Justina Praça:“O meu foco agora é a AMUD”

Justina Praça:“O meu foco agora é a AMUD”

A presidente da Associação Angolana a Mulher e o Desporto (AMUD), Justina Praça, em entrevista exclusiva a O PAÍS, fala dos projectos que tem em carteira para o ciclo olímpico 2020/2024, bem como de algumas dificuldades por que passa o desporto na classe feminina. A antiga jogadora, que nasceu no município de Quilengues, na província da Huíla, começou a sua carreira no 1º de Maio de Benguela, sendo que passou pelo 1º de Agosto, Petro de Luanda e no Metz de França. Com a camisola da Selecção Nacional, a antiga guarda-redes conquistou vários campeonatos africanos e participou em dois Jogos Olímpicos

Que balanço faz das actividades já realizadas cinco meses depois de assumir a presidência da Associação Angolana a Mulher e o Desporto (AMUD)?

Podemos considerar um balanço positivo, porque nos primeiros cinco meses à frente da Associação Angolana da Mulher e o Desporto (AMUD) realizamos actividades desportivas, sociais, “O meu foco agora é a AMUD” palestras. Não aconteceu somente em Luanda. Ora bem, as actividades supracitadas aconteceram nas provinciais onde temos delegações.

Quais são as províncias?

Neste momento, temos treze delegações provinciais (Luanda, Bengo, Zaire, Lunda-Norte, Malange, Huíla, Cunene, Namibe, Huambo, Bié, Moxico, Uíge e Benguela), mas estamos a trabalhar para expandir as associações em todo o país.

Qual é o papel da AMUD?

A nossa associação tem o papel de promover e inserir a mulher no desporto, bem como palestras e seminários. Estamos a trabalhar para a criação de um diploma legal para reconhecer mais a mulher no desporto e na sociedade.

Que são os projectos da associação?

Na verdade, temos projectos que podem sofrer alteração por causa do surgimento da pandemia do novo Coronavírus “Covid-19”, doença que está assolar o mundo. Ainda assim, há um projecto que visa sensibilizar as antigas jogadoras a apostarem no dirigismo em prol da edificação do género no desporto. Para concretizar este objectivo, vamos cooperar com o Ministério da Juventude e Desportos (MINJUD) e o Ministério da Educação.

Como é que a AMUD consegue verbas para realizar os projectos que prometeu aos associados durante a campanha?

A gestão financeira é algo que estamos a tratar e vamos continuar a resolver durante o nosso mandato com os órgãos de direito.

Pode explicar melhor?

Estamos na fase inicial do mandato, por isso acho melhor não entrar em detalhes, mas estamos a manter contactos para conseguir patrocínios para a realização de actividades.

Que legado encontrou da direcção anterior?

Graças a Deus, encontramos um bom legado e uma casa arrumada pela direcção que tinha à testa Odeth Tavares. Aliás, é bom frisar que ela foi minha colega na Selecção Nacional e jogávamos na mesma posição, guarda-redes.

O que pensa mudar naquilo que a direcção cessante deixou?

É claro que temos novas ideias para melhorar aquilo que for necessário. Pelo contrário, não temos que reclamar o trabalho feito pela direcção cessante.

Associação tem sede social própria?

Não temos sede social própria.

Afinal, onde é que a AMUD trabalha?

Desde a fundação da AMUD, há 11 anos, o Comité Olímpico Angolano (COA) nos cedeu o espaço da Academia Olímpica, na Cidadela Desportiva, em Luanda, onde estamos até à data presente. Claro que precisamos de uma sede social própria e se for no centro da cidade melhor, porque facilita o acesso. Vamos tentar resolver neste quadriénio olímpico. Aliás, a falta de um espaço próprio para trabalhar é um problema antigo que as anteriores direcções sempre se debateram, infelizmente não conseguiram resolver.

O que falta para conseguir a sede social?

Quanto à razão de ainda não termos espaço próprio são inerentes as dificuldades financeiras que vivemos, ou seja, que o país atravessa. Ainda assim, tenho fé e creio que com o apoio da Senhora ministra da Juventude e Desportos, Ana Paula do Sacramento Neto, teremos a sede da nossa associação. A esperança nunca morre.

O número de mulheres no dirigismo angolano satisfaz a AMUD?

Não estamos tão mal assim, porque temos mulher na presidência da Federação de Ciclismo, de Ginástica, na Associação Provincial de Patinagem de Luanda e mais três vice-presidentes em diferentes federações. Ainda assim, a predominância continua nas mãos dos homens. Agora nós, mulheres, antigas praticantes, temos que ter a ousadia de conquistar também os lugares decisivos nas federações e nos clubes. Aliás, a política do Executivo é equilibrar o género nos mais diferentes sectores do país. Neste momento que a Covid-19 está assolar o mundo, há clubes em Angola que estão a extinguir as equipas femininas por alegada falta de condições financeiras.

Este assunto preocupa a AMUD?

A manutenção das mesmas no contexto da pandemia acarreta consigo custos financeiros adicionais e o cofre dos clubes não suporta.

Há duas semanas o Presidente da República, João Lourenço, lamentou o estado em que se encontra o desporto angolano. Qual tem sido o contributo da mulher no desporto?

É verdade que o Presidente da República lamentou o estado actual do desporto angolano e foi uma boa observação. No passado atingimos o auge em quase todas modalidades desportivas. Dominamos o continente africano e agora estamos a regredir, porque não melhoramos a massificação. Para sairmos desta situação, temos que apostar seriamente na massificação por via do desporto escolar. Temos de ter centros de treinamentos especializados nas comunidades. A competição interna ao nível das camadas jovens e os resultados vão aparecer por si, bem como os talentos. É bom recordar que o contributo da mulher no desporto tem sido grande e notável tanto no desporto colectivo e no individual. São as mulheres que mais levantaram bem alto o nome de Angola na arena internacional. Na verdade, as mulheres conquistaram o maior número de troféus internacionais para o país.

Há ou já houve muitos casos de assédio no desporto feminino?

Hum! Risos… Isto é como tudo… Em toda a esfera da vida existe assédio e o desporto não é excepção, risos…

O andebol é a modalidade que lhe identifica. Que avaliação faz do estado actual da modalidade?

Apesar da realização dos campeonatos nacionais seniores em masculino e em femininos, provas que decorrem no Arena do Kilamba, em Luanda, temos que estar cientes de que os clubes não tiveram tempo suficiente para preparar os atletas.

O título do Nacional feminino é habitualmente discutido entre o Petro de Luanda e o 1º de Agosto. Isto não é um risco para a modalidade no país?

Claro que sim. É , sem dúvida , uma ameaça para a modalidade, porque não é salutar para o desporto “dos sete metros” que o título seja somente discutido por duas equipas. Ou seja, quanto maior for o número de clubes, mais praticantes teremos e maior será a base das seleccionadas. Este problema tem sido transversal nas demais modalidades por causa das dificuldades financeiras.

Quem é actualmente a melhor jogadora angolana de andebol?

Em cada geração se destacam diferentes jogadoras. Na actual geração, temos vários nomes , começando por Albertina Cassoma, Isabel Guialo, Magda Cazanga, Natália Bernardo e outras.

O que Angola deve fazer para manter a hegemonia da modalidade em África?

Para manter a hegemonia do andebol em África, Angola deve continuar a apostar na massificação e na formação de técnicos em todo o país.

O andebol masculino carece de atenção redobrada?

Com certeza! Acho que devemos ter mais atenção no que diz respeito a captação do jovem praticante para não corrermos o risco de captar atletas sem perfil para modalidade. Tem sido feito muito esforço nesse sentido por parte dos clubes, mas, ainda assim , não é suficiente para os desafios internacionais.

Pensa um dia candidatar-se à presidência da Federação Angolana de Andebol (FAAND)?

Dos campeonatos e feitos desportivos que o andebol feminino já conquistou, acho que qualquer uma das antigas andebolistas tem capacidade para liderar e assumir os destinos da Federação. Neste momento, te – mos uma vice-presidente e quem sabe um dia o andebol não será dirigido por uma mulher. O meu foco agora é AMUD, mas veremos o que Deus tem preparado para mim.