Chuva, uma bênção (des)necessária, na capital de luxuoso lixo

Chuva, uma bênção (des)necessária, na capital de luxuoso lixo

Ouve-se, frequentemente, algumas pessoas – crentes ou descrentes, mas, sobretudo os crentes – a afirmarem e reafirmarem: a chuva é uma bênção! Só não aclaram nas suas afirmações se essa bênção, que dizem ser a chuva, é necessária ou desnecessária. Se nos perguntarmos o que é a chuva, certamente, encontraremos uma convergência ampla entre as respostas, como por exemplo, uma bênção de Deus. Porém, a questão que não se quer calar é: não seria a chuva uma bênção (des)necessária na capital de luxuoso lixo? Se para uns a chuva é motivo de regozijo, para outros é motivo de tristeza.

Quando chove, o camponês explode o coração de júbilo, o operário, porém, vê-se em apuros, pois, as suas obras ver-se-ão fiscalizadas pelas chuvas. A chuva faz o alimento no campo brotar, mas também desabriga números incontáveis de cidadãos esquecidos e/ou abandonados pelo sistema. Vivemos em bairros descartáveis, onde há falta de tudo e mais alguma coisa, que uma chuvinha já é motivo de amaldiçoarmos quem quer que seja, por conta dos estragos causados por ela nos bairros de latas! Mas aqui não são só os bairros que gemem, até as famosas centralidades estão em caos, todas inundadas pelas águas da abençoada chuva (des)necessária; as vias, projectadas às pressas, sem esgotos, repletam-se de forma abundante pelas águas das chuvas.

A chuva dá a vida, mas também a mata. Se no Sul de Angola ora-se, jejua-se e clama-se para que São Pedro abra as comportas dos céus, nós por cá, na capital de luxo e lixo, oramos para que a chuva não caia, pois, quando isso acontece, prontos, a desgraça do povo rico que vive na insufuciência das suas riquezas geme que geme! A chuva é justa, não desabriga apenas os que vivem em zonas de riscos, sem outras escolhas, porque aqui os donos dos apartamentos, em quase todas as centralidades, são os mesmos, mas também a chuva desvenda os segredos maléficos dos empreteiros que só têm olhos no kumbo, que não conseguem pautar por honestidade e levar a cabo uma obra de se tirar o chapéu. Awa! Aqui são todos entre eles, o que financia não fiscaliza, tudo à toa.

Não culpem a chuva pelas cheias nas estradas, congestionamentos dos automóveis, enchentes de pessoas nas paragens de táxis, nem pelo desabrigo que se verifica na capital de luxuoso lixo, após uma boa enchurrada que bate de forma imparcial, porque conhecemos os culpados! Já são grandinhos e já deveriam aprender! Angola não é o único país no mundo em que a chuva cai. A chuva é como elefante, onde um dia passou jamais esquecerá. Parece que somos tão cépticos que ignoramos quase tudo. Continuaremos a culpar a chuva? Prática de néscios!

Com o luxuoso lixo que ostentamos, na nossa luxuosa cidade vestida a lixo, parece que a chuva ajudará não só a fiscalizar as obras de construção ou requalificação das vias, mas também, claro, provará até que ponto o nosso sistema de saúde conseguirá lidar com os casos de malária, febre-amarela e tifóide que quase foram esquecidos, pois a rainha Covid-19 assumiu o trono, só ela é quem manda, todas as atenções voltadas para ela. Hoje por hoje, só se morre de Covid, outras enfermidades foram esquecidas, que situação! A chuva é uma bêncão (des)necessária, pois, prova a eficácia das obras públicas, fiscalizando-as de forma imparcial. É uma bênção (des)necessária, porque traz alegria, mas também tristeza, dá vida, mas também mata, faz brotar o alimento no campo, mas também desabriga os desprovidos que habitam em bairros descartáveis e de latas.

POR: Pedro Manaça