Aperto à Covid força partidos a reiventarem estratégias de mobilização pré-eleitoral

Aperto à Covid força partidos a reiventarem estratégias de mobilização pré-eleitoral

Assim como noutras esferas da vida social, a política também não tem alternativas senão ajustar a estratégia de mobilização ao actual contexto pandémico onde se exige o máximo de distanciamento físico entre as pessoas

Ultrapassado que vai ficando cada vez mais o contacto directo com as massas em comícios políticos, face ao “novo normal” trazido à baila, desde o ano passado, pela Covid-19 que, diariamente, soma e segue em números de casos, os partidos correm na reinvenção de novas estratégias de mobilização para se aproximarem do seu público alvo neste que é considerado o ano pré-eleitoral em virtude das eleições de 2022.

Assim como noutras esferas da vida social, a política também não tem alternativas senão ajustar a estratégia de mobilização ao actual contexto pandémico onde se exige o máximo de distanciamento físico entre as pessoas, a julgar pelos números elevados de infecções que já ultrapassou os 28 mil infectados e uma quantidade de mortos acima das 600 pessoas.

Nas últimas semanas, com o país a registar números recordes acima dos 100 positivos, ao Executivo não restou alternativas senão adiantar-se no aperto e aplicação de medidas de prevenção contra a Covid-19, com destaque para o agravamento das sanções, redução de horários e limitação da capacidade dos espaços para evitar aglomerações e a manutenção da cerca sanitária à capital do país.

O ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, já deixou claro que não será permitida a presença acima do número estabelecido pelo actual Decreto, tendo anunciado o agravamento das multas por incumprimento das medidas de biossegurança na via pública, espaços públicos e em locais de aglomerados populacionais.

Estas medidas acontecem num cenário em que os principais partidos políticos já estavam a afinar as suas máquinas mobilizadoras, com uma forte aposta dos seus principais cabos eleitoras e reformas internas, para entrarem em acção com vista a mobilização de novos militantes.

É o caso do MPLA, que, em pleno ano pré-eleitoral, pôs em campo parte dos seus principais “operativos” políticos que têm um farte faro mobilizador de reconhecida capacidade. Tirar Rui Falcão de Benguela para comandar o secretariado para a informação do partido, cargo que já exerceu no passado, e, trazer à ribalta para Luanda Bento Bento, que, por sua vez, arrastou consigo Bento Kangamba, é enquadrado por especialistas como das grandes estratégias eleitorais do partido MPLA neste ano pandémico.

No entanto, as medidas que visam a um aperto cerrado contra a Covid-19, na visão de especialistas, acaba por esfriar as acções dos partidos políticos que têm no frente a frente com o público o mecanismo mais rápido de chegar aos militantes. Isso mesmo reconheceu Bento Bento, primeiro secretário do MPLA em Luanda, à margem da sua tomada de posse, tendo dito que os militantes da capital do país “gostam de ser acarinhados”.

Reinventar novas estratégias de contacto e mobilização é a alternativa que resta aos partidos que agora precisam fazer contas e acertar o relógio, ajustando as políticas de mobilização ao novo Decreto Presidencial.

Neste sentido, observadores não têm dúvidas de que os partidos deverão apostar forte nos seus “mobilizadores de banca” que, de um lado para outro, nas redes sociais, com realce para o Facebok, devido a sua especificidade e alcance, vão mobilizando centenas para a sua esfera partidária.

No entanto, OPAÍS sabe que, as redes sociais há muito que já deu sinal de importância e assume-se, na visão de especialistas, como uma verdadeira praça eleitoral, embora, recentemente, o secretário- geral do MPLA, Paulo Pombolo, tenha alertado os principais opositores políticos sobre a necessidade de não confundirem a política real com a política feita pelas paragens virtuais.

O político disse que alguns partidos têm apenas militantes virtuais mas que, na prática, não os seguem porque o seu MPLA é o partido que o povo angolano quer continuar a ver no poder para a realização das suas necessidades.

Mas, ainda assim, Pombolo reconheceu a importância vital que as redes sociais, sobretudo o Facebook, têm na mobilização e conquista de militantes, fundamentalmente no segmento mais jovem, que é a maioria do eleitorado nacional.

E nesta conquista do eleitorado pelas avenidas das redes sociais, quer o MPLA como a oposição dispõem de reconhecidos mobilizadores de bancada que contra todos os argumentos defendem à medida as suas cores partidárias.

Recentemente, a lista de mobilizadores de bancada do MPLA foi duramente golpeada, a semana passada, com a morte por acidente de Soba Malanje, secretário do Departamento para Informação e Propaganda do partido no Cuanza-Norte. Mas, ainda assim, perfilam-se, entre outros, João Pinto, Matos Mota Kiko e David Pedro Mandavid que pelas suas posições mostram estarem prontos à disputa política.

UNITA assume adaptação

Já a UNITA também conta com uma lista bastante conhecida de dirigentes seniores que pelas redes sociais desenrolam-se em campanhas políticas na conquista de militantes.

Nelito Ekukui, Adriano Sapiñala, Liberty Chiaca, Mihaela Webba e Benedito Salakiako constam dos mobilizadores de bancada bastante interventivos que o partido dispõe nas redes sociais.

O porta-voz da organização, Marcial Dachal, assumiu, a OPAÍS, que as condições impostas pela Covid-19 fizeram com que o partido adoptasse novas formas de fazer política, sobretudo bastante viradas para as redes sociais.

O político reconheceu a necessidade de alteração do quadro de actuação porque o momento actual impõe e recomenda novas formas.

Para Marcial Dachala, a UNITA está habituada a “grandes batalhas” e desafios, pelo que as dificuldades impostas pela Covid-19 é mais uma etapa que o partido pensa em vencer.

“Infelizmente a pandemia não é apenas um problema de Angola. É uma situação do mundo inteiro. E todos só temos de nos adaptar e não ficar parados”, apontou.

CASA-CE prioriza respeito à vida

Já o presidente da CASA-CE, Manuel Fernandes, disse que a sua organização programou, para este ano, uma série de actividades de massa mas que, no entanto, em função das medidas restritivas sobre a Covid-19, terão de ser redifinidas para próxima altura.

Segundo o político, a sua organização tem a vida como prioridade e é contra toda acção que venha pôr em causa este bem insubstituível.

De acordo com o político, dentro da estratégia a coligação pretende reestruturar a acção a nível das redes sociais por ser um espaço que poderá cobrir as metas afectadas pela pandemia.

Manuel Fernandes reconheceu ainda que, em relação as outras forças partidárias, a CASA-CE está atrasada no contacto com os militantes a partir das redes sociais.

“Mas agora é um desafio que decidimos abraçar para melhorar a nossa actuação já que as redes sociais constituem um local de interessantes batalhas políticas”, apontou.