Jazzista propõe introdução de manifestações culturais nas cadeiras curriculares

A necessidade de introdução de cadeiras curriculares nas academias, sobre as manifestações culturais artísticas, oriundas de África, é o que propõe o jazzista e diplomata cultural, Nuno Mingas

No rescaldo das comemorações do Dia Internacional do Jazz, assinalado a 30 do mês transacto, o Jornal OPAÍS conversou com o também investigador cultural, Nuno Mingas, que defendeu a importância da investigação da música e outros patrimónios ligados às artes, que foram levados para fora do continente berço e hoje são tidos como pertença destes. “É preciso que nós levemos o Jazz e todas as outras manifestações artísticas para a academia, para os currículos escolares. É preciso que o Jazz faça parte da nossa história curricular académica, para que os miúdos percebam as origens deste género musical”, apontou.

Nuno Mingas sustentou ser importante que as pessoas tenham o conhecimento que o Jazz passou por diferentes períodos, se se mergulhar na história cronológica deste estilo musical. Nesta linha de raciocínio, o também professor acrescentou que quando é retratada a história do Jazz, que hoje é um estilo global, observam-se vários períodos. A título de exemplo, no período tradicional, citou Sidney Bechet, Luis Armstrong, Duke Ellington, Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan. Na era Swing constam Count Basie, Ben Goodman, Jungle e a partir do Jazz Moderno, quando nasce o B. Bop, temos Thelonious Monk, Piano, e Dizzy Gillespie, Tompette. “Depois vamos para o Jazz Fusion, onde encontramos Rock Miles Davis, Chico Coreia, atenção que Milles Davids, até agora, foi quem mais vendeu na história do Jazz, com 50 milhões de discos vendidos, do álbum “Kind of blues”, enfatizou.

Denominação alterada

Nuno Mingas desmistificou ainda que, em virtude da falta de estudos sobre o género, houve uma alteração pejorativa na denominação do estilo, que nos dias actuais é chamado de Jazz. Realçou que “a palavra Jazz foi criada pelo ocidente, como forma de se separar a música ‘branca da negra’, o nome certo para o estilo seria Black Classic Music.”. Entretanto, explicou que alguns, como Miles David, não aceitavam ser chamados de Jazz man, diziam que eram fazedores de música negra clássica. Que nos anos 40 e 60, quando o termo Jazz man começou a se popularizar, foi na intenção de separar a música negra da branca, por causa do período gravíssimo da segregação racial, palavras que também foram produzidas em termos de colonialismo. “Por isso, é preciso termos atenção, hoje, na contemporaneidade, sobre estes tipos de expressões”, aferiu.

O artista

Nuno Mingas, natural de Luanda, nasceu no bairro Alvalade, em Abril de 1980. É cantor desde os 15 anos, quando criou a banda “The NIRS band”, com o irmão Ricardo Faria e o amigo Nuno Martinho. De 2015 a 2019 participou activamente nos projectos da III Trienal de Luanda, em Angola, e em Portugal. Em Julho de 2016 actuou na Casa da Música no Porto, em Portugal. É jazzista, professor, investigador e diplomata cultural.

Valdimiro Graciano