‘A nossa gestão no Lôvua está focada nas pessoas’

‘A nossa gestão no Lôvua está focada nas pessoas’

É o mais novo município do país. Ascendeu a esta categoria apenas em 2015, isto é, há seis anos. O município está situado na província da Lunda-Norte. Há cerca de um ano que António Mussumari é o administrador do município, nomeado pelo governador Ernesto Muangala. Além de dar continuidade aos projectos já existentes, a actual administração vai resgatando a vida dos habitantes desta localidade

O Lôvua é o município mais novo do país, comemorando agora seis anos de existência. Qual é o quadro que pode traçar em termos económico, social e político?

O Lôvua é o município mais novo de Angola, antes era comuna do município do Chitato. ascendeu a categoria de município, 06.05.2015, com a aprovação da lei 5/15 de alteração político- administrativa da Província da Lunda-Norte. Indo na questão que nos coloca, do ponto de vista económico, Lôvua é um município essencialmente agrícola, não obstante ter também diamantes. A principal actividade da população do Lôvua é a agricultura. Do ponto de vista político, o município tem representação de quatro partidos com assento parlamenta. O MPLA, UNITA, PRS e CASA-CE. Do ponto social, o município tem dois centros de saúde. Estamos a fazer contactos junto do Governo Provincial e da Fundação Brilhante, para a recuperação do antigo hospital do Lôvua. No domínio da educação, temos oito escolas do primeiro ciclo, perfazendo 43 salas e 4 salas de extensão do liceu do Dundo, com três cursos. Ciências humanas, ciências económicas e jurídicas e ciências físicas e biológicas. Ainda estão em construção 3 escolas, uma de 12 salas no âmbito do eurobons, que é o liceu do Lôvua, cuja obras estão muito avançadas. Achamos que se registrar uma melhoria nos desembolsos financeiros por que é uma obra enquadrada no financiamento de eurobonds. No presente ano lectivo foram matriculados 5.715 alunos e conta 111 professores.

Curiosamente, o senhor administrador também está prestes a completar um ano desde que chegou ao município. Que município encontrou?

Sim, de facto no próximo mês Junho, vamos completar um ano, porque fomos nomeados a 15 de Junho de 2020. O município, por ser novo e carecer de infraestruturas, teve de dar continuidade aquilo que estava a ser feito, bem como corrigimos algumas coisas. É um município em franco desenvolvimento.

O fornecimento de água, energia e a saúde são três dos problemas com que se debatem vários municípios no país. Qual é a realidade do Lôvua?

Nós temos dito desde que cá chegamos, há quase 1 ano, que a nossa gestão deve estar focada na pessoas. Isto não é retórica, é um facto. Nós melhoramos o fornecimento de água potável, na sede do município. Antes a população era abastecida duas vezes/semana, nós hoje damos água todos os dias das 5 às 17 horas, para cerca de 5 mil habitantes da sede do município. Ainda, sobre a água potável, antes do fim do mês, vamos inaugurar o sistema de água na localidade do Lumua, regedoria do Satambue, que vai beneficiar mais de 4 mil habitantes daquela localidade que nunca teve água potável desde a era colonial. No capítulo de energia eléctrica, inauguramos o sistema de iluminação pública com a colocação de 86 postos na Estrada Nacional 225, isto em cerca de dois KM. Ainda no âmbito de energia eléctrica, a administração municipal adquiriu dois grupos geradores de 200 kvas para sede município. Isto só na sede município, o projecto de iluminação pública está já na segunda fase que, se tudo correr bem, pretendemos inaugurar ainda no decorrer de 2021

Já se pode falar nos ganhos do Programa Integrado de Intervenção nos Municípios? Quais são os projectos em curso?

No âmbito do PIIM, temos 8 projectos adstritos ao município do Lôvua, o que corresponde ao valor de: 1.744 495 652,17 (Mil Milhão Setecentos e Quarenta e Quatro Milhões, Quatrocentos e Noventa e Cinco Mil, Seiscento Cinquenta e Dois e Dezessete Cêntimos). Felizmente, o Lôvua é o primeiro município da província da Lunda-Norte a inaugurar uma obra do PIIM. Inauguramos em Fevereiro uma casa T3, na sede do município, para os quadros da saúde. O Lôvua tem oito obras, no âmbito deste plano integrado de intervenção nos municípios. Aqui é realçar a visão do Camarada Presidente da República João Manuel Gonçalves Lourenço, que orientou a execução deste programa que está a mudar a vida municípios. Nós temos 8 projectos, 7 de âmbito local e 1 âmbito central. A construção de 5 residências tipo T3 já em execução, a construção de centro de saúde na localidade de Cabacumba, um projecto do saneamento básico e a construção de um complexo autárquico, que é da responsabilidade do Ministério da Administração do Território, cujoo lançamento está para breve.

Sabemos que o município foi o primeiro, em todo o país, a rescindir contratos com empreiteiros incumpridores. Até que ponto esta medida foi benéfica para os projectos em curso?

Não sei se fomos os primeiros. Mas é para realçar que esta medida foi benéfica, porque chamamos atenção para o cumprimento dos contratos e uma maior responsabilidade dos empresários. Veja que a nossa intervenção e o acompanhamento que estamos a fazer as obras do PIIM permitiu que o Lôvua fosse o primeiro município a inaugurar uma obra na Lunda-Norte. E o acompanhamento às obras do PIIM e outras em curso no município vai continuar e será permanente. Temos que fazer com que as coisas sejam bem feitas e justificar o dinheiro dos contribuintes. O dinheiro do povo tem que ser bem entregue.

Um dos grandes problemas que atravessam as províncias do Leste e Nordeste do país é o estado das estradas. Até que ponto tem encarecido as obras no município?

É fácil conseguires materiais de construção e outros bens para acudir as necessidades da edilidade? Um dos grandes constrangimentos para o desenvolvimento do País e a eliminação das assimetrias regionais são as estradas. Os acessos dificultam qualquer projecto social que se quer implantar. É difícil construir numa província que dista a cerca de 1300 km do litoral. Tudo aqui é caro. Vou te dar um exemplo: um saco de cimento no Dundo custa 5.000.00 kwanzas e o saco de fuba de milho 14.250 Kwanzas. Caro jornalista, não podemos falar em desenvolver os municípios do interior do país sem vermos o problema das estradas terciárias. Nós até pensamos que a recuperação das estradas terciárias deviam ser da responsabilidade dos municípios O executivo devia ter a coragem política de dar aos municípios a recuperação das vias, que dão acesso às aldeias e às regedorias. E depois chamar responsabilidade. Até por que estamos num tempo de maior responsabilização dos servidores públicos.

O garimpo é uma das realidades na região das Lundas. Esse fenómeno faz-se sentir também no Lôvua?

Sim. Mas é pequena escala. Mas é um fenômeno que temos combater, porque prejudica sobremaneira a nossa económica.

Como é que estão os jovens em relação à empregabilidade? Há muito desemprego?

Infelizmente, a questão do desemprego dos jovens é real. Mas estamos a criar políticas com acções de formação para o empreendedorismo. Neste momento, em parceria com Acnur, foram formados 67 jovens no ramo de empreendedorismo, serralharia, corte e costura. Por outro lado, temos que fazer com que a Administração Municipal do Lôvua não seja o maior empregador, por que não cabemos todos.

Qual é o papel que a agricultura joga na região, sabendo-se que o Lôvua tem terras aráveis e água em abundância dos rios?

O Lôvua é um município essencialmente agrícola. Há dias realizamos uma feira de produção local. Mostramos as potencialidades daquilo que o município produz. Desde a mandioca, a cana de açúcar e o arroz. A feira serviu para chamar investimentos no sector da agricultura no município. Veja, na campanha agrícola 2020/2021, desmatamos 16 hectares na Regedoria do Satambue, foram preparados e distribuímos com insumos e inputs a 30 famílias e a ex militares das forças armadas. Temos dito que a nossa gestão está virada para as pessoas. Nós, no Lôvua, estamos conscientes que só podemos combater a fome e a pobreza investindo na agricultura. A agricultura é o nosso forte, o município possui 10 fazendas,25 cooperativas, 30 associações dos camponeses e 10 escolas de Campo, só para ver.

Há muito interesse de investidores estrangeiros em investirem no município?

Qual é a participação destes na economia local? Infelizmente não. Mas aproveitamos a oportunidade que O País nos dá para convidarmos os investidores nacionais e estrangeiros, a investirem no município. O Lôvua é um município virgem.

O município do Lôvua ficou também conhecido por albergar um centro de refugiados. Quantos vivem na região e qual é a participação na vida do município?

Sim, fruto do conflito armado e tribal que ocorreu em 2017, na República Democrática do Congo, o Lôvua acolheu cerca de 33 mil cidadãos daquele pais irmão, que procuravam melhores condições de segurança. Neste momento, o Lôvua ainda alberga mais de 6 mil refugiados. Estes refugiados contribuem economicamente na vida do município, praticando a agricultura. Os produtos são vendidos até no mercado do Dundo. Aqui temos que realçar as boas relações institucionais existentes com ACNUR, que é parceira da administração, e tem ajudado as solução de problemas da população.

Sendo um município fronteiriço, já se faz sentir a imigração ilegal? O que procuram os imigrantes na região?

O Lôvua é um município tem 886 km quadrados. Faz fronteira com as províncias do Kassai e Cuango, da República Democrática do Congo. Nós temos 223 km de Fronteira com Congo, dos quais 9 km fluviais, através do rio Chicapa. Felizmente, para nós, os números de violação de fronteira , nos oito postos fronteiriços, não são alarmantes. Por exemplo, durante o primeiro trimestre de 2021 ano foram registados 1135 casos de violação de fronteira, com 768 violadores todos da RDC : destes 621 homens e 147 acompanhadas de 55 crianças de ambos sexos. Eles entram para o Lôvua, mas o destino é Lucapa, Chitato Cuango e Cambulo, municípios diamantíferos.