É de hoje…Silêncio cúmplice

É de hoje…Silêncio cúmplice

Conheci o Raúl Danda nas lides jornalísticas, embora as relações à distância existissem quando integrava a Tendência de Reflexão Democrática. Foi só após o seu retorno à UNITA que acabamos por cruzar mais, sendo que numa destas circunstâncias uma das entrevistas me iria valer – no tempo da outra senhora- enormes constrangimentos, ultrapassados depois de vários rabiscos e explicações.

Nos últimos anos, sempre que julgasse necessário, ligava para contrariar qualquer ideia de que discordasse e disponível para comparecer, como o fez no programa Politikativa, na altura nas vestes de vice-presidente da UNITA.

Conheci também Demóstenes Amós Chilingutila. A maior recordação que tivemos, em comum, foi no dia em que o então Presidente do Gana, Jerry Rawlings, acabou por jantar no mesmo restaurante em que nos encontramos em Windhoek, na Namíbia.

Os dois fazem parte de um grupo de responsáveis da UNITA falecidos nos últimos tempos, facto este que tem sido aproveitado para se construir uma narrativa em torno não só das circunstâncias como o levantamento de suspeições que começam a ganhar contornos perigosos.

Por mais que se admita que a morte é uma certeza para todos, em África, particularmente, aceitála é sempre difícil, havendo em muitas sociedades a necessidade de se imputar a alguém. Nem mesmo as maleitas de que alguns padecem, anunciada até a companheiros de trincheira ou solicitações para viagens em busca de tratamento, chegam para confortar interesses ou argumentos de quem pretende encontrar culpados.

Quando há dias se levantou, através do grupo parlamentar da UNITA, em sede do parlamento, a tese de que “alguns dos seus companheiros tinham receios de se dirigirem aos hospitais, razão pela qual preferiam morrer em casa”, pensei ter havido algum mal-entendido.

Infelizmente, na conferência do Dia 25 de Maio, em que foram mencionados os nomes de alguns falecidos, o mesmo grupo parlamentar reforçou: “Neste ambiente de medo, terrorismo de Estado e afirmação de um novo poder auto-crático muitos angolanos não fazem confiança nas instituições de saúde, por isso, preferem morrer em casa a ficarem à mercê dos comités de especialidade de médicos e enfermeiros do regime”.

Terão as suas razões? Talvez, mas, tratando-se de uma acusação extremamente grave, que coloca em causa todo o sistema de saúde, em particular a classe dos médicos, enfermeiros e outros quadros do sector, estranha-me o silêncio quase sepulcral das organizações do sector, como a Ordem dos Médicos de Angola, liderada por Elisa Gaspar, o Sindicato de Médicos, de Adriano Manuel, e a própria Ordem dos Enfermeiros de Angola em relação a esta situação.

O empenho de muitos dos profissionais que se vêem representados por estes órgãos exige algum pronunciamento, a julgar pela gravidade das acusações e o estado de opinião que se procura criar.

É preciso não esquecer, sequer, que fruto dos acordos de paz, muitos enfermeiros e outros quadros do sector da Saúde saíram da própria UNITA, que hoje lança suspeições, e até teve um dos mais destacados ministros: Sebastião Sapuile Veloso.