A língua roça, mas não levanta. Canta e nem sempre encanta! Manda, mas tem dias que não se mexe do papel. Ferve em pouca água e muitas vezes se evapora em inglesismos inertes e outras conspirações menores. Angolana, brasileira, portuguesa é imortal. É dos 5 continentes e de todos os oceanos. A nossa língua vem de um passado onde ainda permanece — como nenhuma outra conseguiu permanecer — até a um futuro onde continua a se expandir descoordenadamente na diáspora mais palpitante, pacífica e demorada da história.
Porque a língua portuguesa não é apenas um instrumento de comunicação, ela poderia ser uma plataforma de futuros. Mas sendo tensão e tesão, proximidade e inclusão, ela não se atina, não se afina e teima em não desenhar no seu mapa da cultura o caminho desejado para a grana pura. A língua é uma, mas não é una. É portuguesa, mas não é só de Portugal. A língua é de falantes que não têm geografia. Nem noite, nem dia. É de muitos meridianos sem paralelo. De mundos coincidentes, que apostam em não se cruzar. A língua que é dos negócios, é mais de afetos. Sofre no rigor das pautas aduaneiras, como se alegra nos versos de poetas analfabetos. Ela se desconforta no trade com os mares da china, mas logo rejuvenesce numa pista de dança e num trago de caipirinha.
Prefere os amantes sem dinheiro. Odeia o Rockefeller, mas ama o Roque Santeiro. A nossa língua é afiada e agiota. É calada e poliglota (mesmo dentro da mesma língua) como o embaixador de Portugal Luís Faro Ramos escrevia no Correio Brasiliense; citando Vinícius Terra do lado do Dino D’Santiago e da Sara Correia. “Meu bairro, minha língua” — embaixador, é a terra inteira! Porque a língua tem de ser grana. Dinheiro. Cumbu, dimdim, bom mealheiro. Vil metal, muita massa. Papel moeda, capim, tutu, pila e prata. Não é só chamego e chorinho. Coitadinha e coitadinho. Riqueza! Tá certo, a língua é primeiro poesia, mas a fila nunca anda e a vida logo passa.
É preciso encontrar maiores caminhos nas baladas e nos fados, e outros lugares lucrativos, mesmo que inesperados. A língua e a grana andam juntas em cada “padoca” de São Paulo. Na Belezura do Rio. No tri relax do outro Rio mais ao Sul. Caminham lado a lado, em cada lado do mar. Nas empresas da baia de Luanda, nas reservas gasosas de Maputo, das praias da Praia em Cabo Verde, no petróleo de Dili e em outros milhares de oportunidades que no mundo inteiro falam português. A língua tem de bazar só do verso para ser dos negócios em rede, de tuítes multi oceânicos, de universidades globais e das conquistas do futuro. Tem de ser da inovação e dos investimentos globais.
O que mais falta à nossa língua é ambição para querer ser marca do futuro. Ambição para poder explicar ao mundo, sem equívoco — ou demora — que América, Europa, África, Oceânia estão tão unidas por Camões e Pepetela como pelo comércio e os negócios. Um dia a nossa língua vai ser assim. Até porque, como escreveu Eça de Queiroz, “a luta pelo dinheiro é santa, porque ela é, no fundo, a luta pela liberdade.”
POR: José Manuel Diogo