Marcas fonológicas do português angolano

Marcas fonológicas do português angolano

Angola é um país, a par de outros, que não fala o português tal como Portugal, embora consagre na sua Constituição da República, carta magna do Estado, no artigo 19 nº 1, o português como sendo a sua língua oficial. E por esta razão, há um grupo de angolanos que tenta a todo custo pronunciar as palavras como se de lusitanos se tratasse. Uma vez que, não se fala uma única língua, portanto, dever-se-ia fazer uma análise do som produzido pelos angolanos, quer na situação de comunicação formal, quer na situação de comunicação informal.

Ao longo do texto, questiona-se: Será que é possível falar de lusofonia em Angola, onde o português que se fala nessa circunscrição e a forma de produção fónica é diferente de Portugal? Assim, a lusofonia resulta da conjugação de duas palavras: uma que se reporta a Luso – sinónimo de lusitano/Lusitânia, ou seja, português/Portugal; e a fonia que provém do grego e refere-se à língua oral. Todavia, parece ser um espaço linguístico-cultural que se afirma ao nível político-institucional através da CPLP. Neste caso, só se torna um país lusófono aquele que fala tal como os lusitanos/portugueses. Por outro lado, Silva e Sacanene (2011) definem bantufonia como sendo o processo pelo qual a língua portuguesa falada em Angola passa a ter uma especificidade por influência das línguas bantu.

Pretende-se apresentar as marcas fonológicas da variante do português angolano. Esta reflexão afigura-se importante por duas razões: primeiro, o país clama pela necessidade de se oficializar a variante do português angolano, com maior urgência, no sistema de ensino; segundo, no âmbito da ciência da linguística, as informações sobre a natureza e as propriedades fonéticas e fonológicas da Variante do Português Angolano, no geral, são escassas. De modo a representar o sistema real fonológico do português angolano, apresentaremos algumas palavras para a devida análise, olhando sobretudo para o sistema vocálico.

Representação fonológica da variedade angolana• Administração /àdiministrásãu/

• Obrigado /òbrigádu/

• Como /kómu/ •

Beleza /bèléza/

• Presidente /prézideti/

• Atropelar /àtrópélár/

• Empobrecer /epóbrècér/

• Mala/málà/

• Desgosto /désgóstu/

• Morar /mórár/

• Namorar /nàmórár/

• Jogar /jógár/

• Falar /fálár/

• Casa/kázà/

Com base nos exemplos acima, podemos perceber o seguinte: (I) A realização fonológica é híbrida, ou seja, usa-se os dois sistemas – lusófono e bantúfono. (II) A vogal O somente é fechada na posição final na língua portuguesa e não nas línguas bantu. (III) Há maior probabilidade em abrir as vogais fechadas. (IV) A vogal A na posição inicial, embora não pertencendo nem sendo sílaba tónica, é semiaberta. (V) as línguas bantu são tonais e não têm sílabas tónicas e átonas. Ora, o que se percebe nos exemplos acima, temos palavras com mais de uma sílaba tónica.

O que para língua portuguesa seria um erro. Pelo facto de a variante do português falado em Angola ser uma mistura, por causa do contacto entre o português e as línguas angolanas de origem africana, então, seria mais simpático reconhecer a existência e oficialização do português angolano. Uma língua não é homogénea para todas as terras onde é falada, se o centro da massificação desta língua for a sociedade. Assim sendo, existem vários factores que concorrem para a sua heterogeneidade, por exemplo, o lugar e o tempo. Assim sendo, a língua como um sistema aberto vai sofrendo alteração ao longo dos tempos.

POR: António Kutema