A língua portuguesa de Angola não é inferior à língua portuguesa de Portugal

A língua portuguesa de Angola não é inferior à língua portuguesa de Portugal

Há dois dias do dia Mundial da Língua portuguesa, 05 de Maio, ainda estamos na ressaca do dia, quer dizer, reflectir à volta da língua portuguesa ainda é afável! A língua portuguesa começa a fazer parte como uma marca de Angola desde a chegada dos portugueses em Angola, pela primeira vez, em 1482, num longo processo de colonização, os portugueses dominaram os angolanos, sendo a língua a primeira identidade de um povo, e porque a língua dos portugueses é o português, para que a comunicação fosse mais eficaz, logo, a aprendizagem da língua portuguesa passou a ser um ente “sine qua non”.

Depois do alcance da independência, em 1975, Angola adopta a política linguística exoglótica – tornando a língua do colono a única língua oficial -, a carta magna faz menção disso, no artigo 19, e a língua portuguesa passou a ser como a única língua de escolarização _, isso, segundo a lei de base do sistema de ensino, artigo 16. Quer dizer, o português passou a ser a nossa identidade, a nossa língua, aliás, coabitamos com ela há mais de cinco séculos, quer dizer, no nosso espírito tem a língua portuguesa. Muitas posições nas nossas sociedades dão a entender que a língua portuguesa falada no Portugal é a mais bela, é a mais recomendável, eu, inclusive, já fui obrigado a assistir à RTP para que eu pudesse ter uma dicção à semelhança dos tugas, afinal, andamos a ridicularizar o nosso português, porque se pensa que por a gente aprender o português com eles, nós seremos sempre aprendizes e eles sempre serão os modelos de fala para nós.

De jeito nenhum! Afinal, a gente já coabita com a língua portuguesa há mais de cinco séculos, e essa geração dos portugueses ninguém tem mais de dois séculos de existência, então, a aquisição da língua portuguesa com essa geração é a mesma que a nossa geração, o que nos muda é a penas os contextos, ou seja, as localidades. Por outra, a hierarquização das línguas centra-se nos números de falantes, hoje, a língua portuguesa ocupa o lugar que ela apresenta – como uma das línguas mais faladas – por conta do número de falantes, não é factor dicção, ou a super valorização de uma e a baixa de outras. E falar do número de falantes, numa sondagem feita no ano de 2019, Portugal apresentava a estimativa de 10, 28 milhões de habitantes; já Angola, a estimativa para 2019 foi de 31, 83 milhões de habitantes, quer dizer, embora nem todo mundo fale a língua portuguesa em Angola, ainda assim, o facto é que o número de falantes da língua portuguesa em Angola duplica o número de falantes no Portugal.

Ademais, do ponto de vista linguístico, não existem pressupostos que faz com que uma língua ou uma variante seja vista como a melhor, tal como sublinha FARIA (2003, pp. 33-34) ”…uma variedade não se possa considerar mais ou menos correcta do que outra, uma vez que cada variedade funciona para a respectiva comunidade linguística…” e também MATEUS & VILLALVA (2006, pp. 27-28) “a presunção de que há línguas melhores ou mais importantes do que outras radica integralmente em raciocínios preconceituosos, semelhantes, aliás, aos que tomam a norma de uma língua como um dialecto mais correcto, respeitável ou sofisticado do que outros ou aos que consideram que os crioulos não são línguas ou são línguas deficientes, ou àqueles que afirmam que a gramática de uma dada língua é mais complexa ou difícil do que a de outra…” Então, se não existem pressupostos para que se considere uma língua ou variante melhor, por que razão as pessoas ainda vejam a variedade portuguesa como a ideal? Em particular, Angola ainda tem como norma-padrão a norma europeia.

Será que é o fruto da colonização? Que vêem de belo no falar português? Que vêem de feio no falar angolano? Como em pleno século XXI, muitos dos jornalistas angolanos procura imitar a dicção dos portugueses?! Não conseguimos ser o que somos! Vexame! Ainda no que diz respeito à norma-padrão adoptada em Angola, uma imitação autêntica a de Portugal, faz com que a gente mostre ao mundo que ainda não aceitamos o nosso jeito de falar, achamos a nossa língua portuguesa feia, ridícula, inferior à de Portugal, pois as razões para que se adopte uma norma como a padrão, na visão de ADRIANO (2015, P. 47) – históricas, geográficas, sociais e culturais -, infelizmente, não dizem respeito à nossa realidade, sim à realidade portuguesa, então, impomos realidades estranhas às nossas realidades, manifestando a não valorização da nossa realidade. Que fique claro: o português de Angola não é inferior ao português de Portugal nem é superior ao português de Moçambique ou a de qualquer país da CPLP. A importância de qualquer língua ou variedade linguística é a comunicação, pelo facto de todas línguas permitirem a comunicação, então, todas línguas ou variedades são importantes, superiores, belas, para as suas comunidades linguísticas.

POR: Adilson Fernando João