É de hoje…Covid e os mercados

É de hoje…Covid e os mercados

Um anúncio tornado público ontem indicava a realização de uma campanha de sensibilização ao uso da máscara no Mercado do KM 30 em Luanda. Situado no município de Viana, ainda a meio de uma polémica quanto à sua titularidade, é uma das principais ‘bolsas de valores’ do país, sobretudo depois do desaparecimento do Roque Santeiro, no Sambizanga, cujos vendedores acabaram espalhados em várias partes da capital e do país.

O mercado do KM 30, não obstante as receitas que gera todos os dias, que não é pouco se tivermos em conta o número de vendedores aí instalados, é também tido como um dos que menos condições de higiene apresenta em várias sectores. Na época chuvosa, fica praticamente despida qualquer ideia agradável em relação ao espaço, sendo, entretanto, sem receios, também um foco de doenças. Quando se deu o início da Covid- 19 no país, uma das maiores preocupações das entidades de Luanda tem sido o comportamento daqueles que fazem da zunga, dos mercados e de outros pontos de venda a única forma para terem acesso ao pão de cada dia. Só por isso, sempre que se altera uma determinada medida dos decretos presidenciais, o Executivo tem sempre a preocupação de olhar para o funcionamento destas. Ora encurtando o tempo, outras vezes alargando, para que os vendedores não se sintam constrangidos nas suas actividades. Infelizmente, se, por um lado, o Estado se preocupa em não atrapalhar as vendas, do outro os vendedores deveriam, no mínimo, fazer com que estas vendas pudessem ocorrer sem sobressalto. Para tal, bastava apenas cumprirem as medidas de segurança para não colocarem as suas vidas em risco e muito menos as dos seus parentes.

Falar do mercado do KM 30 pressupõe, claramente, uma incursão também nos outros espaços do género, que se podem transformar em autênticos focos de transmissão, numa fase em que, em Luanda, já se assiste a circulação comunitária das estirpes sul-africana e inglesa, apontadas pelos médicos e outros entendidos na matéria como mais contagiosas e mortíferas também. As imagens passadas esta Sexta-feira pela Televisão Pública de Angola demonstraram o descaso de muitos. Quando não se acredita até na existência da doença, então alguma coisa deve ser feita no sentido de se reverter isso.

Mais do que se digladiarem por causa das receitas, que é sempre motivo de desavenças nas administrações municipais que albergam mercados como o do KM 30, os seus responsáveis deveriam também ser proactivos, desenvolvendo campanhas de sensibilização internas sem esperar que elas cheguem apenas por intermédio das organizações não-governamentais e de outras agências.

Não é preciso ser um perito para termos noção que estes mercados se constituem em autênticas fontes de enriquecimento para uns tantos sortudos. Por isso, até uma simples campanha de lavagem das mãos, uso de máscaras e outros cuidados pode, muito bem, sair das receitas que elas próprias produzem.