Pandemia obriga mecânicos a “zungarem” seus serviços

Pandemia obriga mecânicos  a “zungarem” seus serviços

Profissionais de mecânica, no bairro do Golf I, imediações do Mercado dos Correios, foram forçados, por conta da pandemia da Covid-19, a vender os seus serviços na estrada principal e a sair das suas “zonas de conforto”. A crise e a baixa de clientes fez com que saíssem do mercado e “invadissem” a estrada

Quem conhece perfeitamente o Mercado dos Correios, verá que logo no início da rua principal, isto é, no famoso controlo da Polícia, alguns cidadãos, muitos deles vestidos de fato macaco e com chave de roda nas mãos, passaram a ocupar os passeios, para vender os serviços de mecânica. Mais em frente, a meio do caminho, o número aumenta, sempre na direcçãodo mercado (saindo da Polícia) e, depois, no final da rua.

Esta prática tornou-se comum naquela zona, desde que se instaurou a pandemia da Covid-19 – trouxe um conjunto de restrições e de complexidades financeiras e económicas na vida da população. Os mecânicos saíram da sua zona de conforto – as mecânicas e o mercado dos Correios – e invadiram a estrada, numa luta sem tréguas à procura de clientes. Quem quiser comprar uma peça e montar, ou mesmo precisar de algum conserto, estes estão disponíveis, sob o slogan “reparação e trabalho mecânico”. Lázio Diogo Sebastião Marcelino, de 28 anos de idade, é mecânico desde os seus 15 anos e reconhece que as coisas ficaram mais difícieis desde que surgiu a pandemia ou as restrições por conta da mesma.

Os clientes deixaram de frequentar o mercado e, consequentemente, as empresas de mecânica existentes no bairro. O alívio das medidas restritivas impostas pelo Estado trouxe alguma lufada de ar fresco a estes profissionais, o que fez com que trabalhassem arduamente na conquista de mais clientes. “Hoje estamos a lucrar mais, não apenas por isso, também pelo facto de estarmos na época chuvosa. Com as águas paradas, as peças que mais estragam são os terminais, rolamentos e as cintas. Chuva, para nós, é sinónimo de trabalho”, disse. Nem todos os dias são bons, para o nosso interlocutor, pois há vezes que consegue consertar duas a três viaturas, e dias há em que fica sem reparar nenhum carro ou regressa a casa com “as mãos a abanar”.

Outros trabalhos além da mecânica

Os mecânicos, que muitas vezes ficam na estrada na esperança de conseguirem um cliente que quer ver consertada a sua viatura, acabam por fazer o trabalho de procura e compra de peças, também. A ideia, segundo o entrevistado, é que o cliente saia com o serviço completo. Entretanto, esta acção tem feito com que sejam confundidos com os famosos “mixeiros ou bofieiros”, pelo que Lázio Marcelino aproveitou a oportunidade para esclarecer que “os mecânicos não são “mixeiros”, o que acontece é que os proprietários das lojas dão-nos uma “gasosa” como forma de agradecimento por termos levado cliente à sua loja”.

Lázio tem na sua carteira um número considerável de lojas de confiança e partilha um largo com os outros mecânicos como sítio para a realização dos consertos automóveis. Quem também reconheceu que a crise pandémica trouxe dificuldades acentuadas na profissão de mecânico é José Joaquim, morador e mecânico do bairro Avô Kumbi. Também teve, por conta da fraca clientela, de sair do interior do mercado para “zungar” os seus trabalhos na estrada. “Muitos clientes apenas ouvem falar do mercado, mas não sabem como chegar lá. Por outro lado, o que me leva a estar na estrada é também o facto de não ter ainda um local fixo para trabalhar, como mecânico. Com os poucos trabalhos que faço já dá para sobreviver, embora a procura tenha reduzido bastante, nos últimos anos”, sublinhou.

Intermediários de clientes não ficam de parte

Na estrada principal, à procura de clientes, não ficam apenas os mecânicos, pois é uma zona que há muito é disputada pelos famosos “mixeiros” – que na verdade são intermediários ou pessoas que angariam clientes para as lojas de peças, bem como para os próprios mecânicos, e recebem alguma recompensa. Conversamos com Wilson Tito, de 22 anos de idade, intermediário no mercado dos Correios.

Ele tem a missão de convencer os clientes a comprar uma peça ou aceitar algum trabalho mecânico ou electro-mecânico. “Quando vou à loja com o cliente, faço um sinal ao vendedor para ele subir o preço da peça que o cliente quer comprar, de modo a que tenha a minha parte. Se, por exemplo, a peça custar 45 mil Kz, faço um gesto para subir o preço para 50 mil Kz”, explica. Disse que lucrou mais quando as lojas estavam fechadas, porque apenas as casas de processo abriam e tinha facilidade de fazer gestos para subir o preço. Os clientes não tinham muitas oportunidades de escolha, pelo que concordavam com os preços aplicados.