando que só os das zonas rurais podem e devem falar, não é correcto. “Podem até desprezar as vossas línguas maternas, mas um dia a vida há – de cobrar-vos, principalmente nas áreas profissionais”, realçou a estudante, salientando que, embora o maior problema de tal ignorância parta do Estado, haverá momentos oportunos para vangloriar as nossas línguas, como no momento de eleição. “Com o surgimento da Covid-19, vimos igualmente a criação de vários programas em línguas nacionais, mas quem nos garante que, com o fi m do Coronavírus, os programas não sumirão?”, questionou Virgília Chimbi .

Programa de ensino angolano não ajuda no progresso das línguas nacionais

Neste caso particular, o professor de kimbundu no ICRA, Miguel Lubwatu, admitiu que falta muito para se sentir a importância das línguas nacionais em Angola, uma vez que o processo de ensino implementa o aprendizado das línguas estrangeiras desde o I ciclo e não faz o mesmo com as línguas patriotas. Referiu que as línguas nacionais poderiam fazer parte do processo de ensino e aprendizagem e do desenvolvimento endógeno do país.

O docente salientou que existem poucas escolas no nível do país, que leccionam as línguas nacionais e cita algumas como o ICRA, Mutu Ya Kevela, Elisângela Filomena e Nossa Senhora da Assunção. Já no que se refere ao ensino superior destaca a Faculdade de Humanidades, o ISUPE, a Faculdade de Ciências Sociais e a Universidade Jean Piaget. Miguel Lubwatu destaca, igualmente, o maior desempenho dos alunos do ICRA nesta matéria, uma vez que tem trabalhado com os mesmos na valorização do kimbundu, por ser o veículo da sua Cultura. “Os alunos dão importância até melhor que outras disciplinas. Não tenho razões de queixa neste domínio. Tenho recebido muitos elogios sobre o ensino e aprendizagem dos alunos por parte dos encarregados”, acrescentou.

Por sua vez, o também professor de língua nacional kimbundu, do Ensino Superior e do Médio, Joaquim Jaime Zage, afirmou que o ensino de línguas nacionais tem sido um problema, uma vez que o próprio Decreto Educacional não valoriza as línguas. Sublinhou que a língua portuguesa e as estrangeiras são implementadas desde cedo nos programas escolares, o que não acontece com as línguas patriotas. “Lecciono no ICRA há oito anos a língua kimbundu e nos meus primeiros anos, os estudantes eram bons de mais. Tinham vontade de aprender e conhecer as línguas de origem, empenhavam-se em dominar as línguas nacionais, dando importância e defendiam o que aprendiam”.

POR: Maravilha de Almeida