Projecto literário “Cantinho de Leitura” em escolas públicas incentiva o gosto e hábito pela leitura

Projecto literário “Cantinho de Leitura” em escolas públicas incentiva o gosto e hábito pela leitura

A jovem professora do ensino primário, Rosa Alexandrina João, é a mentora do projecto “Cantinho de Leitura”, que pretende ver implementado em escolas públicas do ensino primário, através da criação de uma biblioteca em cada uma delas

Esta iniciativa que pretende vingar, lançada a semana passada na sua página oficial do Facebook, com o objectivo de conseguir apoios, visa incentivar o gosto e hábito pela leitura nos mais novos, que têm frequentado as escolas nos vários municípios da cidade capital do país, com o intento de se dotarem de conhecimentos. O projecto que já possui um espaço físico, cedido na escola do ensino primário nº 1500, do Distrito do Rangel, onde a professora lecciona há dois anos, para assim dar o pontapé de saída, deste tão augurado plano. Segundo disse Rosa Alexandrina João, a presente intenção surgiu através das debilidades que tem constatado nos alunos, quanto à escrita, leitura e produção de textos.

Também, durante o processo da sua formação, em escolas públicas, disse que nunca constatou a existência de uma biblioteca escolar. Comovida com a situação, e para evitar que os petizes passem pelas mesmas dificuldades, pensou então em ajudar com o funcionamento deste espaço, para que eles possam ter contacto com os livros e melhorarem o seu aprendizado. “Sou produto de escolas públicas, e não me lembro, dentre as que passei, ter uma biblioteca escolar. Por isso, sei como é difícil frequentar uma escola sem este espaço. Nós queremos que os nossos alunos desenvolvam a escrita e a leitura, e aumentem o seu nível intelectual”, perspectivou. Esta acção, com a qual pretende dar o seu contributo social, após ser concluído, com a inauguração do espaço, pretende-se que seja expandido às demais escolas públicas da capital do país.

Cidadãos motivados pela iniciativa

Devido à sua relevância, vários os cidadãos mostraram interesse em apoiar, uma vez que se trata de uma acção benéfica para as crianças. Um destes é o arquitecto e urbanista de designer de interior, Alexandre Rodrigues, que fez o levantamento fotográfico do espaço e análise das condições. Rosa Alexandrina João avançou que o arquitecto vai estruturar o lugar, numa sala de aulas que já não é utilizada, cujas paredes precisam ser revestidas, de igual modo o chão, as janelas, e outros apetrechamentos necessários para o seu bom funcionamento. Avançou que o arquitecto terá já visitado o espaço e viu o que de facto precisava, tendo feito o levantamento 3D, sobre como vai ficar. Para si, o que pretende é que seja um lugar informal, mas confortável para os alunos. Além deste, há outros apoios para aquisição de estantes que vão conservar os livros, assim como uma cidadã, que vive no exterior do país, ofereceu-se em ajudar com com a entrega de duas mesas e oito cadeiras. “Na semana passada fiz o lançamento do projecto e as pessoas aderiram, fizeram promessas. Estão interessadas em apoiar esta causa. Quando divulguei não esperava receber todo esse apoio. Não pensei que teria esse alcance e agradeço por isso”, disse com entusiasmo.

Recolha de livros

Apesar de os trabalhos no espaço onde irá funcionar a biblioteca ainda não ter arrancado, a recolha de livros tem sido feita. Por isso, almeja ter entre obras didácticas e literárias, revistas, jornais e ainda artigos que abordam sobre sexualidade. Quanto aos temas ou género das obras, o facto de ser uma escola do Ensino Primário, até à 6ª classe, disse que os alunos devem ter a oportunidade de falar sobre os mais diversos temas, na companhia de um adulto, como o de sexualidade, da família e outros assuntos importantes. “Uma biblioteca escolar serve como uma extensão da sala de aulas. Também, queremos que eles ganhem o hábito pela leitura, isso porque não gostam de ler, e mostram não estar interessados no assunto.

Com o funcionamento deste espaço, poderemos mostrar-lhes a importância do livro. Como disse Victor Hugo Mendes: quem lê um livro nunca mais é a mesma pessoa, porque depois de adquirir o conhecimento será para a vida toda”, enfatizou. Após o funcionamento do espaço, dará abertura às outras escolas, principalmente aquelas com espaço físico, que possa permitir a realização do trabalho. Mas, a escola em que frequentou o ensino de base (1ª classe até a 8ª), na altura, nº 1518, no bairro da Terra Nova, que actualmente acolhe alunos do primeiro ciclo. “Peço também a todos que se comprometeram em apoiar, para que não nos larguem as mãos, porque queremos que isso dê certo. Precisamos de livros. As nossas crianças precisam de desenvolver a leitura, a escrita, se não o país não estará em boas mãos”, apelou.

Direcção da escola abraça projecto

Rosa Alexandrina João, empolgada com os resultados, disse ainda sentir-se feliz, pelo facto de a direcção da escola apoiar. E, também, por saber que será a primeira a ser contemplada. “A direcção da escola é nova e tem abraçado projectos do género. Está sempre pronta a ouvir iniciativas destas, de interesse geral”, reconheceu. A directora da escola, Anabela Domingos Francisco, considera a iniciativa como um grande bem para a sociedade, que dará ênfase àquilo que é a actividade em sala de aula, e, também, para educar os pequenos a criarem o hábito de leitura. “Como instituição escolar, não poderíamos estar de parte, sem abraçar este bem. Hoje, o mundo está evoluído e há muitas formas de aprender, como na Internet, mas uma biblioteca é sempre uma biblioteca. Estão lá os livros, para quando quisermos pesquisar.

Ajuda a saber ler, a memorizar e a documentar”, observou a responsável. Informou que este é o seu primeiro ano na direcção da instituição, e, que, uma das coisas que pensou, de mudança, era a criação de uma biblioteca, já que havia espaço para o seu funcionamento. Tem disponível para o espaço livros de literatura infantil e outros didácticos, correspondentes a este nível de ensino. “Quando a professora chegou com esta ideia, os meus olhos brilharam. E nesta Quarta-feira fui até à repartição de educação do município, falei com a chefe do distrito, que gostou da ideia e parabenizou pela iniciativa”, contou. Com este gesto, Anabela Domingos Francisco acredita que irá despertar às entidades de direito sobre a necessidade do funcionamento de uma biblioteca nas escolas, ainda que de pequeno porte, assim como aos cidadãos da necessidade de contribuir. “Quando se fala dos professores do ensino primário, quase que são banalizados, mas nos esquecemos que este nível é a base. E, quando se vê uma professora desta, devemos, sim, apostar. Acredito que ela é a mais jovem da instituição, dos três períodos, com esta iniciativa para a sociedade”, realçou.

Alunos expectantes

Sabendo da possibilidade do funcionamento de uma biblioteca na escola, onde possam aguçar os seus conhecimentos e facilitar a realização de trabalhos de pesquisa, os pequeninos estão expectantes e aguardam ansiosos pela sua inauguração. Chélsia Patrícia Duarte Jorge, aluna da 5ª classe, mostrou que a idade não impede a obtenção de conhecimentos. Por isso, acredita que o espaço irá ajudar na pesquisa de dados, para a conclusão dos trabalhos orientados pelos professores, “e a descobrir coisas que ainda não conhecemos e vamos aprender com o tempo”. “Quando a professora orienta trabalhos para desenvolver, tenho tido dificuldades, porque nem sempre a Internet funciona.

Às vezes vamos ao Cyber, que, também, nem sempre tem a possibilidade de nos atender”, disse a aluna. Ciente de que o seu pedido vai ser correspondido pelos encarregados de educação, os cidadãos no geral, incentivou a colaboração de todos, com a doação de livros, independentemente do género, como de história, drama, ficção científica, entre outros materiais, que considera que serão bem recebidos e vai contribuir para o aprendizado dos alunos. O estudante Pedro da Costa da Cruz disse que pela falta deste espaço na escola, também tem frequentado o Cyber para a realização de trabalhos, mas tem como preferência as bibliotecas, por considerar que oferecem obras com diferentes temas, para melhor aprendizado. Jefreson Alexandré Campos que, apesar da idade, mostrou saber da importância de uma biblioteca nas instituições escolares, apelou ao Ministério da Educação e o das Tecnologias para que o facto se concretize em todas as escolas, e assim garantir um futuro promissor.