Serviços de take away são a “salvação” dos restaurantes em tempo de pandemia

Serviços de take away são a “salvação” dos restaurantes em tempo de pandemia

Desde o início da pandemia da Covid-19 no país, em 2020, o segmento da hotelaria e restauração continua a registar prejuízos na facturação e a desempregar funcionários. Com o agravamento das medidas para impedir o contágio, os gestores acreditam que a solução para manter os estabelecimentos em funcionamento passa por maior aposta no take away

O decreto presidencial n.º 119/21 de 8 de Março de 2021 determina que os restaurantes e similares devem funcionar até às 18 horas de forma presencial. Após este período, só funcionam com serviços de entrega e, ao fim de semana, igualmente com serviços de take away. O agravamento das medidas tem a ver com o número crescente de casos positivos e de óbitos por Covid-19. Localizado na Centralidade do Kilamba, concretamente no edifício J1, o restaurante Puro Gostinho, decorado de forma rústica, atrai dezenas de clientes idos de vários pontos de Luanda, com a confecção das famosas tábuas mistas (churrasco misto). O gerente do espaço, Paulo Estevão, disse que as novas medidas do Decreto Presidencial já começaram a surtir efeitos com a redução de clientes e baixa na facturação. “Desde que o Decreto Presidencial entrou em vigor regista-se uma fraca adesão e muitos prejuízos”, clarificou.

Há três anos no mercado, o restaurante Puro Gostinho recebia perto de 400 clientes durante o dia, antes do surgimento da pandemia da Covid-19. De lá para cá, reduziu para 50 clientes por dia. “Tivemos de distanciar e reduzir o número de mesas para evitar o contágio do vírus da Covid-19, evidentemente diminuiram os clientes. Dos 27 funcionários que os estabelecimentos empregavam, 50% tiveram de ser demitidos”, disse. No que toca ao serviço de take away, Paulo Estevão reconhece ser a nova solução para os restaurantes, principalmente nos finais de semana, que se regista maior solicitação das famosas tábuas mistas. “Durante o final de semana, conseguimos atender 400 pedidos de take away”, disse. Segundo o gerente, a principal dificuldade é gerir os funcionários e encontrar pessoas qualificadas para uma área específica.

No mesmo quarteirão, encontrámos o restaurante GEP, que é muito atractivo pela confecção de comida internacional. Com uma decoração clássica, tem sido o destino de muitas pessoas que procuram atendimento de qualidade. Para a gerente do GEP, Maria Amorim, o sector da hotelaria, desde o início da pandemia, continua a registar perdas significativas e a levar muita gente para o desemprego. “Tínhamos 24 funcionários. Na época em que o decreto determinava a abertura dos restaurantes até às 20 horas, despedimos 4 trabalhadores e, nesta semana, mais 4 funcionários”, explicou. Na sua opinião, o horário estabelecido vai dificultar o funcionamento dos restaurantes, pelo facto de as pessoas estarem a trabalhar durante o dia e o movimento no local começar a partir das 18 horas, período no qual foi proibido o atendimento presencial.

No segmento de serviço de take away, apesar de ser o novo modelo para a restauração, após o encerramento do atendimento presidencial, Maria Amorim acredita que não compensa o suficiente para liquidar as despesas de energia eléctrica, água potável, renda do estabelecimento, produtos alimentares, impostos e o salário dos funcionários. “Caso a situação se mantenha e as medidas se agravem, corremos o risco de fechar o restaurante. O sector da hotelaria e restauração é o mais prejudicado, temos visto os autocarros a transportar passageiros mais do que a capacidade permitida, as escolas estão a funcionar, os mercados, igualmente, não cumprem as medidas de distanciamento”, disse. Maria Amorim contou que sempre cumpriu com os horários estalecidos pelos Decretos Presidenciais, diferente de outros estabelecimentos incumpridores que têm prejudicado o sector. “Sentimo-nos injustiçados quando cumprimos com as medidas e, mesmo assim, estamos a ser penalizados”, justificou.

Para a responsável, era preferível o encerramento dos estabelecimentos durante a semana e abertura dos espaços no final de semana. Inaugurado em Novembro de 2019, o restaurante Puro Tempero conta com uma decoração moderna e chama a atenção pelas pinturas de cores fortes, como o laranja, que dá a sensação de acolhimento aos clientes. No Puro Tempero, o gerente Paulo Martins disse que as medidas do último Decreto Presidencial vão prejudicar os restaurantes, principalmente naquela zona habitacional da Centralidade do Kilamba, pelo facto de grande parte dos moradores chegar por volta das 19 horas, altura em que os espaços já devem estar encerrados, segundo as novas instruções anti-Covid- 9 em vigor no país. Paulo Martins referiu que o Puro Tempero dava emprego a 20 funcionários, divididos em dois turnos. No entanto, com a fraca adesão de clientes, 50% dos trabalhadores foram dispensados. “A Centralidade do Kilamba é um dormitório, porque a maior parte dos moradores trabalha no centro da cidade e chega no final do dia.

É no final de semana que muitos restaurantes têm movimento e está proibido o atendimento presencial”, disse. Paulo Martins argumenta que os gastos de energia electrica e água não têm retorno durante a semana porque não há clientes suficientes para cobrir as despesas. Já o gerente do restaurante Casa de Rodízio, Adolfo Ganga, disse acreditar que os restaurantes vão perder muito com as novas medidas do Decreto Presidencial, porque começam a receber o seu público a partir das 18 horas, pelo facto de ser o período pós-laboral. Em termos de facturação e a gama de clientes, os restaurantes estarão prejudicados. A funcionar há seis meses, o restaurante Casa de Rodízio, na Centralidade do Kilamba, tem registado uma gama de clientes satisfatória de Quinta-feira a Domingo. “Aos Sábados e Domingos eram os dias em que as famílias vinham almoçar e tínhamos uma fracturação acima da média”, contou. Para o gerente, são necessárias medidas que ajudem os gestores a continuarem a trabalhar para ajudar no crescimento do país.

Por sua vez, o gerente da explanada Grill, no Talatona, Fabiano Neves, lembrou que, antes da pandemia do Coronavírus, os restaurantes funcionavam até às 22 horas. Passado algum tempo, as medidas agravaram e os restaurantes passaram a encerrar às 20 horas. Na última semana, o decreto determinou o encerramento dos estabelecimentos até às 18 de forma presencial. “A nossa missão é trabalhar para a divulgação de serviços de take away com pratos executivos rápidos e pizzas”, disse. O responsável referiu que o serviço presencial é muito requisitado e ainda se deparam com inúmeras dificuldades com os serviços de take away, desde o pagamento à entrega ao cliente. O grupo Grill conta com duas lojas, nomeadamente explanada Grill no shopping do Bellas e explanada Grill Express que confecciona pratos prontos na Ilha de Luanda.

Sobre o mesmo assunto, o gerente do restaurante Gula Gula, Joaquim Carlos, referiu que existe uma fraca adesão de clientes desde a saído do novo Decreto Presidencial, mas trata-se de uma questão de saúde. Por esse motivo, há necessidade de se investir mais no modelo de take away, apesar da redução dos lucros. No seu entender, o sector mais prejudicado com as medidas de combate à pandemia tem sido o da hotelaria e restauração, porque é um segmento que depende de fornecedores, e muitos deixaram de abastecer os restaurantes por causa da cerca sanitária. Por essa razão, estão a comprar os produtos alimentares mais caros, ressaltando o que levou o aumento do preço do buffet para Kz 13 mil e 400, contra os 10 mil e 600 anterior. “Desde Segunda-feira que estamos a sentir o impacto das medidas. Anteriormente, recebíamos 120 pessoas, agora reduzimos para 50 pessoas durante o dia e, após as 18 horas, já não há clientes”, disse.

O presidente da Associação dos Hotéis e Resorts de Angola, Jorge Nunes, aplaude as medidas do Executivo, que determina que os restaurantes e similares devem funcionar até às 18 horas de forma presencial e o final de semana com serviços de take away. “É necessário tomar algumas decisões, apesar de não serem fáceis. As medidas são necessárias e são uma tentativa de o Governo, de modo a controlar o vírus e impedir que o país vivencie um estado de calamidade como acontece na Índia”, argumentou. Lembrou ainda que as medidas estão a ser implementadas pelo agravamento dos casos positivos de Covid-19, fundamentalmente na província de Luanda. Para o responsável da Plataforma Hotéis Angola, os restaurantes e similares devem participar para reduzir os casos de Covid-19. Segundo ele, muitas unidades estão a cumprir as medidas de higiene e segurança para evitar a propagação da Covid-19. Mas os casos continuam a aumentar e Luanda é o principal centro problemático do país, pelo facto de ser a província mais populosa. “É preciso criar condições para evitar o contágio em massa nos próximos dias, não?”, disse.

A violação das medidas do Decreto Presidencial dá direito à multa que varia entre 350 mil a 450 mil Kwanzas

De acordo com o Decreto Presidencial n.º 119/21 de 8 de Março de 2021, de Segunda a Sexta-feira, os restaurantes devem abrir entre à 6h 00 e as 18 horas para o atendimento presencial e take away, e entrega ao domicílio até às 22 horas. Aos Sábados e Domingos, os restaurantes devem ficar encerrados para o atendimento presencial, sendo o atendimento realizado através de take away e entrega ao domicílio, igualmente, até às 22 horas. Nas demais províncias, os restaurantes podem abrir entre as 6:00 e as 20 horas para o atendimento no local e são permitidos os serviços de take away, e entrega ao domicílio até às 22 horas.

Sem prejuízo de outras regras específicas, o funcionamento dos restaurantes obedecem à ocupação dos estabelecimentos que não deve exceder 50% da sua capacidade, limite máximo de quatro pessoas por mesa; proibição de atendimentos ao balcão, devendo todos os atendimentos serem feitos por mesa; proibição de serviços de alimentação em regime self service; observância das regras de biossegurança e do distanciamento físico entre os clientes, sendo expressamente proibido o uso de pistas de danças nos restaurantes e similares. A violação dos dispostos nos números anteriores dá lugar a uma multa que varia entre Kz 350 mil e Kz 450 mil. Por outro lado, sempre que as forças da ordem e segurança tenham conhecimento de infracções ao disposto no novo decreto, devem determinar o encerramento temporário do estabelecimento, por um período de 30 a 40 dias, calculados em função da gravidade da infracção.