Empreendedores atendem clamores do cego da Funda

Empreendedores atendem clamores do cego da Funda

Depois de ter dado mais um grito de socorro por causa da fome, que ele e a sua família estavam a passar, durante a semana passada, o invisual António Alberto ganhou uma quantidade de comida que poderá garantir para si e para a sua família algumas refeições durante os meses de Maio e Junho, segundo os cálculos feitos por ele próprio

Um equipa de empreendedores liderada pelo engenheiro agrícola, Adérito Costa, engendrou um plano de emergência para acudir os clamores do cego da Funda, António Alberto, ao ponto de, no princípio da noite do Sábado, 08, ter começado por doar uma cesta básica alimentar à família do invisual. “Essa foi uma intervenção rápida, porque a questão levantada teve a ver com o facto de o beneficiário ter deixado de ter pelo menos uma refeição. Soubemos com muita tristeza que essa e outras carências levou-o a perder a filha de três anos, há coisa de dois meses e meio”, lamentou Adérito Costa.

O engenheiro agrónomo adiantou que a sua entrada em cena nessa causa se deve também ao facto de ter sabido, a partir dos depoimentos que António foi prestando a este Jornal, segundo os quais ele possuía uma lavra e estava com dificuldades de reactivar a produção, por falta de uma electrobomba funcional.

“Gostei de saber que o maior desejo do António não é estar sempre a receber comida ou dinheiro das pessoas que se disponibilizam a ajudá-lo, mas ver a sua lavra a produzir sobretudo a rama e a gimboa, que lhe rendiam alguma sustentabilidade”, declarou o entrevistado.

Nesse que considera o primeiro de muitos apoios, o benfeitor ofereceu, em nome de um elenco que conta com sete empreendedores, um saco de arroz e outro de farinha de milho (fuba) de 25 quilogramas cada, dez de sal, cinco litros de óleo vegetal e uma barra de sabão, além de algum dinheiro, que a equipa de reportagem de O PAÍS não conseguiu divisar.

Segundo a recomendação que o engenheiro deu ao cego da Funda, esses valores monetários são para adquirir outros componentes alimentares que possam completar os ingredientes para garantir qualquer refeição básica.

A oferta avaliada em cerca de 50 mil Kwanzas surpreendeu e agradou o invisual da Funda, que, antes de ouvir do engenheiro a designação e a quantidade dos produtos trazidos, soube do seu guia e parente, Zacarias.

Emocionado, António Alberto, agradeceu o gesto, pedindo a Deus que abençoasse os empreendedores que pensaram em si e na sua família. Sobre a morte da sua filha, António replicou algumas vozes que se levantaram alegando ter havido negligência por parte da família, tendo realçado que, na altura do estado crítico, lhes terá faltado apenas 2 ou 5 mil kwanzas para que a miúda se alimentasse regularmente, antes de contrair as doenças que lhe custaram a vida.

“Peço ainda ao engenheiro Adérito que, como agricultor, me ajude a superar a pequena electrobomba que tenho na lavra que exploro, até porque me doaram uns recipientes de sementes de tomate, cenoura e cebola, mas não estou a conseguir semeá-los”, suplicou o cego da Funda, adiantando que precisa de voltar a lavoura, numa altura em que a estação chuvosa já está ao fim.

Lama impede chegar à casa do cego

Era grande o desejo dos integrantes da caravana de apoio ao cego da Funda chegar à casa deste. Mas o estado lamacento em que se encontrava o bairro Camicuto não deu aos apoiantes grandes alternativas para atingir os aposentos do beneficiado.

Depois de terem chegado às 18h:13, o líder da equipa dos empreendedores ainda se dispôs a enfrentar a lama da rua de António Alberto, resultantes de uma chuva acabada de cair. Entretanto, depois de percorrer quase 40 metros da estrada asfaltada para o subúrbio que fica do lado oposto à da entrada da conhecida Estação do ANGO-SAT, o seu Mitsubish- Pajero não foi capaz de superar o terreno lamacento.

Nessa altura, a casa do cego da Funda ainda estava a mais de 25 minutos da velocidade mínima de um veículo automóvel.

A doação ocorreu mesmo na entrada da rua, para onde os empreendedores tiveram de regressar, para encontrar um lugar seco que impossibilitasse molhar os sacos de alimentos. Os produtos foram carregados à cabeça de alguns vizinhos que se prontificaram em auxiliar na tarefa de fazê-los chegar à casa de António.

Importa referir que a doação ocorreu no período da noite, porque a viagem da comitiva ficou condicionada pelo mau estado da via, sobretudo do desvio da via expressa Viana-Cacuaco até à vila da Funda.